07 junho 2006

Há que condenar - Há que refletir.

(Perguntinhas impertinentes).


“...todos pretos
ou quase pretos
ou quase brancos quase pretos
de tão pobres
e pobres são como podres
e todos sabem
como se tratam os pretos"

(Gilberto Gil e Caetano Veloso, “Haiti”).

Há que condenar o ocorrido na Câmara dos Deputados ontem. Por uma “mística” coincidência, no dia 6/6/6, o temido “Dia da Besta”.
Há que ser condenado como se condena toda espécie de violência. Há que condenar toda violência contra a vida. Há que condenar toda violência contra o Patrimônio de uma Nação.
Há que ser condenado, como se há de condenar toda e qualquer iniciativa que coloque em risco o processo de conquista e construção de uma verdadeira Democracia no Brasil.
Comprovada a intencionalidade, os responsáveis devem ser punidos nas formas previstas em Lei.
A impunidade é uma das tragédias brasileiras, a sociedade não pode continuar muda, se fazendo de surda, diante de quaisquer desmandos.
No caso do ato desse “dia da besta”, as entidades devem agir de forma contundente com seus militantes que estiverem dentre as lideranças. O Partido dos Trabalhadores deve, imediatamente, dentro dos procedimentos previstos em seus estatutos, instaurar processo de expulsão do dirigente envolvido.
Há que condenar.
Há que refletir.
O que mais atenta contra a Democracia? 500 militantes invadindo a Câmara dos Deputados, ou 500 parlamentares suspeitos de crimes das mais diferentes espécies?
O que mais atenta contra o Patrimônio de uma Nação? 500 militantes invadindo a Câmara dos Deputados no “dia da besta”, ou 500 anos de “besteiras” e insensibilidade com os problemas de milhões de famílias?
O que entendemos por Democracia? A formalidade de uma eleição a cada quatro anos? Ou a real participação do povo na solução de seus problemas?
O que entendemos por Patrimônio de uma Nação? Prédios públicos? Ou as vidas, a inteligência, a capacidade de trabalho, os deveres e os direitos de todo o seu Povo?
DEMOCRACIA, LIBERDADE, DIGNIDADE – são Patrimônio de um Povo?
Diante da cruel realidade brasileira, qual a atitude mais democrática?
Empurrar nossos “pretos, ou quase pretos ou quase brancos quase pretos” para os guetos e favelas, como se fazem desde o império?
“Virar para o lado”, “tapar o nariz”, tentar acreditar que os “pretos, ou quase pretos ou quase brancos quase pretos” vão ficar calados e resignados em seus guetos e favelas? Que nunca vão se manifestar? Que vão aceitar
comportadamente a insensibilidade e a ignorância secular de seus direitos?
Cuidar de “salvar o nosso” e aprofundar as perversas desigualdades? ? ? ?
O que ocorreu na Câmara dos Deputados é, sem a menor dúvida, condenável.
Entretanto seria imperdoável deixar de refletir sobre as razões desse episódio e compreender que, muito mais que a forma equivocada de protesto, o que coloca em risco nosso processo de construção de uma verdadeira Democracia são a insensibilidade e a impunidade.

Delman Ferreira

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