15 agosto 2008

Greenhalgh vive um inferno astral

Greenhalgh vive um inferno astral


O advogado e defensor dos militantes da esquerda e dos direitos humanos, o ex-deputado que não conseguiu reaver o mandato na última eleição para a Câmara dos Deputados, foi escrachado em jornais, revistas, rádios, televisões e blogs, pelo delegado condutor da operação Satyagraha, como um dos quadrilheiros de Daniel Dantas.
A profissão de advogado consegue ser, ao mesmo tempo, bendita e amaldiçoada. Glórias e loas àqueles de quem dependemos, quando nos garantem a vitória; repulsa e deméritos quando não evitam a derrota. Ou quando, em nome de nossos adversários, nos jogam à vala dos vencidos.

Luiz Eduardo Greenhalgh é um advogado vencedor. Mas, como vencedor, acumulou ódios de derrotados.

Militares e policiais, arapongas, torturadores, pistoleiros e fazendeiros assassinos, promotores e juízes que costumam atropelar o direito de defesa e os direitos humanos, a grande mídia e jornalistas capachos se somam às pencas a seus inimigos. Uns e outros não lhe perdoam defender e vencer as causas dos presos políticos da ditadura militar, dos metalúrgicos do ABC e de tantas outras categorias, dos religiosos, dos familiares dos desaparecidos do Araguaia e da Vala de Perus, dos militantes do MST, das vítimas do Cabo Bruno e da família de Padre Josimo, dos irmãos Canuto e de Santo Dias da Silva, do índio Galdino e dos policiais militares expulsos da PM ao tempo da ditadura por preferirem servir à dignidade e à honra que à repressão criminosa.

Acumpliciados, personagens como o deputado Bolsonaro e o chalaça da Globo e do Estadão, Arnaldo Jabor, divulgaram que Greenhalgh cobraria porcentagem de indenizações de anistiados e que teria enriquecido a suas custas, protegidos, o primeiro, pela imunidade parlamentar que ampara os covardes, e o segundo pela clandestinidade que lhe evita a citação para o processo movido contra ele e o jornal O Estado de S.Paulo. A Folha de São Paulo, derrotada por ele em processo movido pelo Presidente Lula quando ainda não o era; a TV Globo, condenada a indenizar simples trabalhador da USP que acusou de receptador; a Veja, também vencida, graças à atuação de Greenhalgh, por ter ofendido dirigente do PCdoB; a IstoÉ por difamar a CUT e dirigentes seus; toda a grande mídia aguardou impaciente o momento de lhe dar o troco amparada pela proteção estatal.
Agora, ao lado de policiais tantas vezes humilhados pelas decisões judiciais pleiteadas e obtidas por Greenhalgh contra seus atos abusivos e arbitrários, assim como de promotores de suas próprias carreiras em nome da justiça, que gastaram seus dentes em rangê-los de ódio por verem seus intentos autoritários frustrados, todos chocam suas taças em brindes comemorativos de sua articulação para derrotar seu vencedor do passado.
A calúnia está lançada. E os caluniadores estão em festa. Afirmaram, o delegado Protógenes Queiroz e seus alcoviteiros da mídia, que Greenhalgh prestou a Dantas o serviço de descobrir onde estava um inquérito escondido ilegalmente dos advogados. E que esse serviço, de descobrir os autores de ilegalidades, seria ilegal. Protógenes e seus protozoários miram Greenhalgh para atingir Gilberto Carvalho e Lula. Qualquer trecho sem sentido serve para isso, desde que venha acompanhado de uma explicação que lhe empreste sentido cabalístico, porque os leitores aceitarão que o delegado investigou e o jornalista está afirmando que Greenhalgh é criminoso.

Que o delegado Protógenes entregue à imprensa o relatório de um inquérito sob segredo de justiça, em que lhe é permitido escrever qualquer estupidez, parece absolutamente normal. Como parece normal que Greenhalgh não possa ter acesso ao mesmo inquérito, e se o tiver há de ser porque o STF estará vendido a Daniel Dantas.

Que o delegado diga que uma ligação a Gilberto Carvalho é ato criminoso ganha de toda a imprensa o rótulo de absoluta correção. Mas se ele não vê elementos suficientes para indiciar Greenhalgh, e afirma ser necessário investigar em outro inquérito, a ausência de provas é escondida sob os meneios de cabeça em concordância de seus inimigos na mídia.

Os inimigos de Greenhalgh buscam ridicularizar sua imagem; e seus antigos aliados, quando não se somam à execração, apreciam o espetáculo de longe.

Luiz Eduardo Greenhalgh está sendo derrotado por suas qualidades e defeitos. Seus inimigos lhe recriminam o advogado vencedor e o militante solidário. Porque foi como militante solidário que ele obteve as maiores vitórias e infligiu as maiores derrotas aos torturadores, aos autoritários e aos assassinos. E por isso lhes acumulou os ódios e as juras de vingança. Essa solidariedade que a infâmia dos bolsonaros e jabores não consegue compreender, porque eles próprios não seriam jamais capazes de fazer algo que não fosse pela contrapartida, motivo pelo qual um foi expulso do Exército e o outro foge dos oficiais de justiça até hoje. Essa solidariedade que é a condição de fraternidade e a qualidade maior do ser humano no dizer do Che Guevara. Essa solidariedade militante é a causa do ódio dos fascistas.
Mas, como todos, Greenhalgh é também um homem com defeitos. E eles podem ter, muitas vezes, concorrido para suas derrotas.

Greenhalgh foi o advogado do MST em memoráveis batalhas: Ao lado de outros eminentes advogados, como o saudoso ministro Evandro Lins e Silva, para ficar apenas num exemplo, acumulou vitórias ante os adversários da reforma agrária. Foi ele que postulou e obteve no STJ, por exemplo, habeas corpus em cujo acórdão se lavrou a decisão basilar de que "Movimento popular visando a implantar a reforma agrária não caracteriza crime contra o patrimônio. Configura direito coletivo, expressão da cidadania, visando a implantar programa constante da Constituição da República. A pressão popular é própria do Estado de Direito Democrático."

Contudo, suas repetidas vitórias talvez lhe tenham impedido de perceber toda a dimensão da realidade, que não se circunscreveu apenas ao espaço eleitoral e institucional.

A incapacidade de Greenhalgh de absorver sua derrota eleitoral de 2006 levou-o a atribuir ao MST a condição de seu possível algoz; não lhe permitiu ver que sua vitória de 2002 e a derrota de 2006 vieram na esteira de compromissos e seu posterior descompromisso com a campanha contra a Alca, os militantes que a implementaram e um amplo espectro de militantes mais à esquerda no espectro político.
Greenhalgh, mais que a maioria de nós, prefere os afagos às críticas. Que as críticas viessem de quem o quer - precisa que seja! - melhor, não lhe importou. Agora, Greenhalgh está sozinho.

A mão que afaga é a mesma que apedreja

Acuado pela coalizão da polícia federal, da ABIN, do ministério público e da grande mídia que se enovela para o bote, chacoalha seus guizos e deixa em antecipação escorrer seu veneno, Greenhalgh não conta com o amparo da esquerda.
Não se pode duvidar da gratidão que o MST tem para com Greenhalgh, e pelos gestos concretos de solidariedade que ele, no passado, realizou para com o Movimento. A ausência e a distância não foram decididas pelos camponeses, mas pelos gestos do próprio deputado, que os repudiou durante sua ascensão e queda.

Há quem recuse Greenhalgh por ver nele um militante do PT, partido odiado por ser o do Presidente da República;
Outros se afastam dele porque, embora do PT, não sabe se afastar de tantas forças da oposição de esquerda, que ainda defende;
E há quem sinta um recôndito prazer de ver seu nome esquartejado nos jornais porque seus gestos de solidariedade projetam uma imagem que envergonha quem não é capaz de fazer os mesmos.
O delegado Protógenes acusou e se recolheu. Demonstrou sua coragem tocando a campainha e correndo antes que o vizinho abrisse a porta. Pode vir a haver processo contra Greenhalgh, mas ouso suspeitar que não haverá. De qualquer modo ele será condenado pela voz dos difamadores, e essa condenação é irrecorrível. Já lhe sucedeu uma vez: acusado por Caiado de ter extorquido para o PT dinheiro da empresa Lubeca, Greenhalgh foi declarado inocente pelo Judiciário, que determinou fossem processados seus acusadores. Mas a mídia ocultou o fato, para seguir afirmando sempre que Greenhalgh esteve "envolvido" no caso Lubeca.
Essa palavra "envolvido", que nada significa e que tudo pode significar, a ponto de se poder dizer de um médico que esteve envolvido com a mãe de alguém, por lhe ter assistido no parto.
Luiz Eduardo Greenhalgh é um homem de defeitos e qualidades. Uns e outros lhe trouxeram o inferno astral.

Mas quando se contar a história desses dias e se avaliar como pôde um nome ser resgatado pela esquerda - porque esse nome haverá de ser resgatado -, embora a lama que a direita sobre ele lançou, os cristãos haverão de dizer:
"Porque estive preso e me fostes visitar."
E os socialistas se reconhecerão porque serão capazes de tremer de indignação ante a injustiça cometida contra esse homem e de sentir a bofetada dada em seu rosto.

Aton Fon Filho é advogado

Fonte: PT


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