25 setembro 2008

Lula, “incansável defensor” dos pobres

Lula, “incansável defensor” dos pobres




Por Katherine Stapp, da IPS

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que partiu de uma infância de pobreza para chegar a conduzir uma potência econômica que colocou o ideal de prosperidade inclusiva no centro de sua política de desenvolvimento, recebeu o Prêmio ao Sucesso Internacional concedido pela IPS (Inter Press Service). “Queremos honrá-lo porque lutou ombro a ombro com os despossuídos e os sem-terra, por seus esforços em iniciar e apoiar políticas de inclusão social e de resolução pacífica de conflitos, com o pleno exercício das liberdades e dos direitos humanos fundamentais, não apenas no Brasil, mas nas nações irmãs da América Latina”, disse o diretor-geral da agência internacional de notícias IPS, Mario Lubetkin. O Presidente Lula se comprometeu profundamente com os esforços internacionais contra a pobreza e a fome, destacou Lubetkin, desempenhando um papel-chave para mobilizar o apoio de outros líderes mundiais e organizações internacionais.

A cerimônia de premiação aconteceu na sede mundial da Organização das Nações Unidas em Nova York às vésperas do segmento de alto nível da 63ª sessão da Assembléia Geral da ONU, da qual participarão mais de 150 governantes de todo o mundo. Em seu discurso, o mandatário brasileiro destacou a importância dos meios de comunicação livres e vibrantes no combate global à pobreza e à marginalização.

“Na medida em que avançamos para a justiça social e o pluralismo, a independência das fontes é fundamental para que o diálogo democrático seja esclarecedor e equilibrado”, disse Lula. “O livre acesso à informação também é crucial para construir um mundo mais justo e próspero. Sabemos que um dos pilares da democracia e da liberdade é uma imprensa livre”, acrescentou o Presidente. “Esta é uma das lições que aprendi durante a luta contra a repressão e o autoritarismo. A IPS trouxe maior pluralidade e diversidade à imprensa internacional. Durante 44 anos, a IPS deu voz aos que não têm voz. Hoje é mais crucial do que nunca na criação de diálogos Sul-Sul e alternativas às alianças existentes”, afirmou Lula.

O Presidente brasileiro nasceu em 1945, sétimo filho de uma família de oito irmãos, na pequena cidade de Garanhuns, em Pernambuco. Começou a trabalhar aos 12 anos em uma lavanderia e passou por pequenos empregos até se converter em torneiro mecânico. Comprometeu-se com o trabalho sindical enquanto trabalhava em uma fábrica em São Paulo. Em 1975 foi eleito presidente do sindicato dos metalúrgicos e quatro anos mais tarde contribuiu para conduzir uma greve de 170 mil operários do setor.

“Sua carreira política é uma boa demonstração das virtudes da democracia”, disse Enrique Iglesias, responsável pela Secretaria Geral Ibero-americana, uma iniciativa de cooperação política, cultural e econômica entre América Latina e os países da península Ibérica. Trata-se da “virtude de dar oportunidade de ser presidente de uma das maiores nações do planeta a um trabalhador com uma longa história de liderança sindical”, disse Iglesias, encarregado do discurso principal da cerimônia.

Em 1980, a ditadura militar brasileira reprimiu o movimento sindical, apelando para a lei de segurança nacional e prendendo vários líderes, inclusive Lula, que permaneceu 30 dias atrás das grades. Nesse mesmo ano, Lula fundou o Partido dos Trabalhadores, que lhe permitiu em poucos anos se converter em líder da oposição e o levou à Presidência nas eleições de 2002, com 53 milhões de votos, após várias tentativas sem sucesso. O Presidente foi reeleito em 2006 com cerca de 58 milhões de votos.

Os planos sociais colocados em prática em sua administração são elogiados por tirar da pobreza milhões de pessoas. Para enfrentar a desnutrição, que afeta cerca de 15,6 milhões de brasileiros, o governou implementou o programa Fome Zero, que inclui diferentes estratégias. A construção de cisternas para armazenar água da chuva na região do semi-árido, combate ao trabalho infantil, fortalecimento da agricultura familiar, subsídios aos alimentos e a outros produtos essenciais são alguns dos componentes do programa, que exige das famílias beneficiadas o comparecimento dos filhos à escola e a aplicação das vacinas obrigatórias.

Além disso, o governo cancelou dívidas superiores a US$ 1,7 bilhão contraídas por países muito pobres e participa de numerosos projetos de cooperação Sul-Sul, incluindo iniciativas de agricultura sustentável em Cuba e várias nações africanas. “Este tipo de informação nem sempre é divulgado pelos grandes meios de comunicação do Brasil e do exterior. Por essa razão, precisamos que a IPS seja um exemplo para a criação de outras agências similares”, acrescentou.

No plano econômico, o Brasil diversificou sua base industrial e investiu em lucrativas exportações agrícolas e no petróleo, o que levou a um crescimento de 5,4% da atividade em 2007 e ao desenvolvimento de um poderoso mercado interno que torna o país menos vulnerável aos desequilíbrios do resto do mundo. “O Brasil é hoje um jogador importante na nova geração de economias emergentes que tentam mudar as regras do jogo do comércio e das finanças para construir um novo tipo de relações internacionais baseadas em uma distribuição mais justa de oportunidades entre o Norte e o Sul do mundo”, disse Iglesias.

Também afirmou que o governo Lula focou sua atenção em “áreas que têm impacto direto nas camadas mais pobres da sociedade. Em uma geração o Brasil conseguiu grandes avanços na redução da pobreza e eliminação da fome e desnutrição. Isto se reflete em estatísticas, mas também no apoio das pessoas às políticas governamentais”, afirmou Iglesias. Segundo o Banco Mundial, a brecha entre a renda dos mais ricos e dos mais pobres no Brasil diminuiu 6% desde 2001, mais do que em nenhum outro país vizinho.

Em uma tendência contrária à seguida por muitas nações, os 10% mas pobres dos brasileiros aumentou sua renda em 58% entre 2001 e 2006. “O senhor provou, por exemplo, que a sólida economia de seu país, obtida durante sua gestão, pode seguir lado a lado com a extensão de seus benefícios à maioria da população”, disse Lubetkin. “E comprovou que o progresso econômico só tem sentido se serve para melhorar as condições de vida da sociedade em seu conjunto”, acrescentou.

O Prêmio Ao Sucesso Internacional foi criado pela IPS em 1985 para homenagear jornalistas e líderes mundiais que contribuam para a paz, os direitos humanos, o poder de gênero, a boa governabilidade e a igualdade social e econômica. Entre os premiados estão a ex-primeira-dama da África do Sul, Graça Machel; a ex-primeira-dama da França, Danielle Mitterrand; os ex-secretários-gerais da ONU, Boutros Boutros-Ghali e Kofi Annan; o ex-presidente da Finlândia, MArtti Ahtisaari, e o Chamado Mundial à Ação contra a Pobreza (GCAP). (IPS/Envolverde)


Crédito de imagem: Mithre J. Sandrasagra/IPS

Fonte: Envolverde


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