05 novembro 2006

Os dez menos


Passada a eleição, resolvi organizar uma lista com personagens de proa do cenário nacional e fiz uma breve reflexão sobre as perspectivas de cada uma delas. Neste artigo, apresento as 10 figuras que se deram mal. Começo com Geraldo Alckmin e a fecho com Severino Cavalcanti.

Maurício Thuswohl

Inspirado pela análise de Flávio Aguiar publicada aqui na Carta Maior, sobre quais setores saem ganhando e quais saem perdendo após o veredicto das urnas, comecei a fazer um “exercício analítico” sobre o tema. Elaborei uma lista com 30 figuras de proa do cenário político nacional e acrescentei ao lado de cada nome brevíssimos comentários sobre quais são, na minha humilde opinião, suas perspectivas políticas num futuro imediato. Concentrei meu foco em quadros políticos que atuam em âmbito nacional, deixando de lado nomes importantes e que saem fortalecidos das urnas, mas têm alcance (ao menos por enquanto) apenas regional.

Após a análise, feita propositalmente de “bate-pronto”, meus personagens foram divididos em três grupos: os que certamente se deram bem, os que nitidamente se deram mal e, para finalizar, aqueles que só poderão ser definidos como vitoriosos ou derrotados com o desenrolar do processo político. Vamos à lista, começando pelas dez figuras que se deram mal, o que é sempre mais divertido:

Geraldo Alckmin – O seu futuro político dependia de um “tudo ou nada” nessas eleições e ele perdeu. A grande imprensa e alguns membros do PSDB querem vender a idéia de que Alckmin saiu fortalecido da disputa, mas ele terá dificuldades políticas e eleitorais nos próximos anos. No âmbito interno, será difícil cavar um lugar de (efetivo) dirigente nacional tucano, já que o partido estará cindido pela disputa entre José Serra e Aécio Neves. Em termos eleitorais, sobrou a prefeitura de São Paulo em 2008, mas ainda assim é preciso convencer o parceiro PFL a largar um de seus últimos ossos. Ou, quem sabe, a prefeitura de Pindamonhangaba...

Fernando Henrique Cardoso – Foi um presidente sofrível, mas está se superando como ex-presidente. Durante a campanha, foi escondido pelo PSDB e, quando quis aparecer, teve uma lamentável postura udenista, recheada de denuncismo e insinuações de golpe. Parece agora ainda mais ressentido com a vitória de Lula e espantou de vez a postura de estadista ao afirmar que “os 40% que votaram contra têm que se preparar para a próxima eleição”. No futuro, terá que enfrentar cada vez mais as comparações com o governo de seu sucessor. Se Lula acertar o passo no segundo mandato, FHC estará fadado a ser lembrado como o que de fato foi: um presidente que governou para os ricos.

Jorge Bornhausen – Queria acabar com a raça dos petistas, mas quem quase acabou exterminado foi o seu PFL, que elegeu um só governador. Sem apoio popular em Santa Catarina, sequer foi candidato. Certamente contava com a derrocada de Lula e sua ida para o governo do aliado PSDB, mas agora ficou na pista. Expoente da direita odiosa que pregou o golpe com a ajuda de parte da imprensa, Bornhausen ficou falando sozinho, sem respaldo na sociedade. Deve ser substituído por lideranças mais jovens no PFL e desaparecer aos poucos do cenário político nacional.

Antônio Carlos Magalhães – Sua linda derrota na Bahia foi o resultado eleitoral de maior valor simbólico depois da vitória de Lula. Representante máximo do coronelismo que um dia imperou no Brasil, ACM perdeu força de maneira irrecuperável. Não é carta fora do baralho, está claro, mas jamais vai recuperar o poder e o prestígio que teve durante a ditadura militar e os governos de Collor e FHC. Aclamado um dia como “um dos donos do Brasil”, ACM agora só é dono mesmo do próprio mandato e do mandato do neto.

Tasso Jereissati – Aliado ao PFL e sua fúria para voltar ao poder, encarnou a figura do golpista no PSDB e talvez isso lhe custe até mesmo a presidência do partido, já que insiste na tese do “terceiro turno”. Além da perda decorrente de sua postura na campanha, o “galeguinho dos óio azul” também perdeu na política do Ceará, onde viu sua base ser definitivamente conquistada pelos irmãos Ciro e Cid Gomes. Se o PSDB caminhar para uma aposta em Serra em 2010, Tasso periga parar no PFL, de quem parece gostar tanto.

Michel Temer – O presidente do PMDB passou os últimos quatro anos apostando na ruptura definitiva do partido com Lula e se deu mal. Teve também desempenho sofrível nas urnas (quase não se elegeu), o que deve garantir a sua saída da presidência do partido no futuro próximo. Para completar, foi de Temer a “idéia genial” de fazer um encontro para selar a aliança entre Alckmin e Anthony Garotinho no segundo turno, gesto definido pelo aliado Cesar Maia como “o beijo da morte” na candidatura do tucano.

Anthony Garotinho – O ex-governador do Rio de Janeiro está em queda livre. Perdeu as eleições municipais de 2004, teve sua candidatura à Presidência barrada pelo PMDB este ano e ficou sem espaço político próprio para os próximos anos. Com a vitória de Sérgio Cabral Filho para o Governo do Rio, Garotinho é exemplo perfeito de alguém que “ganhou, mas saiu perdendo” nessas eleições, pois o aliado já ensaia um rompimento. Suas apostas imediatas mais ambiciosas estão na eleição da esposa, a governadora Rosinha Matheus, para a prefeitura de Campos em 2008. Quer se candidato a presidente em 2010, mas terá que escolher um outro partido e corre o risco de murchar de vez durante o processo.

Roberto Freire – Sem rumo político, fantasma perdido no limbo entre o comunismo e neoliberalismo. É assim que sai das urnas em 2006 o outrora quadro da esquerda. Para quem um dia militou ao lado do velho e (quase sempre) bom PCB, é triste ver consolidada a destruição que Freire levou adiante no “Partidão”. Outro que joga no time dos ressentidos com Lula, terá que se esforçar muito para encontrar espaço político daqui pra frente, tanto em Brasília quanto em Pernambuco. O PPS não se diluiu no PSDB, como diziam alguns, mas é capaz de Freire ainda decidir virar tucano por contra própria.

Marco Aurélio de Mello – Teve atuação indigna com a posição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral. No primeiro turno, perdeu algumas oportunidades de preservar o silêncio e só faltou declarar voto em Alckmin. Sua discutível performance realçou o caráter conservador da cúpula do Poder Judiciário no Brasil. Mello não é político nem tem o futuro ameaçado, mas certamente não contribuiu para o engrandecimento da imagem da Justiça Eleitoral nessas e nas próximas eleições.

Severino Cavalcanti – Símbolo de um tipo de parlamentar que o povo começa a punir politicamente no Brasil, Severino recebeu um sonoro não em sua própria terra e foi derrotado nas urnas. Para quem, até outro dia, estava na presidência da Câmara e se dizia “um dos cabras mais poderosos da República”, o tombo foi feio. Sua derrota representa a derrota de todos os outros parlamentares sanguessugas, vampiros, etc, que também foram reprovados pelo povo.

Esses foram os primeiros dez personagens do meu “exercício analítico”. Apresentarei a lista das dez figuras de proa da política nacional que se deram bem nessas eleições, assim como dos dez que têm sua posição indefinida, num segundo texto.

Maurício Thuswohl é editor de Meio Ambiente e correspondente da Carta Maior no Rio de Janeiro.

Fonte: Carta Maior

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