11 dezembro 2008

Para manter a sanidade

Para manter a sanidade


Luis Fernando Verissimo

Há uma maneira de você escapar do noticiário catastrófico do dia. Não por alienação ou insensibilidade, mas para manter a sanidade. Faça o seguinte: procure, no jornal ou na Internet, a notícia mais inconseqüente, ridícula, ou bizarra que puder encontrar e concentre-se nela. Tem que ser algo que desminta a gravidade geral do momento e mostre que, por pior que esteja a situação, ainda poderemos ser salvos pela bobagem.

Há dias li, já não me lembro onde, que um carregamento de seios postiços a caminho da Austrália tinha desaparecido. Não posso descrever minha alegria ao ler a notícia. Abandonei, imediatamente, toda preocupação com desastres naturais e econômicos e me entreguei a especulações sobre o fato insólito, ou, no caso, fofo. A notícia não trazia muitos detalhes. Aparentemente, tinham perdido contato com um navio carregado com 120 mil seios postiços – ou 60 mil pares, não sei. A localização do navio quando desaparecera não era revelada. Se fosse no Oceano Índico – especulei alegremente –, a explicação podia ser um ataque de piratas da Somália, que teriam ocupado o navio, aberto os seus porões, mergulhado de ponta-cabeça na carga, gritando “Alá seja louvado!” e, no momento, discutiam o valor do seio postiço no mercado para cobrar o resgate.

O navio poderia ter naufragado, o que imediatamente sugeria a imagem de 120 mil seios boiando no oceano. Piloto de avião de busca para base: “Acho que localizei destroços do naufrágio, boiando sugestivamente na superfície. Câmbio”. Náufrago abandonado na proverbial ilha deserta vê seios e mais seios chegarem à praia, olha para o céu, abre os braços e grita “Que parte do meu pedido você não entendeu, Senhor?!”.

Mas o maior mistério de todos era: o que 120 mil seios postiços iam fazer na Austrália? Neste ponto deixei de me divertir com a notícia. Tive uma visão pungente de 60 mil travestis australianos esperando, inutilmente, no porto.

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