17 julho 2008

Esse Paulo Anselmo Amorim que senta praça no tal PIG

Esse Paulo Anselmo Amorim que senta praça no tal PIG


Por Mauro Carrara


Como sou moço de idade, ingressando nos 70, talvez me envolva menos poesia e mais ceticismo.

Talvez por ser bi, não bissexual, mas bi-nacional, tenha eu lido mais sobre Gramsci, especialmente transcrições de seus discursos educativos para os partigiani das comunicações.

Segundo ele, nenhum poder autoritário mantém-se apenas por meio do apoio da imprensa tradicional; mas por uma confluência de estratégias que incluem a infiltração e a sabotagem.

Daí, para os jovens, convém lembrar do Cabo Anselmo, aquele empedernido líder do protesto dos marinheiros, evento que marcou a deposição de João Goulart, em 1.964.

Expulso da Marinha, o tal foi preso, escapuliu e virou "guerrilheiro". Foi detido novamente e, logo, revelou-se no ofício de "agente duplo". Anselmo atraiu ex-parceiros da resistência e conduziu-os às armadilhas montadas pelos aparelhos de repressão. Não poucos foram torturados e assassinados.

Como um fantasma, Anselmo morreu e desmorreu várias vezes, depois de consumada sua sina de traidor.

Por isso, desperta atenção quando um engomado brilhantinado tão afeito às mordomias globais converte-se, do dia para a noite, em açodado crítico da tetuda mãe que o amamentou durante anos.

Há na esquerda, sempre carente de afetos, o desejo de satisfazer-se na concordância, especialmente daqueles que supostamente viraram casaca.

Esse apetite pela adesão tem como efeito colateral a cegueira.

Ora, como não desconfiar do chulo bravateiro de um engravatado antes notado pela disciplina janota?

Difícil crer no divórcio entre opinião política e afinidade amistosa, posto que se sabe quem freqüenta a mesa de Paulo Anselmo...

Ah, e como acreditar no dromo-labor do dito cujo, capaz de levantar fatos, dados, opiniões e até defuntos num piscar de olhos?

A indagação tripla é: age com quem, para quem e por quanto?

Inteligente, sabe que as coisas vivas são as coisas nomeadas. Por isso, carimbou na estrutura monopolista de mídia a sigla PIG. Agora, do ponto de vista sígnico, qual a justiça da sigla?

O tal partido não é da imprensa, mas de certa rancorosa elite brasileira. A imprensa é seu meio, e nela faz veicular sua mensagem.

Assim como a imprensa, em si, não é golpista. Trata-se de ferramenta do golpe permanente, engendrado pela já conhecida fraternidade de ladrões de colarinho branco, empresários, especuladores, latifundiários, militares aloprados, parlamentares oportunistas, "filósofos" tucano-democratas e, é claro, barões da imprensa.

Logicamente, ao atribuir o golpe à lavra da mídia, Paulo Anselmo exclui da vigilância os verdadeiros arquitetos da permanente ação golpista. Está constituída sua patranha cínica.

Certo amigo, também de alva barba, assevera que PAA ganhou contrato do governo de cima, convencido de que necessitava de uma contrafação do tal PIG. Não renovado o acerto, PAA teria concretizado a ameaça de retaliação.

Adianto: não acredito.

Depois de pesquisar por anos as entranhas da máfia italiana e os negócios obscuros de Berlusca, retomo a trilha que conduz a Gramsci.

Na construção de seu discurso, PAA agora adota o paradigma do golpismo de 2.005: "Se a Abin sabia, Lula sabia".

E na desfaçatez de cáften, afirma que o tal juiz "ama o Brasil". Ora, se não é para salientar que o Presidente o "desama".

Segundo PAA, o presidente tem medo. E teria medo porque seria devedor, assim como a ministra Dilma. Bem longe, lá no fundo, largou-se a infância e a juventude da quadrilha de Dantas, vividas no governo do professor-doutor.

Abaixo, segue o libelo golpista de PAA, datado de 17/07/2.008:


. A ABIN é o órgão máximo de inteligência a serviço do Presidente da República.

. Se a ABIN sabia, o Presidente que tem medo, Luiz Inácio Lula da Silva, também sabia.

. E, se o Presidente que tem medo sabia e não tomou as providências para facilitar o trabalho do Delegado Queiroz, e coibir as ações de boicote de Luiz Fernando Corrêa, o Presidente que tem medo prevaricou.

. Se o Presidente que tem medo sabia, e mandou o BNDES e o Banco do Brasil abrirem os cofres para pagar o cala-a-boca de US$ 1 bilhão a Daniel Dantas, o Presidente que tem medo prevaricou.

. Não é à toa que o Presidente que tem medo diz que vai mas não vai: se ele quer que o Delegado Queiroz continue no caso é só mandar.

. Ou não é ele quem manda ?

PAA esforça-se por pintar de heroísmos as aventuras de um delegado certamente capaz, mas insubordinado, SEQUIOSO por fazer vítimas no governo federal.

Depois, assegura que Lula "prevaricou", parola comum nos discursos pró-impeachment, ouvida demais no processo do mensalão e no movimento Cansei.

Por fim, para desacreditar o supremo mandatário, duvida da autoridade do presidente. Segundo PAA, basta Lula mandar que o delegado será forçado a reassumir o caso. O novo cabo ergue-se da plataforma da democracia moderna para exigir de Lula o destrambelhamento de um Henrique VIII.

Ululante é o desejo de atiçar o presidente ao abuso pirotecnico do poder, o que certamente forneceria pretexto e munição para o tal PIG e para a fraternidade golpista. No dia seguinte, Lula seria pintado como um Chavez tupinica e construir-se-ia o cenário para mais um golpe.

Que essas evidências, tão claras e cristalinas, sejam observadas pela jovem esquerda brasileira e também pelos democratas autênticos. Afinal, Silvério dos Reis obra todos os dias.

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