Oficinas para ensinar os alunos a comer melhor?????
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo achou que tratei de forma jocosa as oficinas organizadas para ensinar alunos a comer melhor.
Só para refrescar a memória do leitor, encasquetei com o uso da palavra oficina, utilizada em tempos idos para designar local onde se consertam carros.
Segundo o moderníssimo idioma, oficina pode ser qualquer coisa. Eu caí na besteira de criticar a Secretaria da Educação e fui brindado com uma nota de esclarecimento nada educada e, se me permitem a observação, mal escrita, compatível, talvez, com o nível do ensino no Estado mais rico da federação. Até aí, tudo bem.
Como diz meu vizinho, “faz parte”.
Eis, porém, que caem em minhas mãos os resultados com o desempenho dos alunos do ensino público de São Paulo em recente rodada de testes. A julgar pela arrogância da resposta da Secretaria da Educação, imaginei que nosso Estado apresentaria aquela medalha reluzente de honra ao mérito, aquele 10 com louvor que a gente enche a boca antes de proclamar ao mundo. Mas que decepção, que tristeza. Não, leitor, não imagine um 5 magricelo, tampouco o 4 com ar de falência múltipla dos órgãos. São Paulo levou mesmo a nota 1,41 na escala de zero a dez, o que significa o seguinte: nossos alunos não estão aprendendo nada de matemática, português, história ou biologia. Se individualmente tirar 1,41 de média é um desastre ferroviário, imagine agora o conjunto de todos os alunos de São Paulo produzindo este resultado??? Bom, pensei, se a secretaria está com esta empáfia diante deste verdadeiro apagão educacional, se eles se dão ares de gente culta, faço conjecturas sobre como seria o salto alto se eles conseguissem um resultado decente.
Imaginei (notem a minha inocência!) que diante deste número abaixo do paupérrimo, a secretaria iria organizar imediatamente diversas oficinas (com direito a funilaria, pintura e martelinho de ouro) para tirar a educação paulista deste abismo. Reparo com tristeza, porém, que nossos prezados tucanos continuam freqüentando os bons restaurantes dos Jardins, viajando para Paris e já preparam sua jornada de inverno em Campos do Jordão, onde, cultíssimos, acompanharão o Festival de Inverno... Tudo feito com ética e cashmere amarrado no pescoço.
Esta nota 1,41 dos alunos do ensino médio é uma tragédia. É resultado da má remuneração e desrespeito com os professores, do embuste da progressão continuada, de falta de metas e comando sério. Como bem disse Antonio Ermírio de Moraes, empresário acima de qualquer suspeita de partidarismos, a situação do ensino em São Paulo é “lamentável”, “uma calamidade” (expressões empregadas por ele em artigo na “Folha de S.Paulo”). Assim, vamos continuar com várias oficinas, talvez elas nos levem à redenção. Quem quiser acreditar nessa papagaiada que acredite.
MARCELO PARADA
é jornalista. Escreve às sextas-feiras.
Fonte: Jornal do Metro
Só para refrescar a memória do leitor, encasquetei com o uso da palavra oficina, utilizada em tempos idos para designar local onde se consertam carros.
Segundo o moderníssimo idioma, oficina pode ser qualquer coisa. Eu caí na besteira de criticar a Secretaria da Educação e fui brindado com uma nota de esclarecimento nada educada e, se me permitem a observação, mal escrita, compatível, talvez, com o nível do ensino no Estado mais rico da federação. Até aí, tudo bem.
Como diz meu vizinho, “faz parte”.
Eis, porém, que caem em minhas mãos os resultados com o desempenho dos alunos do ensino público de São Paulo em recente rodada de testes. A julgar pela arrogância da resposta da Secretaria da Educação, imaginei que nosso Estado apresentaria aquela medalha reluzente de honra ao mérito, aquele 10 com louvor que a gente enche a boca antes de proclamar ao mundo. Mas que decepção, que tristeza. Não, leitor, não imagine um 5 magricelo, tampouco o 4 com ar de falência múltipla dos órgãos. São Paulo levou mesmo a nota 1,41 na escala de zero a dez, o que significa o seguinte: nossos alunos não estão aprendendo nada de matemática, português, história ou biologia. Se individualmente tirar 1,41 de média é um desastre ferroviário, imagine agora o conjunto de todos os alunos de São Paulo produzindo este resultado??? Bom, pensei, se a secretaria está com esta empáfia diante deste verdadeiro apagão educacional, se eles se dão ares de gente culta, faço conjecturas sobre como seria o salto alto se eles conseguissem um resultado decente.
Imaginei (notem a minha inocência!) que diante deste número abaixo do paupérrimo, a secretaria iria organizar imediatamente diversas oficinas (com direito a funilaria, pintura e martelinho de ouro) para tirar a educação paulista deste abismo. Reparo com tristeza, porém, que nossos prezados tucanos continuam freqüentando os bons restaurantes dos Jardins, viajando para Paris e já preparam sua jornada de inverno em Campos do Jordão, onde, cultíssimos, acompanharão o Festival de Inverno... Tudo feito com ética e cashmere amarrado no pescoço.
Esta nota 1,41 dos alunos do ensino médio é uma tragédia. É resultado da má remuneração e desrespeito com os professores, do embuste da progressão continuada, de falta de metas e comando sério. Como bem disse Antonio Ermírio de Moraes, empresário acima de qualquer suspeita de partidarismos, a situação do ensino em São Paulo é “lamentável”, “uma calamidade” (expressões empregadas por ele em artigo na “Folha de S.Paulo”). Assim, vamos continuar com várias oficinas, talvez elas nos levem à redenção. Quem quiser acreditar nessa papagaiada que acredite.
MARCELO PARADA
é jornalista. Escreve às sextas-feiras.
Fonte: Jornal do Metro
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