22 novembro 2005

Vou dar uma surra no senador Virgílio
Por Lula Miranda


Olhe que lá se vão mais de vinte anos que não uso esse tipo de linguagem ou expediente: esse de “dar uma surra”. Desde os tempos (idos) em que era um moleque e tinha que sobreviver às leis das ruas, e mostrar assim que não era um “covardão”. Isso lá na década de 1970, na longínqua península Itapagipana, espécie de quase-periferia da cidade de Salvador, na Bahia, onde se situa, inclusive, a igreja do Senhor do Bonfim – do qual, você que acompanha minhas crônicas aqui bem o sabe, sou fiel devoto.
Assim como em meus tempos de moleque de rua, na luta contra os bandos (ou gangues) de “Boca de Velho”, “Bacurau” e “Carlinhos Mocofaia”, verdadeiros “tranca-ruas” do pedaço (sim, se amolecesse os caras literalmente, para a vergonha dos que ali habitavam, fechavam a rua mesmo), tenho um encontro marcado com o senador Artur Virgílio. Talvez fosse mais correto e previdente dizer com o cidadão Artur Virgílio, já que esse “encontro” se dará com ele na sua condição de cidadão.
Esse acerto de contas já tem até data e horário mais ou menos certos. É que fiquei sabendo por esses dias, por intermédio dos jornais, que esse senhor, atualmente senador da República, irá correr a São Silvestre (disse ele até, em tom de pilhéria e provocação, que iria chegar bem à frente dos parlamentares petistas que iriam participar da corrida). Como ele recentemente andou ameaçando dar uma surra no presidente da República, e como o atual primeiro mandatário da nação é “um dos meus”, por assim dizer, resolvi, como se dizia em meus tempos de moleque e se diz, parece-me, ainda hoje, no meio da “bandidagem”, assumir essa “bronca” em nome do presidente – já que este não pode se dar a essas baixarias, devido à liturgia (e responsabilidade) do cargo, certamente. E, afinal de contas, alguém precisa encarar essa “parada” com esse cidadão. Você deve estar observando que estou esforçando-me para manter o “debate” (talvez fosse melhor dizer embate) no mesmo nível (rés ao chão) proposto pelo senador Virgílio – líder do PSDB no Senado da República (por mais incrível que isso possa parecer).
Tá certo que eu não deveria (sim, também eu), na condição de poeta e cronista, de fato, utilizar-me, a essa altura da minha vida, desse linguajar e expediente, mas, veja bem, se um senador da República assim o disse, eu também posso dizer – ou maldizer. O que, em certo sentido e por uma certa ótica, é mesmo uma pena, pois isso não é exemplo que se dê aos nossos jovens – preocupo-me bastante nesse sentido já que alguns professores lêem minhas crônicas em sala de aula para os seus jovens alunos. Mas, talvez, pensando melhor, seja mesmo até bom que os jovens aprendam a reconhecer, já na sala de aula, a indigência vocabular e mental dos “escritores” de hoje e, principalmente, que também aprendam que os senadores da República já não são assim tão senadores, assim como os deputados já não são assim deputados de fato e a República já não é assim nenhuma República – mais ou menos como naquela propaganda de uma certa marca de eletrodomésticos.
Mas o fato inconteste é que não posso perder essa oportunidade única de dar uma lição nesse senhor. Ele autodeclara-se ex-vice-campeão brasileiro de Jiu-Jitsu. Eu, da minha parte, declaro que fiz 10 anos de capoeira (capoeira Angola, se fosse Regional o estrago seria ainda maior) e sou também faixa preta de Taekwondo, 6o dan – na base do gogó, meu chapa, vale tudo. Então, como se pode ver, afora o alto nível do debate e da linguagem empregada, o embate promete ser bastante interessante, algo como um vale-tudo – como aquelas lutas bestiais e sanguinárias que passam na TV (e ainda dizem que aquilo é esporte).
Olhe, que fique claro de antemão, eu não gosto de pegar ninguém de turma – como dizíamos nos velhos tempos. Prefiro o “mano a mano”. Mas, caso alguém aí também tenha alguma bronca com esse senhor, esclareço, para os que não sabem, que a corrida de São Silvestre é realizada na cidade de São Paulo, todo fim de ano, pra ser mais preciso no dia 31 de dezembro à tarde. Vou pegar o sujeito na subida da Avenida Brigadeiro Luis Antônio – por motivos estratégicos, claro. Portanto, não adiantará a “Vossa Excelência” esconder-se no chamado pelotão de elite ou no de autoridades: o pau vai comer. Na subida da avenida Brigadeiro, todo mundo é reles plebeu e mortal.
Vai ser uma sova e tanto, pode apostar. E em público. E, mais do que isso, em cadeia nacional de TV – ao vivo e em cores! Cá para nós, para mim pelo menos, vai ser o melhor réveillon de todos os tempos. E para você, caro leitor? Encara essa parada? Encontro você por lá. Ou, caso não seja dado a essas refregas (ou baixarias), e prefira assistir pela TV, já pode ir convidando os amigos, comprando a cerveja, os salgadinhos e os rojões. Vai ser um espetáculo e tanto. Não se esqueça: será na subida do Avenida Brigadeiro Luis Antônio, já bem próximo a esquina da Avenida Paulista. Até lá.

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