17 maio 2008

MAIS UMA VERGONHA DA IMPRENSA!


Lendo os jornais, fiquei preocupado com as matérias dizendo que “Interpol comprova autenticidade dos arquivos apreendidos das Farc”. O Jornal do Brasil, em uma matéria secundária, chega a afirmar que os presidentes da Venezuela e do Equador estariam envolvidos.

Claro que isto me interessa e preocupa, motivo pelo qual resolvi pensar um pouco sobre a matéria e fazer algumas pesquisas na internet.

A primeira idéia que me passou pela cabeça foi fazer a seguinte pergunta: “É legal a denúncia feita pela Colômbia de que teria encontrado provas contra os dois presidentes em um computador de um guerrilheiro das FARC”?

Bem, comecei a imaginar: pelo que sabemos através dos próprios jornais, os tais computadores teriam sido pegos (roubados) pelo exército colombiano durante uma incursão aérea a território do Equador, sem permissão deste, durante a noite do dia 1 de março, bombardeando o acampamento de militantes das FARC e matando indiscriminadamente, inclusive uma estudante mexicana que fazia um trabalho universitário. Em outras palavras, os computadores foram pegos sem qualquer acompanhamento pericial ou ordem judicial. Qual tribunal, no mundo, aceitaria estas provas? Só o Bush, é claro!

Mas, então, passei para a segunda fase do meu estudo e resolvi pesquisar. Descobri que o tal relatório da Interpol está disponível, na íntegra (94 páginas), para quem entender espanhol. Basta acessar aqui.

Passei a ler o relatório (não terminei ainda) e encontrei contradições enormes entre o que nossa imprensa está noticiando e o texto dos peritos.

Em primeiro lugar, o chefe da Interpol deixa claro que “o conteúdo dos discos rígidos não foram analisados”. Os peritos apenas declaram que [b] os discos rígidos externos [/b] não foram alterados. Os “discos”, não o conteúdo!

Na página 31 do relatório, encontramos uma informação muito importante. Os técnicos da Interpol afirmam que “as autoridades colombianas manipularam os índices dos arquivos e as memórias do computador”, concluindo que “o acesso aos dados contidos nas citadas provas não se ajustou aos princípios reconhecidos internacionalmente para o tratamento de provas eletrônicas por parte de organismos encarregados da aplicação da lei”. Precisa dizer mais?

Algumas páginas adiante, o relatório da Interpol diz que os discos rígidos externos foram “apagados no dia 3 de março” (ou seja, dois dias depois do ataque), em horários diferentes. Os peritos dizem ainda que “os três discos rígidos externos e as três chaves USB haviam sido conectados a outro computador, entre 1 e 3 de março, sem que tenham sido feitas cópias prévias, com imagens forenses de seus conteúdos e sem ser empregado dispositivo de bloqueio de novas escritas (write-blokers)”.

Bem, agora cada um pode tirar sua conclusão dos fatos. Convido a lerem o relatório... É um pouco longo, mas não deixa dúvidas de mais uma armação de Bush, Uribe e Cia, com o apoio da nossa grande imprensa tão preocupada com a “liberdade de expressão”.

Texto: Ernesto Germano Parés

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