05 dezembro 2013

Carta a uma doce amiga do face


Por: Sergio Ricardo

EU VI

Vocês nem eram nascidos e eu já militava sem partido na canção de protesto e pude experimentar a admiração e a inveja pela coragem daqueles jovens que partiam para as guerrilhas por amor à nossa pátria arriscando suas vidas pela causa da liberdade de nosso povo. Felizmente não fui influenciado pelo holocausto advindo do AI-5 que neutralizou atavicamente a hombridade e a coragem das vossas gerações, e nisto incluo até meus filhos, por não sentirem na pele e no interior de seu ser o que fora a opção de partir sem garantia de volta com vida dos atalhos da salvação de seus semelhantes. A honradez dessas pessoas que foram torturadas, muitas até a morte, não é a de personagens de novelas que ficaram no imaginário burlesco de heróis fabricados, facilmente descartáveis nos vossos computadores. Eram de carne e osso, com muita moral, minha amiga. Mas tanta que me vem lágrimas aos olhos só de lembrar. Eu mesmo, com toda coragem que vocês me imputam, pelos atos e fatos de minha vida, sentia-me um covarde por não seguir sua trilha, tamanho era o risco. A honradez daquelas pessoas não se esmaga com as gracinhas e displicência com que bananas se arvoram a contestar. Nas minhas contas de valores eles têm até direito e crédito até para seguirem tortos caminhos. Pela falsa acusação de desacertos em sua volta e pela revolta causada pela menopausa precoce das gerações que se seguiram de entreguistas, fofoqueiros de imprensa deletéria, de uma cultura estéril e sem caráter, eles já mereceriam cem anos de perdão. Tenho pena da maldição que herdastes, da qual tão poucos escaparam e vivem à margem como mendigos a erguer aquela chama que arde em seus corações e mentes a cata de restabelecer o verdadeiro caminho do pais, subjugado, tristonhamente jogado contra os muros impenetráveis de um sistema prestes a explodir o planeta. Não se dando conta do teatro que estão representando, estas gerações mergulhadas no surrealismo fantástico, flutuam no vazio do vale tudo, desde que impere o descompromisso com as soluções verdadeiras, entregues à elucubrações pseudo-modernas de ismos e istas importados de um mundo caduco mergulhado no caos. Cadê os valentes de hoje? Os líderes transformadores, o pensamento revolucionário? Nos aviões carregados de cocaína? Pois muito bem. Daqueles heróis sobraram poucos lutando contra a manipulação das oligarquias que fazem o que querem deles e de nós. Dentre eles Genoino e Dirceu, mais valentes do que qualquer um de nós. E sua luta permanece a mesma. Se aqui ou ali imagina-se que tergiversassem, foi em função da estratégia de conquista de meios políticos que os levassem ao mesmo fim de sempre. Só cego não vê que seu fim continua o mesmo: A NOSSA SALVAÇÃO. O nosso benefício. Uma álgebra complicada, sutil e invisível, não a aritmética primária que anda na cabeça de infinitos detratores, verdadeiras maria-vai-com-as-outras, entregando de bandeja seu próprio pais e pisoteando o sangue de nossos heróis. Maiores que seus próprios partidos, que todos os demais partidos de esquerda ou direita. Como sobrevivente dos anos de chumbo, dou-me o direito e vejo-me na obrigação de alertá-los para a sandice do apoio à condenação de Genoino e Dirceu, presos sem provas condenados por uma justiça condenável. Heróis de guerra não se vendem por qualquer tostões, nem por todo dinheiro do mundo, sobre os quais pisotearam durante as manobras das guerrilhas com sua coragem e bravura dispensando a nossa assinatura numa nota promissória moral cujo valor seria supinamente maior do que lhes é cobrado sem provas. Se é para traduzir em miúdos, os cofres públicos lhe devem uma fortuna muito superior, pelo risco de suas vidas, perto do que lhes é cobrado, SEM PROVAS. O que os olhos não vêem o coração não sente. EU VI. 

Um beijo, querida.

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