08 janeiro 2007

Agenda positiva


Sidnei Liberal

Bom seria se o decantado espírito natalino e os bons augúrios desse início de ano pudessem contaminar os meios de comunicação para que eles levassem ao povo brasileiro predominantemente as mensagens de esperança contidas em muitos fatos positivos, pouco repercutidos na grande imprensa. Dessa forma, haveria uma correspondência dos fatos noticiados com o perfil de recente levantamento realizado pelo Datafolha sobre o sentimento desse mesmo povo quanto à sua expectativa de felicidade. Nossa pretensão parece uma tarefa difícil uma vez que a própria Folha de São Paulo não se interessou muito pelo resultado de sua pesquisa. Talvez porque a candidatura oficial a reeleição fosse pegar carona como beneficiária dos resultados, o que, evidentemente, contrariava o interesse político do jornal.

A pesquisa revelou, por exemplo, que aproximadamente 8 brasileiros, em cada 10, consideram-se felizes, 1 não sabe definir bem seu sentimento de felicidade e outro, apenas 1, declara-se infeliz. Parece justo supor que entre esses últimos esteja a própria mídia, tal o tamanho do seu mau-humor refletido em má-vontade na divulgação de notícias com alto astral. Ao leitor e ouvinte mais atento foi possível garimpar fatos positivos importantes em meio ao cipoal de estrondeantes notícias a respeito de inoportunas pretensões pecuniárias de desacreditados parlamentares, sobre a movimentação do banditismo urbano no Rio e a respeito de homéricas trapalhadas no setor aeroviário. Abramos a agenda positiva.

Na última quinzena do ano, o Brasil ganhou Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas que vai turbinar quase todo o segmento empreendedor brasileiro desse porte pela via da minimização da burocracia e do volume dos impostos, estimulando a criação de mais empregos. Os trabalhadores também ganharam um novo mínimo. A vigorar em 1º de abril, o valor de 380 reais, acordado pelos setores interessados, consolidará um aumento real de quase 33% nos últimos cinco anos. Benefício direto para mais de 40 milhões de trabalhadores brasileiros. Indireto para muitos outros. No mesmo embalo, as centrais sindicais fecharam acordo com o Governo para que a tabela do imposto de renda fosse reajustada, já em 2007, em 4,6%. No acordo, a elaboração de uma tabela de reajuste que será resultado do PIB e a inflação do período.

No dia 21, a multinacional Aracruz – cuja única atividade no Brasil é dependente da monocultura de eucaliptos, que produz graves e irreparáveis danos ao meio ambiente – foi condenada por causar, desta vez, danos morais coletivos. A empresa publicou material difamatório contra indígenas brasileiros, em sua página eletrônica e em outdoors espalhados na cidade de Aracruz, de caráter abusivo, distorcido e capcioso, estimulando ações de racismo. Vitória da Justiça contra o crime. No dia anterior, a Comissão de Trabalho da Câmara Federal aprovara projeto de fixação da jornada de ferroviários e metroviários. Embora tardia importante vitória da categoria. Pena que a mídia não anda de metrô.

Aprovadas a medida provisória que estabelece incentivos para o esporte e a que define novas regras para os alimentos transgênicos. Em comissão da Câmara, aprovado o PLC 105/06, importante instrumento de celeridade para os processos trabalhistas. Muito mais: promulgado o Fundeb, que vai garantir e ampliar os investimentos na educação básica, no ensino fundamental e creches. No Senado, aprovação do projeto de lei que atualiza mecanismos de isenção fiscal da Lei Rouanet e cria o Fundo Setorial do Audiovisual. A medida redefine regras para o incentivo cultural e injeta até 40 milhões de reais a mais no setor. E ainda permitirá às distribuidoras brasileiras independentes acesso aos mesmos mecanismos de financiamento que hoje só são acessíveis distribuidoras internacionais.

Nesses dias, foi lançado com sucesso o foguete russo que transportou o telescópio espacial Corot, um projeto francês com participação do Brasil e de outros países, que vai operar por 30 meses tentando achar planetas pequenos e rochosos, semelhantes ao planeta Terra, fora do Sistema Solar. É o Brasil participando dos novos descobrimentos e da tecnologia de ponta. Já no âmbito da euforia patrocinada pela virada do ano pôde-se comemorar o menor risco-país da história e recordes, também históricos, na bolsa de valores, na poupança do país em moeda internacional, na relação dívida/PIB e no saldo da balança comercial. Nesta área, o nível da inflação é a mais significativa e emblemática conquista dos brasileiros neste ano.

Além disso, dados IBGE, divulgados dia 20, mostram que as desigualdades sociais no Brasil estão diminuindo: enquanto o rendimento dos 10% mais ricos era 21,2 vezes maior que o rendimento dos 40% mais pobres em 1995, em 2005, essa relação passou para 15,8 vezes. Mais: entre 2004 e 2005, houve uma evolução positiva na renda do trabalhador, que subiu 4,6%. Some-se, ainda, o índice criado por pesquisadores do BNDES que une ranking da ONU ao de sustentabilidade e nosso país passa da 54ª para a 39ª posição em desenvolvimento sustentável. Em outra ponta, o Ministério da Cultura comemora aporte de recursos da Petrobras, triplicado para 2007, com destinações prioritárias aos editais de segmentos indígenas e negros e restaurações de patrimônios culturais. Não esqueçamos de que a cultura produz riquezas econômicas e bem-estar que giram em torno de 10% das riquezas brasileiras.

Em meio à pesquisa realizada pelo Datafolha, dia 13 de dezembro, em que a amostragem populacional concede ao atual presidente a melhor avaliação entre os ocupantes do cargo nos últimos 50 anos, há uma forte manifestação de expectativa positiva para o próximo mandato: 59% esperam que o governo seja ótimo/bom. Há razões técnicas para o otimismo: foram criados os pressupostos econômicos, principalmente de blindagem contra os fatores externos, para o destravamento desejado. No entanto, há uma profunda discordância desse sentimento com o que apregoam aqueles que se dizem formadores de opinião. É incorreto comparar nosso crescimento com o da Índia ou da China, muito menos do Haiti, pois não sabemos como, para crescer, eles tratam o meio-ambiente em suas estruturas de produção e não conhecemos seus padrões de justiça social. E sabemos pouco sobre o nível de satisfação dos seus trabalhadores.

É, portanto, a expectativa e a crença num desempenho melhor da nossa economia, com a responsabilidade e a garantia da busca permanente da diminuição do fosso social, que semeia uma forte coloração de otimismo na maioria do nosso povo. Não desejamos a nossa mídia fora da trincheira de cobrança de uma agenda positiva que permita o impulso prometido. Ela, entretanto, não tem o menor direito de esconder o sentimento positivo que vem das ruas.

(Com informações de: Agência DIAP, Folha de São Paulo, Notícias UOL, Valor Online, Agência Carta Maior).

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