04 setembro 2006




Caso dos sanguessugas leva crise e suspeitas ao ninho tucano

O deputado Paulo Feijó (RJ), que saiu recentemente do PSDB após ter seu nome envolvido com o caso das ambulâncias superfaturadas, afirmou que o presidente do PSDB, Tasso Jereissati --dono de várias empresas no Ceará-- não escaparia ileso se fosse alvo de uma CPI. Ao mesmo tempo, outro tucano ilustre, o senador Antero Paes de Barros (MT) chafurda cada vez mais no lamaçal que se formou no Congresso após as ações da Polícia Federal contra a máfia dos sanguessugas.

O deputado Paulo Feijó (RJ) surpreendeu os próprios assessores com o discurso feito hoje no plenário da Câmara. Acusado de integrar a Máfia dos Sanguessugas, o deputado se desligou do PSDB para não sofrer processo de expulsão sumária. Agora, ataca o presidente do partido, Tasso Jereissati (CE).

"Que moral ele tem para pedir a minha expulsão. Abram uma CPI contra as empresas dele e vê se ele resiste. Eu pedi o meu desligamento do partido porque não ia dar o gosto a esses pilantras que queriam me expulsar".

Em entrevista a Felipe Recondo, repórter do Blog do Noblat, disse que o partido é hipócrita ao criticar o caixa-dois do PT: "Essa hipocrisia da política com relação a caixa-dois tem que acabar. Todos os 513 deputados, os 81 senadores e todos que estão em campanha se envolvem com o caixa-dois", afirmou.

Antero cada vez mais enrolado

A situação de Feijó dentro do PSDB tornou-se insustentável depois que os caciques do partido passaram a ameaçá-lo de expulsão. Tratamento bem diferente ao que está sendo dispoensado a um dos mais ilustres caciques tucanos, o senador Antero Paes de Barros (MT), igualmente envolvido com a máfia das sanguessugas.

Uma reportagem publicada no último domingo pelo jornal Folha de S.Paulo revela que o senador Antero Paes de Barros (PSDB), candidato ao governo de Mato Grosso, negociou a liberação de emendas para ambulâncias vendidas por empresas do grupo Planam. A matéria "Senador do PSDB negociou emenda para ambulância" comprova ainda que duas cidades beneficiadas por emendas do senador foram contempladas com ambulâncias do grupo.

De acordo com o jornal, Antero Paes de Barros tratou da liberação das emendas diretamente com o Ministério da Saúde, na gestão do também tucano José Serra – hoje candidato ao governo de São Paulo. Segundo a Folha, documentos obtidos pela reportagem "complicam a defesa do senador na CPI dos Sanguessugas, incluído na lista dos investigados após o empresário Luiz Antonio Vedoin, da Planam, acusá-lo de participar do esquema".

O deputado Fernando Ferro (PE), vice-líder da bancada petista na Câmara, disse que a reportagem desfaz a postura moralista de parlamentares da oposição. "O cinismo de alguns parlamentares, que ficam fazendo discurso falso moralista e acusador, vai se desnudando quando se descobre que esse tipo de gente, na verdade, participou de todo esse processo ilícito. O senador Antero Paes de Barros vem querer dar lição de moral, imaginando que vai ficar impune. Mas agora isso confirma que a vida dele não é nenhum exemplo para ele assumir essa postura de inquisidor", disse.

Ainda segundo Fernando Ferro, a matéria da Folha demonstra que a origem do esquema das sanguessugas começou na gestão tucana. "Essa fraude tem raízes no governo Fernando Henrique Cardoso. O DNA do PSDB está no esquema, e a investigação vai terminar mostrando isso", afirmou.

De acordo com o jornal, em 2000, a bancada de Mato Grosso incluiu no Orçamento da União emenda coletiva dos parlamentares do estado no valor de R$ 3 milhões para a compra de ambulâncias. Na ocasião, o coordenador da bancada era o deputado Pedro Henry (PP), apontado por Vedoin como um dos colaboradores da quadrilha.

A Folha revela que, naquele ano, Henry enviou para o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Barjas Negri, "braço direito de Serra", ofício com a indicação feita por cada um dos parlamentares da bancada. "Antero escolheu três municípios, com R$ 80 mil para cada um. A cidade de Dom Aquino foi uma das agraciadas. A licitação foi vencida pela Santa Maria (empresa de fachada da quadrilha), com a venda do veículo tendo sido fechada em 19 de abril de 2001, ao preço de R$ 79.950", informou a Folha.

Ainda de acordo com a reportagem, um mês antes, Antero e outros dez parlamentares de Mato Grosso haviam escolhido Lino Rossi (PP) como novo encarregado de indicar os municípios a serem contemplados por uma segunda emenda da bancada, inicialmente de R$ 5,6 milhões. "A decisão foi comunicada ao então ministro José Serra em ofício enviado em 9 daquele mês. Além de Antero, cinco signatários da carta foram denunciados ou investigados pela CPI: Celcita Pinheiro (PFL), Pedro Henry, Ricarte Freitas (PTB), Wellington Fagundes (PL) e Teté Bezerra (PMDB), além de Lino Rossi", publicou o jornal.

Em entrevista à revista Veja, Vedoin disse que havia um acordo para a liberação das emendas da bancada, que somavam R$ 3,8 milhões. "Antero apresentou R$ 400 mil, e tínhamos de dar R$ 40 mil de comissão. Ele pediu para passarmos o dinheiro diretamente para o (deputado) Lino Rossi [PP-MT], que, naquele tempo, era do mesmo partido que ele (PSDB). Todos ali tinham consciência do que estava fazendo", disse Vedoin.

Segundo a Folha, Rossi encaminhou para Barjas Negri um ofício com as indicações dos municípios escolhidos pelos parlamentares, também com a destinação de R$ 80 mil para cada cidade. "Antero selecionou quatro. Entre as quais, Nossa Senhora do Livramento. Dois meses depois, em 25 de julho, Antero enviou ofício ao secretário-executivo da Saúde reforçando o pedido de liberação do dinheiro a Nossa Senhora do Livramento. Assim como no caso de Dom Aquino, a Santa Maria venceu a concorrência em Nossa Senhora do Livramento, com a venda concretizada em 15/8/2002", publicou o jornal.

Fonte: Blog do Noblat

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