06 setembro 2006


Em Manari, moradores votam esperando que dinheiro federal continue a chegar


Manari (PE) - Agricultor José Adalberto da Silva espera em fila para receber dinheiro do Bolsa Família em posto credenciado. Transferência de renda permite que ele continue trabalhando no campo.
Manari (Pernambuco) - Sete e meia da manhã da última segunda-feira. A fila já está formada há pelo menos três horas. O agricultor José Dimas da Silva, 22 anos, saiu do sítio onde mora, na zona rural de Manari (PE), às 3h da madrugada.

Em pouco mais de uma hora de bicicleta, chegou à cidade para, mais tarde, pegar a senha número 1 e receber os R$ 50 a que tem direito este mês por meio do programa federal Bolsa Família.

Como acontece com vários outros agricultores de Manari, a lógica de José Dimas é simples: acordar o mais cedo possível para voltar para casa o mais cedo possível, de preferência antes que o sol esteja muito forte.

Às 8h, os funcionários do Posto de Medicamentos Nova Vida, agente credenciado pela Caixa Econômica Federal, começam a pagar os benefícios. A essa altura, já são mais de 50 pessoas na fila. "E hoje está fraco. O normal é chegar ao limite diário de atendimento, de 100 pessoas", conta a proprietária da farmácia, Cícera Maria de Oliveira.

O povo da fila é silencioso, olha desconfiado o repórter que chega, pergunta pra que é a "pesquisa". Com um pouco de conversa, um ou outro começa a falar dos desejos e dos medos que vão às urnas em outubro.

"Olha, o povo fala às vezes que pode acabar essa ajuda do governo", diz João Miguel da Silva. "Antigamente, a gente não tinha mão nenhuma do governo. O meu pai conta que, quando ele vivia na fazenda, era só ele e Deus", completa Enésio Cordeiro Nascimento.

Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano 2002, estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Manari era, há quatro anos, o município com o menor Ìndice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. O IDH é uma média entre dados referentes a educação, longevidade e renda.

Recentemente, um documento do Pnud compara dados para concluir: educação e expectativa média de vida são setores em que Manari obteve melhorias, que são atribuídas ao aumento no repasse de recursos federais.

O problema ainda a resolver é mesmo a renda, cujos índices chegaram a piorar no período de seca. A propriedade média na região, segundo a prefeitura, varia de 5 a 10 hectares. Planta-se, basicamente, feijão e milho. Boa parte das famílias não dispõe de nenhum rebanho. A produtividade varia muito, ano a ano, por causa da ocorrência de secas.

O agricultor Afonso Francelino da Silva, tem cerca de 10 tarefas (com quase 4 mil metros quadrados cada) e conseguiu tirar 10 sacos de feijão na última safra. Vendeu o produto por R$ 40 o saco. Os R$ 400 obtidos são toda a renda monetária de que ele, a esposa e os dois filhos poderiam dispor ao longo de um ano inteiro.

Os R$ 80 do Bolsa Família que eles recebem, então, correspondem a quase 50 sacos de feijão por ano a mais na renda da família – cinco vezes o que ele teria sem o auxílio.

Hoje, segundo a prefeitura da cidade, 2,5 mil pessoas recebem o Bolsa Família no município, que tem cerca de 14 mil habitantes. É o dinheiro que ajuda a manter, trabalhando na terra, gente como José Adalberto da Silva, 20 anos, um agricultor da nova geração.

Enquanto tantos colegas mais velhos da fila na farmácia ainda são analfabetos, Adalberto está terminando este ano o ensino médio, em uma telessala.

"Mesmo com essas ajudas que tem aqui, se lá em São Paulo tem um parente que ajuda a achar alguma coisa melhorzinha, ainda tem gente que vai embora", conta ele. "Eu, pelo menos, até aqui não tive vontade. Enquanto der de ficar aqui, não saio não. Ganhar R$ 100 aqui é melhor que R$ 300 lá, porque não tem que pagar aluguel, nem ônibus..."

Adalberto é casado, tem um filho e mora no sítio com os parentes. Freqüentando a escola, tem aprendido coisa nova inclusive para o trabalho na roça. Uma palestra recente foi sobre a melhor maneira de arar a terra: "Se você ara em linha reta, faz um caminho que ajuda a chuva a correr, daí leva a vitamina toda da terra". O currículo escolar, pensa ele, tem brechas: "Queria muito aprender a trabalhar com o gado, coisas de veterinária. Mas, até agora, não aprendi nada sobre isso."

Fonte: Agência Brasil

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