13 dezembro 2006

Comentário Sobre matéria da FSP


Prezado Marcelo Beraba e demais jornalistas,

Na Folha de S. Paulo, edição de domingo, dia 10 de dezembro, lê-se o título A ética do PT, uma retranca da matéria assinada pelo repórter Fábio Zanini (PT evita apurar e punir seus desvios éticos). Logo abaixo, surge a nota Sanguessugas, na qual se lê que "O PT pediu informações informalmente aos envolvidos, entre eles a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), e se deu por satisfeita (sic)". Nunca fui filiado ao PT, tampouco a outro partido político, mas fui assessor da então deputada estadual Serys Slhessarenko entre 2000 e 2002. Hoje, resido em Porto Alegre (RS), de modo que nunca tive vínculo com seu mandato de senadora. Não perderia meu tempo em defender gente sabidamente desonesta.

Escrevi outras vezes, no auge de seu linchamento público, acusando que confiava na inocência da parlamantar até que prova surgisse em contrário. Ou seja, eu apenas reproduzi a lei, mas, em verdade, sentia que essa declaração só cabia na boca de assessores otimistas, ou de defensores cegos. Bem, o fato é que a prova não apareceu até hoje. Também apontei que, quando ela provasse sua inocência, invertendo o ônus que todos conhecemos, a notícia repercutiria com cheiro de pizza.

Já apontei, portanto, erros na cobertura (que não foram corrigidos, isto é, não foram publicados) e outros excessos (segundo gentil resposta que recebi do ombudsman, eram críticas pertinentes, que seriam levadas a escalões superiores do jornal). Vamos a algumas novas considerações:

1) Preliminarmente, gostaria de registrar curiosa seletividade da Folha de S. Paulo. Vejamos o caso das sanguessugas. Existem 72 parlamentares citados no relatório parcial da CPMI das Ambulâncias. Desse total, apenas dois (2,77%) são do PT. Há 84 parlamentares investigados pelo Supremo Tribunal Federal e apenas um (1,19%) é do PT. A senadora Serys Slhessarenko foi absolvida do juízo político e nunca esteve indiciada pelo STF. O jornal não noticia "A ética do PMDB", "A ética do PFL", "A ética do PP" ou "A ética do PL", mas todas essas siglas tiveram mais parlamentares envolvidos no mesmo escândalo, sem expulsões. E é justamente uma parlamentar que foi absolvida do juízo político, e jamais foi investigada pelo STF, a entrar na conta da tal "Ética do PT". Decerto, porque o partido evita apurar e punir o desvio ético da senadora.

2) Não faço a mais pálida idéia do que vem ser a ética do PT, tampouco como funciona seu tribunal ético. Sei, contudo, que existem outras informações públicas sobre a senadora. Entre elas, está sua absolvição no Conselho de Ética do Senado, sendo que o relator do processo é da oposição, Paulo Otávio (PFL). O STF não a investiga e isso também é público. Na Folha de S. Paulo, pelo que li até hoje, o não-indiciamento da senadora é uma "divergência" e "as investigações ainda não foram concluídas". Ou seja, ela não está indiciada: é uma divergência. Mas ela pode vir a ser indiciada a qualquer momento, porque as investigações prosseguem. Sublinho que o procurador da República Mário Lúcio Avelar, o juiz federal Jefferson Schneider, o procurador-geral Antônio Fernando de Souza e o ministro do STF Gilmar Mendes leram os depoimentos da famiglia Vedoin, publicados e repisados pela Folha de S. Paulo e outros veículos de comunicação. Os operadores do Direito decidiram não investigá-la. Para o tribunal ético da Folha, isso não basta. É preciso, pois, mencionar "A ética do PT" no caso da senadora.

3) O "I" de uma CPI (ou CPMI) refere-se a inquérito. Como pode um inquérito prescindir de diligência para apurar as alegações da defesa? Pois foi isso que aconteceu na CPMI das Ambulâncias. É ético um tribunal de exceção? A senadora apresentou defesa prévia, mas o relator da comissão, Amir Lando (PMDB), afirma ter elaborado seu relatório parcial sem ler a defesa que foi pedida (e entregue dentro do prazo estabelecido pela comissão). Ao atirar todos na vala comum, sem direito de defesa, o juízo político contribuiu enormemente para que eventuais culpados, com provas documentais a complicá-los, tenham o mesmo tratamento de eventuais inocentes junto à opinião pública. Esta Folha, pelo que se depreende de sua cobertura, endossa esse proceder. O jornal, na minha avaliação, não publicou a contento a defesa apresentada pela parlamentar - ainda mais se compararmos ao destaque e recorrência com que as acusações apareceram em suas páginas. Podemos chamar isso de "A Ética da Folha de S. Paulo"?

4) Quem reduziu a uma "divergência" a ausência da senadora entre os indiciados do STF foi o petista Antônio Carlos Biscaia. Decerto, ele integra a parte ética do PT. Ele é um promotor de Justiça licenciado. A reportagem da Folha, que decerto é igualmente ética, aspou essa declaração. A Folha já questionou, com rigor, o absurdo que é realizar um inquérito sem ouvir a defesa? Cadê o absurdo dessa "divergência" reconhecida por Biscaia e publicada pela Folha? Ora, ele também disse que, da parte dele, estava "convencido do envolvimento dos três senadores". Onde foi parar o convencimento do Biscaia? Onde está esta matéria? Engraçado como uma colunista desta Folha, aquela cuja ética autoriza roubar documentos porque informações não caem do céu, ficou antenada com o tratamento "mata, esfola" dos pilotos do Legacy. Políticos brasileiros, especialmente os do PT, podem ser acusados de crime. Se forem inocentes, a Folha questionará "A Ética do PT". Políticos são pessas públicas e a imprensa é livre para publicar acusação de crime sanguessuga contra eles, sem se importar em ser justa, ou correta. Assim, a Folha constrói uma realidade mais justa e ética para os seus leitores.

5) Vedoin, um bandido cujas afirmações eram verdade bíblica até o episódio do dossiê, acusa ter pago 35 mil reais em espécie ao genro da senadora, para, supostamente, quitar uma dívida de campanha de Serys. O bandido não tem prova, embora tudo da Planam seja muito bem documentado. Existem planilhas comprometedoras apreendidas pela Polícia Federal (FSP, 17 de maio), onde se lê que havia emenda "monitorada" e sua liberação era acompanhada "passo-a-passo". Luiz Antônio Vedoin, que tem no ex-petista Valdebran Padilha (esse foi expulso, mas isso não faz parte da "Ética do PT") um homem de confiança, no depoimento de delação premiada, entrega documentos. Quando começa a citar parlametares, a primeira da longa lista é a senadora Serys Slhessarenko. Nada menos que 57 parlamantares, vários de MT, são imediatamente indiciados. Serys, a primeira citada por Vedoin, não foi indiciada. O genro nega ter recebido a propina, mas confirma ter feito negócio com a Planam. O genro entrega um cheque recebido da subsidiária da Planam, que a famiglia Vedoin não sabia qual era, como ficou claro na acareação. Serys entrega os sigilos bancário, telefônico e fiscal. Nada é encontrado contra a senadora.

6) No dia 18 de setembro, três dias após a prisão dos aloprados no hotel Íbis, a Folha ouve Serys. Título? Senadora nega envolvimento com detidos. Ou seja, no título, ela faz o que todos fazem: nega. Lá no final da matéria, lê-se que ela alega que o petista Valdebran deve ter raiva dela. O jornal informa, num pé de matéria, e sem repercussão, que ela alega ter impedido, por duas vezes, a indicação do aloprado para um cargo na Eletronorte. O que o jornal investigou dessa alegação? Engraçado, que a Folha já repercutiu as ligações telefônicas entre o deputado petista Carlos Abicalil, o candidato a prefeito Alexandre Cesar, também do PT de Mato Grosso, e os aloprados. O jornal é rápido em reverberar acusações e não gosta de publicar quando acusações tratadas como verdade bíblica se revelaram falsas. O jornal parece não saber que existe prova documental da chantagem feita por Valdebran a um assessor da senadora, muito antes da Operação Sanguessuga. O jornal não faz questão de publicar o que pode inocentar uma parlamentar honesta. Pior: cita a senadora num quadrinho da suposta "ética do PT". Francamente, é de enojar. Não tenho outra palavra. Se tiver estômago, leia o próximo tópico.

7) Serys é parlamantar há 20 anos. Nunca recebeu jeton, já devolveu aos cofres públicos cerca de 350 mil reais em valores corrigidos. Somente em janeiro de 2006, foram 30 mil reais devolvidos - e não doados para uma compra dissimuilada de votos, como fazem alguns parlamentares éticos. Seu patrimônio, avaliado em cerca de 200 mil reais, inclui apenas uma casa e um carro. Ela não recebe aposentadoria especial de parlamentar, embora tenha direito a esse provento, que ela sempre considerou imoral, tal como o jeton. Muito antes do assunto ser moda, ela apresentou projeto de lei que proibia a contratação de parentes. Portanto, em seu gabinete, JAMAIS houve um único parente contratado. Isso era público em Mato Grosso - mas nunca foi publicado pela Folha de S. Paulo, porque história de vida não conta se a pauta é "A ética do PT". Nem pai, nem filho, nem genro, nem cunhada, não havia parentes no gabinete da deputada Serys. Nunca houve. Trabalhei por dois anos lá e testemunho que não conhecia o tal do gerno que a senadora teria colocado para captar propina junto a um tal de Vedoin. Eu sequer sabia que o nome do genro era Paulo Roberto! Vedoin? Nunca ouvi falar. Jamais atendi a uma ligação telefônica desse genro que, supostamente, cobrava propina em nome da senadora. O telefone do gabinete na AL/MT era 65-613-2542; meu celular em Cuiabá era 65-9998-4294; o da minha residência era 65-626-3477. EU ME LEMBRARIA desse genro e de coisas estranhas dentro do gabinete.

Atenciosamente,

Fábio Carvalho

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