22 fevereiro 2007

DISCURSO DO EMBAIXADOR


Um discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de descendência indígena, defendendo o pagamento da dívida externa do seu país, o México, embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Européia.
A conferência dos chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002 em Madri, viveu um momento revelador e surpreendente: Os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.
Eis o discurso:
"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a "descobriram" só há 500 anos.
O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento - ao meu país - com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento.
Eu também posso reclamar pagamento de juros.
Consta no "Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.
Teria sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!
Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.
Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas.
Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.
Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, e de outras conquistas da civilização.
Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos?
Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo.
No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros quanto independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos em cobrar.
Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.
Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça. Sobre esta base e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300, isso quer dizer um número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas.
Tais questões metafísicas, desde já, não inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente e que os obriguem a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permitam entregar suas terras, como primeira prestação de dívida histórica...
"Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Européia, o Cacique Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma tese de Direito Internacional para determinar a Verdadeira Dívida Externa.
Agora resta que algum Governo Latino-Americano tenha a dignidade e coragem suficiente para impor seus direitos perante os Tribunais Internacionais.
Os europeus teriam que pagar por toda a espoliação que aplicaram aos povos que aqui habitavam, com juros civilizados.

Grupo Beatrice
"SERRA QUER PRIVATIZAR A EDUCAÇÃO"



O presidente da Associação dos Docentes da USP, César Augusto Minto, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quarta-feira, dia 21, que a proposta de privatizar o ensino superior está embutida no contingenciamento de verbas para a educação (clique aqui para ler a entrevista).

A cada dia que passa, fico a procurar aonde estão os Paulistanos que votaram no Serra, para agradece-los pessoalmente pela péssima escolha que fizeram. E continuo a guardar as minhas moedinhas para no futuro poder colocar o meu filho que hoje tem 13 anos em uma Universidade. Ou alguém tem dúvida que se o PSDB continuar indefinitivamente em São Paulo , ainda teremos Universidades não pagas para os nossos filhos.

Vera

E a classe média continua sofrendo no Governo Lula


Venda de carros zero-quilômetro cresce quase 25% na primeira quinzena


Comprar um carro novo definitivamente é uma das prioridades do consumidor este ano. Pesquisa realizada pela Agência Autoinforme mostra que as vendas aumentaram 24,4% na primeira quinzena de fevereiro - tomando como base o mesmo período do mês anterior.

Vale lembrar que o crescimento foi calculado sobre o melhor janeiro da história de vendas, quando as comercializações cresceram 15%. Além disso, em todo o ano passado, a procura por automóveis e utilitários zero-quilômetro aumentou 12%.

Unidades
Dados preliminares do Renavam apontam que, em números, foram comercializadas 87.660 unidades até o dia 15, com média diária de vendas na casa de 7.960 veículos.

Fevereiro do ano passado teve 6.763 carros negociados diariamente.

Vera

17 fevereiro 2007

Santo de casa não faz milagres


A moça que matou os pais – e está cumprindo 39 anos de pena – ganhou pelo menos meia página nos principais jornais da semana passada. A mulher que foi presa por suspeita de ter mandado matar o marido milionário ganhador de um prêmio de loteria mereceu página inteira na Veja, além de farto espaço nos jornais.

A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, em cuja gestão o desmatamento da Amazônia foi reduzido em 50% – e que recentemente recebeu um prêmio da ONU por seu trabalho em defesa do ambiente – só mereceu pouco mais do que dez linhas em alguns jornais. Isso nos mesmos dias em que os mesmos diários deram páginas e páginas sobre o relatório divulgado na sexta-feira (2/2), em Paris, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC).

Ao comparar essas notícias, inevitável a pergunta sobre quais são os critérios da imprensa ao falar de mulheres.


Por Ligia Martins de Almeida (Fonte: Observatório da Imprensa. Leia íntegra da matéria)


16 fevereiro 2007

Para Constar

Nos pobres mortais, somos obrigados a escutar nesta semana de carnaval a preocupação com o atraso dos aviões pelos nobres mortais.
Pois bem, ontem ao levar minha irmã a rodoviária para pegar um ônibus, sentido Bauru-São Paulo, o ônibus teve um atraso de 45 minutos. As acomodações das rodoviária, todos de pé a esperar. Motivo: obras na estrada que liga Tupã à Marília, e Marília a Bauru. O ônibus em questão vinha proveniente de Tupã. Agora vamos as informações da Obra.


Tupã, sexta-feira, 18 de outubro de 2002.
(13h32)
Tiveram início obras de recuperação da SP-294, entre Marília e Iacri

Começaram ontem as obras de recuperação a SP-294 (rodovia Comadante João Ribeiro de Barros), no trecho que liga Marília a Iacri. São 90 quilômetros que serão executados pela Camargo Correa e pela Engesa. Também ontem teve início a recuperação da SP-333, entre Marília e Assis. As obras estão previstas para serem realizadas em um ano.

As recuperação dessas duas rodovias integra programa lançado há dois anos para receuperar 1.30 0 quilô-metros de rodovias no interior do Estado.
O programa teve início com o financiamento obtido pelo governador Geraldo Alckmin de US$ 120 milhões junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O governo do Estado injetou mais US$ 120 mi-lhões, totalizando 240 milhões de dólares.

A recuperação da SP-294 entre Marília e Iacri está orçada em R$ 59,3 milhões.

A empresa responsável pela recuperação da SP-294 entre Marília e Quintana é a Camargo Corrêa. Entre Quintana e Iacri a empresa responsável é a Egesa.

O superintendente do DER, Pedro Ricardo Blassioli, informou que o custo da recuperação da SP-294 é bem mais caro porque inclui fresagem, que é a troca da base do asfalto em diversos pontos.


10/09/2001 - Alckmin promete duplicar SP-294


Em visita a Marília na semana passada, o Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, prometeu que vai iniciar em 2002 a duplicação da SP-294, estrada que liga a cidade a Bauru. Alckmin disse ainda que já reservou verbas para o recapeamento da pista entre Marília e Tupã, que será inciada em breve. O número de acidentes na rodovia tem crescido a cada ano.


09.01.2005 - O governador do Estado, Geraldo Alckmin, disse em Marília que a duplicação total da rodovia SP-294 não será concluída até o final do seu mandato, em 2006. Ele anunciou que a partir de fevereiro está previsto o início da reforma do trevo de acesso a Garça.



Tupã, terça-feira, 08 de abril de 2003.
(11h06)
Canteiro de obras para recuperação da SP-294 será em Tupã

O último final de semana foi muito movimentado politicamente em toda região e principalmente em Tupã. Nada menos que três deputados estaduais, um deputado federal, um Secretário de Estado e mais de dez prefeitos estiveram em Tupã. Todas estas lideranças vieram a Tupã participar de reuniões com produtores agrícolas, correligionários partidários, encontro de municípios e a abertura da 21ª Semana Da Solidariedade.

Destaque para a visita do deputado estadual Edson Aparecido, que veio anunciar para toda região a abertura nesta semana da licitação para o início das obras de duplicação da Rodovia SP-294, no trecho compreendido entre as cidades de Quintana e Iacrí, passando por Tupã. O deputado fez questão de anunciar em primeira mão o início das obras em Tupã pois diz ter uma dívida de gratidão com a população, que o elegeu como o deputado da cidade por duas oportunidades. “Fui o mais votado em Tupã na última eleição e é de fundamental importância que eu retribua cada voto que recebi, com muito trabalho”, lembrou.

Aparecido deu outra boa notícia confirmando que o canteiro de obras será erguido em Tupã e permanecerá na cidade durante todo o tempo em que a construtora vencedora da licitação permanecer na região. “Será mais uma fonte geradora de empregos para a cidade, alem de permitir o aumento na arrecadação do município com o pagamento dos tributos por parte da empresa. É uma vitória para Tupã e mostra o prestígio do prefeito Manoel Gaspar junto ao Governo do Estado”.

Segundo o deputado se não ocorrerem maiores problemas as obras devem ser iniciadas dentro de poucos dias, assim como já acontece com o trecho que vai de Bauru até Marília, onde as obras já estão em estágio adiantado. (Obs.: Tão adiantado que veja quando foi inaugurada abaixo)


05/05/2006 - 04:58

Governador também vistoria obras do aeroporto de Araraquara
O governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo, acompanhado pelo secretário de Estado dos Transportes, Dario Rais Lopes, entrega amanhã (06) mais 13 quilômetros de duplicação da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294) entre os municípios de Bauru e Marília.

A obra, entre os quilômetros 347,3 e 360,3, além da construção da segunda pista, inclui também a implantação de dispositivos de entroncamento e retorno, pavimentação do acostamento e da faixa de segurança. O investimento foi de R$ 68.923.510,32 e a execução ficou por conta da empreiteira Camargo Corrêa, vencedora da licitação.

A entrega acontece às 9h30, no quilômetro 353,8 (viaduto Ângelo Franciscato) da SP-294, em Bauru.

A colocação de algumas matérias sobre esse assunto serve para podermos analisar os descasos da nossa imprensa atual sobre a gestão Tucana.
Uma obra que não acaba nunca, que temos a mesma empreiteira do buraco do Metrô de São Paulo. E todos preocupados com o atraso dos nobres mortais que chegarão atrasados no seu destino para o Carnaval. O intítulado Apagão Aéreo. So rindo mesmo.

Vera
Pobres culpados


Jair Alves


O que mais impressiona na recente pauta do momento, sobre a diminuição da maioridade penal, nem é mais o seu papel escapista. São verdadeiramente os jovens, menores de 18 anos, envolvidos ou não em atos criminosos, responsáveis pela violência que atinge a todos? De um lado, vemos a manifestação quase que unânime de instituições e pessoas representativas da sociedade, tais como OAB, ministra do Supremo Tribunal, presidência da República, juristas de inequívoca participação na vida nacional, todos contrários a essa solução esdrúxula e, de outro, o fomento evangélico de partidos, pessoas e veículos de comunicação numa cruzada doentia a favor da redução.

O que mais impressiona e salta aos olhos é o caráter autoritário, fascista das soluções apresentadas a essas questões. É de se perguntar porque toda vez que a humanidade revela o seu lado bestial, as soluções para tal problema quase sempre apontam para penalizar justamente crianças, velhos, mulheres, negros, nordestinos, homossexuais, pobres ou orientais. É de se perguntar se no doloroso caso, envolvendo essa criança morta no Rio de Janeiro, a penalização não recaiu justamente sobre as crianças, não necessariamente sobre o menor que teria participado do ato criminoso. Nenhuma lei, qualquer que seja, é homologada com caráter retroativo, essa criança (sim, ela ainda é criança) não receberá o castigo se qualquer instrumento legal for criado nessa movimentação que se faz no momento. Tudo isso, é claro, pensado a partir do desejo dessa cruzada religiosa insana de punir justamente os mais indefesos.

Que sociedade humana é essa que pretendemos criar? O líder do triste episódio e os seus comparsas não se moveram motivados por nenhuma orientação humanista, muito menos em busca de uma sociedade perfeita. Agiram com o mesmo ímpeto predatório da sociedade competitiva que adora o Big Brother Brazil, e não está nem aí com a destruição da Amazônia, ou de um sonho socialista. Eles querem, na marra, o que a sociedade, tal como ai está, não lhes oferece. Como diria Datena "essa é a grande verdade". Esse caráter punitivo lembra uma cena, protagonizada por Raul Cortês, no filme 'Veredas da Salvação' (década de 60), onde o protagonista prende uma criança dizendo estar ela com o diabo no corpo, para desespero da mãe indefesa, diante de um eminente sacrifício da pobre coitada. Esta é a sociedade justa que queremos patrocinar?

Diante da guerra moral, a TV Globo que tanto dinheiro ganhou com o extraordinário ator Raul Cortes e Jorge de Andrade (autor de Vereda...) é a mesma que procura intervir como agente, nos pleitos eleitorais, e que revelou ontem (13/02/07), no seu último jornal noturno, que na cidade do Rio de Janeiro perambulam pela cidade nada menos do que 1200 menores reincidentes. Não serão essas crianças vítimas dessa sociedade, da mesma forma como o inocente João Helio, imolado há poucos dias? Ou estarão essas crianças possuídas pelo capeta, assim como a criança do filme acima citado?

A escritora Urda Alice Klueger produziu uma crônica belíssima, a respeito da morte do menino João, denominada Pintassilgos, onde compara a imagem do menino, arrastado pelas ruas da cidade maravilhosa, a um pintassilgo. Não deixa, porém, de nos remeter aos assassinatos em massa, cometidos mundo afora pelas mesmas forças que agora pedem justiça. Para os curiosos, é só acessar o link aqui.

Como diria Shakespeare, num de seus monumentais personagens, interpretado (porquê não?) por Raul Cortes, "O RESTO É SILÊNCIO".

Fonte: Adital
Para pensar


“A comoção deixa o olhar opaco. Os sentimentos de solidariedade à família e o ódio aos delinqüentes são previsíveis e naturais. A cada minuto nasce uma criança que não terá família, amor, comida, saúde, educação, dignidade e tudo o mais que pode nos tornar efetivamente humanos. Este pequeno ser chega ao mundo e já é lançado para fora do ‘carro’. Seu corpo será arrastado ao longo dos anos pelas ruelas tortuosas das periferias. Quem sabe, em 2020 (ou um pouco depois), com seus 13 ou 14 anos, não estará pronto para retribuir o ‘carinho’ que recebeu de cidadãos tão nobres como nós, que frequentemente estamos mais preocupados em nos proteger ou nos vingar, do que construir uma solução verdadeira para o grande desafio do século XXI: viver juntos (apesar das diferenças) e distribuir as riquezas com equidade (apesar da avareza).”

Leonardo Araújo, jornalista e psicanalista
Culpados!


O ódio e o medo da sociedade contra uma ameaça bem definida: jovens, negros, pobres, favelados. É ele o bandido, ele, o Falcão que morre quando mal alça seu primeiro vôo. Em um país socialmente considerado dos mais desiguais do mundo.

Uma discussão pode ser considerada séria quando, com argumentos razoáveis, se consegue esclarecer enigmas de uma questão ou indicar soluções plausíveis para um problema. No Brasil, a imprensa dá enorme destaque aos chamados crimes hediondos; o que seria natural, se raros fossem os crimes assim praticados no nosso país. Certamente não defendo a banalização da violência, ou mesmo que me conforme com os fatos ocorridos, justificando-os em vista de uma suposta escalada da violência em todo o planeta. Porém estranho ver que, quando uma senhora madura, de situação social, profissional e econômica privilegiadas, investe seu luxuoso automóvel contra um local público, onde supostamente estava sua rival, ferindo oito pessoas e matando uma moça de vinte anos, um ato criminoso desse tipo não é considerado crime hediondo. E não estou tratando de uma suposta ocorrência, mas sim de fato consumado, porém pouco divulgado pela imprensa, e, nesta pouca divulgação, amenizando-se a gravidade, buscando-se atenuantes que não se buscaria caso o crime tivesse sido cometido por pessoa de parcos recursos financeiros, um “zé-ninguém”, motorista de ônibus ou taxista, por exemplo. No caso em questão, ocorrido há pouco mais de uma semana, especialistas se levantaram para falar do obscurecimento momentâneo da consciência, causado pelo ciúme e também pelos hormônios da criminosa.

Dificilmente se encontra, mesmo na internet, uma matéria que trate do caso acima relatado. O que se lê, em geral, não menciona o nome da mulher que praticou o crime, mas se referem tão-somente a “Uma mulher de 58 anos que invadiu um bar com sua caminhonete Mitsubishi”. Na verdade trata-se de Carmem Regina Ulsefer, empresária, esposa de conceituado médico da cidade de Cascavel, no Paraná. Foi uma das mais discretas coberturas de um crime de tamanha gravidade à qual já assisti.

A imprensa não tem obrigação de resolver a questão da violência, mas deve tratar os fatos com seriedade, sem sensacionalismos que buscam apenas explorar a emocionalidade de populações angustiadas com problemas que se perpetuam e têm origem social definida. Nos últimos dez anos, vejo que, em geral, o que “causa indignação” no meio jornalístico é o crime que envolve a participação de adolescentes e jovens, quase sempre pobres e negros.

Editando-se as entrevistas populares, as emissoras de televisão destacam a panacéia que muitas pessoas indicam para nos livrar desses “monstros morais”: a redução da maioridade penal. No rastro da “opinião pública”, os colunistas e editorialistas jogam mais lenha na fogueira. Encarcerá-los mais cedo é sempre apontado como a solução, sem que jamais apareçam os elementos argumentativos que baseiam essa indicação. Talvez não apareçam os tais elementos pela razão singela que eles não existem.

O respeitado ILANUD (Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente), entre 2000 e 2001, mostrou que, dentre 2.100 adolescentes acusados, apenas 1,6% haviam cometido algum crime contra a vida, qualificado como homicídio. Além disso, examinando neste período o total de crimes cometidos no país, percebeu-se que menos de 10% deles são cometidos por adolescentes. Ou seja, essa análise recente, como outras, nos mostra claramente que o universo de jovens que cometem crimes graves é relativamente pequeno, se comparado ao do adulto. Dentro dele, a proporção dos que cometem homicídios é menor ainda, e o subconjunto dos crimes hediondos é raro. Raríssimo! Portanto, a redução da maioridade penal não teria qualquer impacto na melhora do atual quadro de violência. Portanto pede-se, clama-se, por nada!

Uma revista de grande circulação nacional e de tendência conservadora publicou raivosamente palavras contra os “menores”, favelados, claro. Porém consultando os maiores especialistas brasileiros em Segurança Pública, nenhum deles indicou a redução da maioridade penal como medida eficaz para combater a violência.. Mas, se é assim, por que a idéia persiste e ressurge sempre? Provavelmente porque esse argumento canaliza o ódio e o medo da sociedade contra uma ameaça bem definida: jovens, negros, pobres, favelados. É ele o bandido, ele, o Falcão que morre quando mal alça seu primeiro vôo. Em um país socialmente considerado dos mais desiguais do mundo.

Ele, o menor, é quem ocupa o sistema dito sócio-educativo, das FEBEMs e DEGASEs do Brasil: pobre, negro e favelado. É este também o perfil de quem geralmente vai para a cadeia no nosso país, quando consegue crescer um pouco mais. Suas mortes são vistas como “naturais”. Morrem mais meninos e jovens entre 13 e 24 anos no Brasil que em muitos países em guerra. Os números e fatos espantosos, apontados nos relatórios dos Mapas da Violência, lançados todo ano, estão disponíveis na internet. Na prática, não é preciso pedir mais severidade nas penas, pois mesmo a pena de morte já está informalmente em vigor para as camadas pobres da população.

Vítimas de qualquer tipo de crime nos sensibilizam. As pessoas querem e merecem viver, acertar e errar, consertar seus erros, serem felizes. Devemos honrar a memória de todas as vítimas dessa nossa época bárbara, porque todos nós somos filhos, pais, irmãos, esposos, amigos, avôs de alguém. E um mundo melhor é um sonho comum a todos os que estão vivos.

Em vez do rebaixamento da maioridade penal, aqueles que verdadeiramente se importam devem lutar, com mais sensatez e objetividade, para que essas histórias trágicas, deploráveis, não se repitam nunca mais. Conhecendo mais o Estatuto da Criança e do Adolescente e então exigindo o seu cumprimento, pois se trata de uma legislação elaborada para garantir direitos a todas as crianças e adolescentes, sem distinção de classe social, com a participação das idéias e sugestões de toda a sociedade.

O que incomoda no Estatuto da Criança e do Adolescente? Certamente a ampliação do poder real que ele confere ao povo, aos cidadãos, a todos nós. Entretanto, apesar de ser uma legislação em plena vigência, pouco dela foi colocado em prática. Não há como querer se revogar uma lei cujas determinações são desrespeitadas. Ora, se o Estado não faz valer o Direito, como fará para estabelecer o cumprimento do Dever? Vamos aplicar o Estatuto, antes de procurar modificá-lo. Vamos sim cobrar do Estado uma educação e saúde de qualidade, a criação de espaços de lazer e cultura nos lugares sem equipamentos sociais, programas sociais com atendimento de excelência para todos os meninos e meninas de nosso país.

Vamos ter certeza de uma verdade inconveniente: estamos todos no mesmo barco. E a opressão de tantos é nosso naufrágio.


Profa. Dra. Maria Helena Zamora, Docente da PUC-Rio, Vice-coordenadora do LIPIS, organizadora do livro "Para Além das Grades" e de publicações brasileiras e internacionais sobre a infância.

14 fevereiro 2007

O BRADESCO NOSSO DE CADA DIA


Laerte Braga


O Banco Brasileiro de Descontos (BRADESCO), apresentou um lucro de 6,3 bilhões de reais no exercício de 2006, contra 5,51 bilhões no exercício do ano de 2005. Um crescimento da ordem de quase 20% de um ano para outro.

Isso significa que o banco lucrou 719 178,08 reais por hora, levando em conta o dia de 24 horas. Ou seja, para além do chamado expediente. Imagino a quantidade de pastas e decoradores que devem ornar os "negócios" e "transações" do banco ao longo de cada exercício e quantos diretores não existirão ali, aparecidos e exibidos no sucesso fantástico do mundo do dinheiro.

O bancário, de um modo geral é, dentre os trabalhadores brasileiros, os que proporcionalmente, ganham miséria. Isso até pelas responsabilidades que tem. Um banco cobra um centavo que falte num caixa, mesmo que seja, digamos, erro de máquina. Quando entram na sua conta e tiram o seu dinheiro, o banco diz que a culpa não é dele.

"A juíza Sandra Nara Bernardo Silva da 10ª Vara do Trabalho de Brasília condenou o Banco do Brasil S/A a indenizar em mais de R$ 1 milhão uma funcionária aposentada por invalidez em função de um AVCI (acidente vascular cerebral isquêmico).

De acordo com informações do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de Campinas, a doença ocorreu 14 dias após a funcionária, de 33 anos, ter dado à luz. A perícia médica acusou como causa básica do infarto cerebral o puerpério e, como secundária, o estresse a que ela foi submetida no banco.

Gerente de divisão, a funcionária deveria entregar avaliações de desempenho de 10 funcionários de sua equipe. Como o parto foi involuntariamente antecipado, restou uma avaliação pendente. Ao retornar do hospital, a funcionária passou a receber telefonemas de sua chefia, cobrando a entrega da última avaliação, considerada de árdua solução.

Segundo as testemunhas, a pressão a que foi submetida a gerente para a conclusão do trabalho, feita poucos dias após o parto, a levava a crises de choro constantes, até ser encontrada inerte na cama, sem poder se locomover. Por isso, a juíza considerou comprovada a responsabilidade do Banco do Brasil no acidente de trabalho.

Ao analisar os fatos e depoimentos, a juíza concluiu que o banco, por meio de seus prepostos, não respeitou o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. "A autora não resistiu ao bombardeio e sofreu um acidente violento, físico, mental e irreversível em virtude do comportamento patronal que deu causa ao estresse durante o puerpério." - (Última Instância, 12FEV2007 )

E depois dizem que Beira-mar é esperto. Pé de chinelo perto desses caras. Criminoso de quinta categoria diante de qualquer banqueiro.

O que o banco chama de crescimento da taxa de serviços, inclui, evidente, a extorsão sobre clientes nas tais tarifas cobradas até para que a pessoa possa respirar dentro de uma agência. O faturamento com essas tarifas foi da ordem de 8,5 bilhões de reais, contra 7,3 bilhões em 2005.

A expectativa dos diretores, lógico, os decoradores devem estar em polvorosa, podem perder os ganhos no Natal, época de encher de luzes e trocar presentes, é que com a tendência de queda nos juros. As carteiras de empréstimos devem aumentar e as tarifas cobradas por serviços prestados a clientes, essas então, vão à estratosfera.

Já, com a queda de juros, as ajudas aos homens das pastinhas, diretores e "educados e respeitosos", essas devem diminuir.

O Banco Itaú deve divulgar nos próximos dias seus resultados e em seguida os outros. Todos os menores, mais ou menos numa ordem que mostra quem são os donos, quem detém o poder e quem de fato controla o Estado brasileiro.

Os especialistas em robótica, informática, o diaBO a quatro, estão tentando resolver o problema de eventuais orgasmos de William Bonner e Fátima Bernardes no JORNAL NACIONAL, ao anunciarem os lucros do BRADESCO. Há o receio que os controles e chips não sejam suficientes para o mínimo de comedimento, evitando situações desagradáveis. Quanto aos comentários que Miriam Leitão deve fazer sobre o assunto, não há como evitar. É casada com diretor e chip vencido, sem condições de ser renovado.

05 fevereiro 2007

Do jornalismo dos desastres ao desastre do jornalismo


Bernardo Kucinsk


Cobertura do desastre da Linha 4 do Metrô paulistano revela, além de debilidades, opções políticas feitas pela grande imprensa para isentar responsabilidades.

Foi preciso uma tragédia para ficarmos sabendo que a linha 4 do metrô de São Paulo, uma gigantesca obra de engenharia, estava sendo construída através de um contrato de "porteira fechada". O preço é fixo. Quanto mais o consórcio construtor economizar, mais ele lucra. Ninguém sabia disso porque a nossa imprensa nunca se interessou por esse contrato. Nunca o discutiu.

Os paulistanos não sabiam que a linha quatro era uma obra assim tão grande, nem sabiam das várias opções de métodos de construção dos túneis. Não sabiam nada. Só agora fomos informados que o método das explosões, usado na região do desastre, rachara dezenas de casas e há tempos assustava os moradores.
Esses casos haviam sido tratados como pequenos episódios isolados, não ocorrendo a nenhum editor investigar mais a fundo a natureza das obras.

Alckmin escondido

Os paulistanos não sabiam que as obras eram fiscalizadas pelo próprio consórcio. Eles fiscalizavam-se a si mesmos. O Estado, dono da companhia do metrô, não assumiu nenhuma
responsabilidade, admitiu o governador José Serra, depois de fugir um dia inteiro dos repórteres. Alckmin está escondido até hoje. E dele os jornais nem falam. Ele, que se apresentava como o melhor "gerente" para o Brasil.

Depois de tantas tragédias, já é possível definir um padrão da cobertura de desastres no Brasil. De início, os jornalistas são surpreendidos. O desastre revela precariedades ou abusos pré-existentes que a imprensa não acompanha como deveria. Assim foi com o apagão do sistema elétrico, que estava todo desenhado nos mapas da ANEEL, sem que os jornalistas soubessem, porque não há mais repórteres especializados em energia.

Depois, foram surpreendidos pelo apagão do sistema de controle de tráfego aéreo, crise antiga, mas por eles desconhecida. Assim como não acompanharam o cumprimento do contrato de ajustamento de conduta entre a Mineradora Rio Pomba e o Ministério Público de Minas Gerais, depois do primeiro desastre da sua barragem, em março de 2006. Só se lembraram depois do desastre muito maior, do dia 10 deste mês. Numa segundo etapa, consumadas as tragédias, os jornalistas saem correndo atrás do prejuízo, mas sem fontes, sem métodos e sem conhecimentos especializados. Escrevem páginas e páginas de notícias fragmentadas, ora dizendo uma coisa, ora outra, jogando culpas e suspeitas por todos os lados - nunca assumindo a própria culpa, é claro. Esse traço da cobertura ficou muito evidente na queda do avião da Gol,
o maior desastre aéreo da história do Brasil. Cada dia era um outro pedacinho de informação que aparecia nos jornais, nem sempre de acordo com a do dia anterior ou encaixada no lugar certo do quebra-cabeças.

Fragmentação e sensacionalismo

Sem informação estruturante, os jovens jornalistas postam-se à beira do desastre, e passam a falar das vítimas, dos seus namorados, do fulano que escapou por sorte, porque perdeu o vôo ou não pegou aquela van. E assim por diante. É a fase do sensacionalismo. Se conseguirem fazer um entrevistado chorar, é a glória. A cena será repetida várias vezes. Surgem também os gigantescos mapas, infográficos, tudo o que deveríamos saber antes do desastre, aparece agora, depois da porta arrombada. No desastre da linha 4 os repórteres estavam tão aflitos e sem fontes, que entrevistaram falsos engenheiros e até falsos bombeiros, atraídos à cratera pelos holofotes da tevê.

Pode haver um ou outro repórter especializado, que tem fontes boas. Mas essa é a exceção e não a regra. Ao mesmo tempo em que cresceram as editorias de economia, foram, sendo extintas as de cidade, de educação, de saúde, de transporte. E só há uma reportagem, a "geral", encarregada de cobrir tudo. Nesse sistema de "linha de produção", os repórteres são obrigados a cumprir duas a três tarefas num único dia. Em algumas empresas, nem essa reportagem geral existe mais, tendo sido fundida à agência de noticias da empresa.

Mas só a extinção das editorias especializadas não explica a negligência em acompanhar uma obra como a da linha 4 do metrô de São Paulo. Subjacente a essa negligência está uma cultura de desprezo pelos fatos e muito maior dedicação de tempo e energia editorial ao combate ideológico.

A extinção das editorias especializadas faz parte de todo um processo que vê a informação correta e bem contextualizada como um obstáculo ao uso ideológico dos fatos. O neoliberalismo reorganiza até a estrutura das redações.

Panfletos ideológicos

Muitos leitores ainda não perceberam que os jornalões brasileiros são hoje muito mais panfletos ideológicos do que boletins informativos. Jornais, revistas semanais e emissoras de tevê de maior audiência parecem ter formado uma espécie de "consórcio político", com o objetivo central de combater políticas que rotulam a priori de "populistas". Passaram um ano e meio dedicando tanto espaço e energia no combate ao governo Lula e ás CPIs da oposição, que se esqueceram dos fatos e processos do Brasil real.

A terceira fase da cobertura padrão dos desastres é justamente a mais ideológica. É quando buscam escamotear as verdadeiras causas das tragédias: o esvaziamento do Estado promovido pelos neoliberais, a privatização do setor elétrico, a terceirização dos serviços, a não contratação de novos servidores, a falta de fiscais, a subordinação a regras de privatização do FMI e pelo Banco Mundial. Enfim, a privatização generalizada do Estado, da qual o desastre da
Rua Capri revelou uma nova dimensão, a privatização até mesmo das responsabilidades do Estado, expressa na frase do governador José Serra: "a responsabilidade é das empreiteiras".

Dois pesos

Faz parte do padrão de manipulação ideológica dos desastres o uso de dois pesos e duas medidas: complacência com autoridades envolvidas, se foram do campo conservador e a crítica impiedosa e repetida, se foram do campo popular. Basta comparar editoriais da Folha e do Estadão, nos casos do mero entupimento do túnel da Rebouças que não matou ninguém, construído na gestão Marta Suplicy, e os do desabamento da Rua Capri, que matou seis pessoas e talvez uma sétima.

O editorial do Estadão, apesar de reconhecer a "gravidade do acidente" da Rua Capri, fala de "reações emocionais registradas pela imprensa". Reconhece a necessidade de apuração das causas. Mas sem esperar por essa apuração, já vai defendendo as empreiteiras: "que têm uma folha de serviços prestados no país e no exterior que não deixa dúvidas quanto ao seu preparo técnico".

Nem uma palavra de crítica ao governo do Estado ou ao contrato de porteira fechada. Ao contrário, diz "serem precipitadas as afirmações de que o acidente teria sido resultado da pressa com que, por razões políticas, as obras estariam sendo executadas". A Folha também diz que "não é o momento de precipitar-se na busca das causas e responsáveis pelo acidente." Mas no caso do túnel Rebouças, sem esperar por laudo nenhum, o jornal foi logo acusando que "a obra foi realizada às pressas e sem observar padrões mínimos de qualidade apenas para conquistar votos, como parece ter sido o caso do referido túnel".

Prestem bem atenção: passada a fase sensacionalista, calma e ponderação, vão ser as palavras de ordem dos jornalões para a quarta etapa da cobertura desse desastre. Trata-se da etapa prolongada na qual vão começar a sair laudos, vão ser ouvidas testemunhas nos inquéritos.

Talvez se instale uma CPI, que nenhum dos jornalões exigiu. A probabilidade é que tenham sido muitas as causas e não uma só - mais ou menos como aconteceu na queda do avião da Gol. Ou seja, uma provável falta de rigor ao longo de todo o processo, devido à natureza do contrato, de modo que a falha em uma fase não é detectada e corrigida na outra. Isso significa que Serra e sua base tucana paulista poderiam sofrer um prolongado desgaste, atravessando este ano todo e entrando por 2008. É isso que os jornalões vão evitar.

Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é editor-associado da Carta Maior. É autor, entre outros, de "A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo
brasileiro" (1996) e "As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998" (2000).


02 fevereiro 2007

Marina Silva recebe o maior prêmio de meio ambiente das Nações Unidas


A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, receberá o maior prêmio das Nações Unidas na área ambiental, o Champions of the Earth (Campeões da Terra) de 2007, como reconhecimento ao seu trabalho em favor da preservação da floresta amazônica e da valorização das comunidades locais e tradicionais da região. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (01) pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (PNUMA). Marina Silva é uma das sete personalidades que serão premiadas. O Campeões da Terra será entregue numa cerimônia prevista para o dia 19 de abril, em Cingapura.

O sub-secretário da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner, em carta enviada à ministra, elogia a sua dedicação na defesa das questões ambientais.
"Vossa Excelência reconheceu que a construção de uma aliança de apoio para proteger o meio ambiente exige adesão a um conjunto básico de valores. Sua crença de que o sucesso da luta para salvar a vida sobre a Terra exige que princípios estejam à frente de nossos esforços fez com que fosse merecedora do prêmio Champions of the Earth 2007", escreve ele.

O prêmio existe desde 2004. Seu objetivo é contemplar pessoas que tenham uma contribuição significativa e reconhecida, global e regionalmente, na proteção e gestão sustentável do meio ambiente e dos recursos naturais. Os premiados são selecionados por um painel de alto nível, a partir de indicações que o Pnuma recebe. O prêmio não reverte em dinheiro. Ele é simbolizado por uma escultura de metal reciclado, assinada pelo queniano Kioko, que simboliza os quatro elementos fundamentais à vida: sol, ar, terra e água. Na carta, Steiner classificou como "extraordinária" a contribuição de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente para a proteção da Amazônia e mencionou a queda estimada de mais de 50% na taxa do desmatamento da região nos últimos dois anos. "É um resultado dos novos processos governamentais implementados", ressalta o diretor-executivo do PNUMA.

Entre 2003 e 2006, a ministra inaugurou um novo modelo de gestão ambiental no governo federal, cujo princípio básico é o envolvimento efetivo de diferentes setores de governo e da sociedade na busca de soluções para problemas de meio ambiente. Defendeu a cooperação entre os vários ministérios e governos estaduais, obtendo importantes resultados que refletem a capacidade do Estado e da sociedade em implementar uma política ambiental capaz de dar respostas aos desafios de conservação da atualidade. Com isso, conseguiu consolidar várias
propostas da sociedade civil em novos instrumentos de política ambiental, como o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia e a Política Nacional para o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais, que abrange todos os biomas brasileiros.

No Senado, Marina Silva apresentou inúmeros projetos de lei e trabalhou pela aprovação de outros tantos - grande parte deles voltados para a preservação das florestas, proteção dos direitos das comunidades tradicionais e inclusão social.
Como senadora, apresentou o primeiro Projeto de Lei para regular o acesso aos recursos genéticos. Esse empenho foi igualmente reconhecido pelo PNUMA e destacado por Steiner na carta.

A dedicação de Marina Silva na implementação da CDB, cujos objetivos são a promoção da conservação, do uso sustentável e da repartição de benefícios gerados a partir da biodiversidade, também teve forte influência na decisão do painel do PNUMA. Desde março de 2006, o Brasil, representado pela ministra, ocupa a presidência da CDB - mandato que encerra em 2008.
Ao lado de Marina Silva, receberão o Campeões da Terra de 2007: o ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore, pela sua atuação na proteção ambiental e na educação sobre os perigos decorrentes do aumento de gases de efeito estufa na atmosfera; o Príncipe Hassan Bin Talal, da Jordânia, por sua crença na colaboração transfronteiriça para proteger o meio ambiente e tratar dos temas ambientais de maneira holística; Jacques Rogge e o Comitê Olímpico Internacional, pelos avanços no esporte e na agenda ambiental, por meio da provisão de mais recursos para o desenvolvimento sustentável e pela introdução de requisitos ambientais mais rigorosos às cidades candidatas a sediar os Jogos Olímpicos; Cherif Rahmani, pelo avanço na agenda de direito ambiental e pela abordagem do tema desertificação na Argélia; Elisea "Bebet" Gillera Gozun, pelo avanço na agenda ambiental nas Filipinas; e,Viveka Bohn, da Suécia, pelo desempenho de destaque em negociações multilaterais e liderança em esforços globais para a segurança química. Já foram premiados em edições anteriores, o ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev; o povo da África do Sul e sua presidenta, Thabo Mbeki; e a ex-vice presidente do Irã, Massoumeh Ebtekar.

Perfil

Do seringal, de onde saiu aos 16 anos, até o Ministério do Meio Ambiente, cargo que ocupa atualmente, Marina Silva percorreu um longo caminho. Viveu na floresta amazônica, onde nasceu em 1958, num seringal no interior do Acre, até os 16 anos, quando foi morar na capital do estado, Rio Branco. Alfabetizou-se aos 17 anos. Foi empregada doméstica e costureira. Aos 26, conquistou o diploma de Bacharel em História pela Universidade Federal do Acre.

Antes mesmo de formada, iniciou a militância. Em 1984, participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre e foi a primeira vice-coordenadora da entidade, ao lado de Chico Mendes. Um ano depois, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Participou das Comunidades Eclesiais de Base, de movimentos de bairro e do movimento dos seringueiros. Apenas três anos depois, elegeu-se a vereadora mais votada da Câmara Municipal de Rio Branco. Outros dois anos bastaram para tornar-se a deputada estadual mais votada do Acre.

Marina Silva foi a mais jovem parlamentar a ocupar uma vaga no Senado Federal na República. Com 36 anos, foi eleita a primeira vez, em 1994. Foi reeleita em 2002. Como senadora, foi
vice-presidente da Comissão Especial do Congresso de Combate à Pobreza, criada a partir de uma proposta sua, vice-presidente da Comissão de Assuntos Sociais e membro titular da Comissão de Educação. Em 1999, foi líder da bancada do PT e do Bloco de Oposição. Durante sua legislatura, apresentou diversos projetos, como o que disciplina o acesso aos recursos da
biodiversidade brasileira e ao conhecimento das populações tradicionais.

Propôs ainda a criação da reserva de 2% do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal para os estados que tenham, em seus territórios, unidades de conservação federais e terras indígenas demarcadas. Defendeu, também por meio de um projeto, uma nova estrutura para o orçamento para garantir que verbas destinadas a gastos sociais sejam efetivamente aplicadas nesses setores. Considerada uma dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, teve sua biografia publicada no Brasil e no exterior.

Em 2003, afastou-se do Senado para assumir o cargo de ministra de estado do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Deixava a defesa do meio ambiente no Poder Legislativo para defender as
questões ambientais no Poder Executivo. Sua atuação, entre 2003 e 2006, inaugurou um novo modelo de gestão ambiental, que conta com a participação de diferentes setores do governo federal e da sociedade. Foi a partir desse modelo que surgiu o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento, em 2004. Resultado do trabalho de 13 ministérios coordenados pela Casa Civil, o plano foi definidor na redução estimada de mais de 50% na taxa de desmatamento da Amazônia entre 2004-2005 e 2005-2006.

Recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior. Entre eles, estão:

Prêmio Goldmann de Meio Ambiente, como representante das Américas do Sul e Central - São Francisco/EUA (1996);

Homenagem a "25 Mulheres em Ação no Mundo pela Vida na Terra", do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - ONU, Nova York/EUA, (1997);

Premio al Desarrollo Sostenible 2003 - Fundacion Ecologia y Desarrollo, Barcelona/Espanha (2003);

Prêmio "Imprensa Estrangeira 2003" - Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, Rio de Janeiro/RJ
(2003);

Prêmio Mulheres Mais Influentes Forbes Brasil, Revista Forbes Brasil (2006).

Além disso, seu nome constou na lista de Jovens de Futuro no Mundo, em 1995, elaborada pela revista Time (Nova Iorque/ EUA). Também foi escolhida Mulher do Ano, em 1997, pela revista Miss Magazine (Washington/EUA).
Marina Silva é casada com Fábio Vaz de Lima e tem quatro filhos: Shalom, Danilo, Moara e Mayara.
Renovação Política


O Tocantins e o Distrito Federal registraram, proporcionalmente, o maior número de novos eleitos em relação à atual legislatura: 75%, ou seja, seis de um total de oito deputados. Os menores índices de renovação estão em Goiás (17,64%), no Mato Grosso do Sul (25%) e na Bahia (28,2%).

Esse índice pequeno de renovação política, na bahia, o menor do brasil, torna ainda mais importante e mostra o quão difícil foi a vitória do Jaques Wagner.
“Veja” é que interfere nos assuntos internos do Brasil, não Chávez


Esse templo da democracia, a “Veja”, disse em sua última edição que o presidente Hugo Chávez “deveria ser proibido de entrar no Brasil”. Isto porque o presidente da Venezuela, ao receber a medalha Tiradentes, no Rio de Janeiro, denunciou algumas aleivosias assacadas contra sua pessoa e seu país pelo jornal “O Globo”. Segundo “Veja”, tratar-se-ia de “interferência nos assuntos internos” do Brasil. Resumindo: Chávez, segundo “Veja”, não deve ter direito à liberdade de opinião. Somente a “Veja” é que deve tê-lo, inclusive para tirar a liberdade de opinião dos outros, que é exatamente a sua atividade-fim.

Chávez estava se referindo a uma difamação contra si e seu país. O que há nisso de “interferência nos assuntos internos” do nosso país? Se há interferência em nossos assuntos internos é, precisamente, por parte de quem vive repetindo todas as difamações do Departamento de Estado e da CIA contra Chávez, comportando-se como um agente daquela bela democracia que tem em Bush o seu retrato acabado. Existe mais escandalosa interferência em nossos assuntos internos do que, completamente contra os nossos interesses nacionais, atacar o presidente de um país amigo, em prol dos interesses de uma potência estrangeira?

“Veja” sempre pregou que quem devia cuidar de nossos assuntos internos eram os americanos. É esse o zelo que tem por esses assuntos. Mesmo agora, como não tem poder para impedir Chávez de expressar a sua opinião, quer que o governo brasileiro aja como seu leão de chácara, ou seja, como capanga de Bush e cia., “proibindo” Chávez de entrar no país. Nada é mais ridículo do que um fascista sem poder apelando para o poder dos outros, sobretudo para o poder de um governo que tudo fez para derrubar.

Apenas por curiosidade, leitor, vejamos no que resulta a perspicaz jurisprudência defendida pela “Veja”: se o presidente de outro país, em visita ao nosso, for atacado por algum marginal e se defender, segundo a lógica da revista dos Civita, será “interferência nos assuntos internos”. Logo, para não “interferir em nossos assuntos internos”, ele terá que deixar o marginal roubar a sua carteira, ou coisa pior. Naturalmente, “Veja” não deve achar que essa comparação é pertinente, pois sempre defendeu um privilégio especial para os marginais da mídia, sobretudo quando se trata de atacar gente honrada. Mas, que se dane o que ela acha. Nós aqui somos defensores da isonomia. Inclusive no tratamento aos marginais.

Mas, por falar em interferência em nossos assuntos: em 1949, chegava ao Brasil um certo Victor Civita, um ítalo-americano nascido em Nova Iorque. Como frisou Genival Rabelo, pioneiro da nossa publicidade, apesar de ser morador de Nova Iorque, o passaporte de cidadão americano de Civita havia sido visado em Washington.

Civita, até então um pé-rapado, trazia na mala os rendosos contratos com a Disney, da qual passou a editar as revistas. Foi assim que ele – e seus herdeiros atuais também nasceram em Nova Iorque e eram cidadãos americanos quando aqui chegaram – construiu seu monopólio. Com contratos que trouxe na mala, na viagem entre os EUA e o Brasil. Como conseguiu esses contratos? O velho Walt Disney, na época envolvido pelo incipiente macartismo, acreditando que estava lutando pelo “mundo livre” e outras babaquices, não costumava entregar a edição de suas revistas a qualquer um, muito menos a um pé-rapado que, além do mais, era judeu, numa época em que os judeus, para dizer o mínimo, não eram exatamente os favoritos da burguesia americana.

Na época, era um problema decisivo dos EUA conseguir influência – e domínio – na imprensa brasileira e argentina. Já haviam conseguido avançar bastante na área de jornais, mas não na área das revistas. Quando Victor Civita aportou por aqui, seu irmão mais velho, César, já estava na Argentina enchendo a paciência de Perón. A primeira revista publicada por este Civita foi “El Pato Donald”. Adivinhe o leitor a primeira revista editada pelo Civita daqui? Pois é, “O Pato Donald”.

Evidentemente, o objetivo não era fornecer aos brasileiros o prazer das aventuras do Mickey ou do Pato Donald. Isso era apenas a forma de viabilizar um monopólio sobre a produção de revistas no Brasil, sobretudo criar uma revista política. Foi desse imbróglio que saiu a “Veja”, sustentada com prejuízo durante anos a fio, sempre com a linha mais fanaticamente pró-americana, em vários momentos mais pró-ianque dos que as revistas ianques dos EUA, sempre atacando e difamando tudo o que seja brasileiro e independente. A rigor, um mero boletim do Departamento de Estado, coisa que não se pode dizer que seja totalmente exato quando se trata da “Newsweek” e da “Time”.

Então, leitor, já temos aqui um bocado sobre “interferência nos assuntos internos” do Brasil. E, também, sobre quem deveria ser proibido de entrar no Brasil, se decidíssemos proibir algum estrangeiro de fazê-lo, quanto mais não seja em nome da moral, dos bons costumes e da higiene pública.


CARLOS LOPES - Hora do Povo

TV Cultura do Pará pagava à TV Liberal pelo conteúdo Globo


A Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa), entidade encarregada de manter a TV Cultura do Pará (geradora em Belém - canal 2E), suspendeu os pagamentos referentes a um convênio firmado em 1997 pelo então governo Almir Gabriel (PSDB). O convênio permitia à TV Liberal (uma das empresas das Organizações Rômulo Maioriana - ORM), afiliada da Rede Globo no Estado, utilizar 78 canais retransmissores da TV Cultura no interior do Estado. O inusitado é que além de permitir que a TV Liberal utilizasse os seus canais, a Funtelpa pagava mensalmente R$ 461 mil, valor superior a toda a folha de pagamento da TV Cultura do Pará: "é o equivalente a você deixar alguém usar um imóvel seu para montar um bar e ainda pagar para ele uma espécie de aluguel ao contrário", afirma escandalizado um dos jornalistas da Agência Pará, página da assessoria de comunicações do Governo do Pará, que denunciou o caso. Segundo o chefe da Casa Civil do governo do Estado, Charles Alcântara, entrevistado pela Agência Pará, está claro que este convênio seria uma espécie de contrato disfarçado, uma forma de driblar a lei de licitações.
Fonte familiarizada com os negócios do grupo ORM explica a este noticiário que o pagamento era feito pela Funtelpa para remunerar o conteúdo e os investimentos técnicos que a TV Liberal precisou fazer na rede. Segundo a fonte, a Funtelpa, por conta própria, não teria a menor condição de colocar os canais no ar e explorar a rede de retransmissoras.

O problema é que a legislação de retransmissão de televisão não permite sub-locação de freqüências. Quem não tem condições de utilizar as outorgas deve devolvê-las ao Ministério das Comunicações para que sejam concedidas a outros interessados.

A TV Liberal foi contatada para responder aos questionamentos, pediu para que fosse enviado um email com as perguntas mas não mandou resposta.

Situação regular na Anatel

Apesar de diversos canais retransmissores da Funtelpa estarem em débito com o Fistel, em todos eles há o registro real das emissoras geradoras do sinal retransmitido. São mais de 70 vinculados à TV Liberal; seis diretamente vinculados à TV Globo do Rio de Janeiro, duas à TV Tapajós e uma à Rede Bandeirantes de São Paulo. Apenas uma única retransmissora é usada pela própria TV Cultura do Pará, em Igarapé Mirim. Segundo Marconi Thomaz de Souza Maya, superintendente de Serviços de Comunicação de Massa Substituto da Anatel, a agência não tem que se manifestar em relação a um acordo comercial firmado entre a Fundação e uma emissora privada: "a única exigência é que a geradora dos sinais autorize a sua cessão, e isso foi feito e registrado nos arquivos da Anatel e do Minicom", lembra Marconi.

Problema político

esta semana, em sua primeira entrevista coletiva do ano, o ministro Hélio Costa havia se referido às retransmissoras que pertencem e são mantidas por prefeituras para veicular sinais de emissoras comerciais, lembrando que não tem autorizado a troca de geradora sem a concordância e o pedido formal da Câmara de Vereadores, justamente para evitar que uma decisão unilateral do prefeito venha a prejudicar os telespectadores de determinada rede. O que o ministro não sabe é que a situação é ainda mais complexa, como se vê no Pará. Neste caso, o governo de um Estado está pagando para ter o sinal de uma emissora comercial em determinadas localidades, não será nenhuma novidade se encontrarmos prefeituras que façam coisas igualmente sem sentido.

Carlos Eduardo Zanatta - TELA VIVA News
As trapalhadas de Bush


FREI BETTO
O que fará Bush? Nem pode retirar as tropas do Iraque, exceto admitindo a derrota, nem sabe como, por que e até quando mantê-las ali


JOSEPH STIGLITZ ganhou o Prêmio Nobel de Economia e foi economista-chefe do Banco Mundial. Linda Bilmes ensina finanças públicas em Harvard. Juntas, as duas cabeças calculam que Bush já gastou US$ 2,2 trilhões na guerra do Iraque. O orçamento real é 22 vezes maior que o oficialmente declarado. Isso é mais de duas vezes o PIB do Brasil, orçado hoje em R$ 1,9 trilhão.
Bush demitiu, em 2003, seu mais alto assessor econômico, Larry Lindsey, por ter ousado sugerir que o custo da guerra podia chegar a US$ 200 bilhões. A Casa Branca irritou-se na época e se desdobrou no Congresso para acalmar os parlamentares. Despachou Paul Wolfowitz (era o número dois do Pentágono e é, hoje, presidente do Banco Mundial) para ir lá e jurar a deputados e senadores que o próprio Iraque financiaria tudo com o petróleo que jorra de seu solo...
A intervenção dos EUA no Iraque resulta de uma seqüência de mentiras. Primeiro, Bush alardeou que o governo de Saddam estaria envolvido no 11 de Setembro. A acusação jamais foi comprovada. Depois, acusou-o de estocar armas de destruição em massa. Saddam abriu as portas do país e permitiu que peritos da CIA o revirassem de cabeça para baixo. Após um ano de investigações, nada foi encontrado. Os grandes jornais dos EUA chegaram a pedir desculpas aos leitores por terem acreditado no engodo.
Enfim, Bush tentou justificar o atoleiro em que se meteu prometendo fazer do Iraque uma democracia capaz de disseminar-se pelo mundo árabe.
Forjou eleições, dividiu a nação e aprofundou a mortandade. Saddam Hussein foi enforcado sob acusação de matar 104 xiitas. Na época, o Iraque estava em guerra com o Irã e o ditador era um títere nas mãos do Tio Sam. O apoio foi levado a Bagdá por Donald Rumsfeld, que até há pouco monitorava o Pentágono e a guerra no Iraque.
Bush está desesperado. Com a aprovação popular em míseros 27% e as derrotas nas eleições da Câmara e do Senado, tenta convencer os estadunidenses de que vale a pena enviar mais soldados ao Iraque (estão lá cerca de 140 mil das tropas de intervenção). Pesquisas apontam que 61% da população dos EUA é contra enviar mais tropas.
Já morreram no Iraque 3.000 soldados made in USA e 600 mil iraquianos. Como cota de urgência, estão seguindo mais 21 mil soldados -número insignificante numa Bagdá com 5 milhões de habitantes hostis à presença dos EUA. Ao se referir ao custo da guerra, Bush omite os gastos com cerca de 20 mil militares feridos. Hoje, as máquinas de guerra oferecem blindagens mais resistentes. Diminuem o total de mortos, mas produzem mais feridos: daí os enormes gastos com amputações, internações, indenizações etc.
Calcula-se que só os danos cerebrais consumam US$ 35 bilhões. Com a invasão do Iraque, Bush concedeu ao terrorismo status de guerra, ampliou o poder de recrutamento de suas organizações e lhes ofereceu objetivos e alvos concretos. No Iraque, o terror sabe onde e em quem atirar, enquanto as tropas de ocupação miram em alvos imprecisos e penalizam a população civil.
O que fará Bush? Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Nem pode retirar as tropas do Iraque, exceto admitindo a derrota, nem sabe como, por que e até quando mantê-las ali.
Além da guerra coordenada pelo Pentágono, há também uma guerra civil que cindiu a unidade nacional iraquiana. Os EUA não podem apoiar os sunitas, seus inimigos históricos. Não podem apoiar os xiitas, aliados do Irã.
Não podem apoiar os curdos, porque a Turquia não toleraria.
A milícia xiita, conhecida como Exército Mehdi, liderada pelo clérigo Moqtada al Sadr, conta com 60 mil combatentes taticamente apoiados por 2 milhões de xiitas que habitam o leste de Bagdá. O Exército e a polícia iraquianos são constituídos predominantemente por xiitas. Como oferecer segurança a bairros habitados por sunitas, que apóiam seus rebeldes?
Bush, considerado o homem mais bem assessorado do mundo, comprovou a lei de Murphy: "Se tudo pode dar errado, dará". O grave é que o move a sede de vingança. Não se conforma de seu pai ter fracassado na tentativa de derrubar Saddam Hussein, em 1991, e de sua família ter sido sócia dos Bin Laden em negócios de petróleo. Como bem escreve Herman Melville em "Moby Dick": "Ah, Deus! Que tormentos sofre o homem que se consome com seu desejo de vingança. Dorme de mãos cerradas e acorda com as unhas ensangüentadas cravadas nas palmas".


CARLOS ALBERTO LIBÂNIO CHRISTO, o Frei Betto, 62, frade dominicano e escritor, é autor de, entre outras obras, "A menina e o elefante" (Mercuryo Jovem). Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004).