09 dezembro 2008

Centrais mobilizam 35 mil em Brasília pelo desenvolvimento

Centrais mobilizam 35 mil em Brasília pelo desenvolvimento



Trabalhadores defendem redução dos juros e do superávit e investimento dos recursos no mercado interno


Vindos de todos os cantos do país, mais de 35 mil trabalhadores, sob forte chuva que atingiu o Plano Piloto, ocuparam a Esplanada dos Ministérios, nesta quarta-feira (3), para defender medidas que afastem os efeitos da crise internacional do Brasil e mantenham o crescimento econômico e a geração de empregos. A manifestação fez parte da já tradicional Marcha Nacional da Classe Trabalhadora, que este ano chegou a sua quinta edição.

Embora portando uma pauta com 18 propostas, a redução da taxa básica de juros foi a frase mais proferida pelos dirigentes da CUT, Força, CGTB, CTB, Nova Central e UGT, que além de marcharem por mais de seis quilômetros do estádio Mané Garrincha até o Congresso, tiveram uma agenda cheia de reuniões com representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário.

“Viemos mostrar ao presidente Lula que a classe trabalhadora está unida e mobilizada para defender as medidas necessárias para não deixar que o Brasil seja atingido pela crise. A primeira, e mais importante delas, é que é preciso parar com essa política econômica perversa de juros nas alturas. É preciso dar uma demonstração para a sociedade e abaixar os juros. Em segundo lugar, precisamos controlar o fluxo de capitais, dar um basta na farra das multinacionais, que remetem bilhões para as suas matrizes e aparecem de pires na mão diante do governo para pedir dinheiro, ameaçando com demissões. Não somos contra as empresas remeterem lucros, mas não da forma como está sendo feito. Uma parte do dinheiro deve ser reinvestido no Brasil”, afirmou o presidente da CGTB, Antonio Neto.

Após a caminhada, os trabalhadores realizaram um ato político em frente ao Congresso Nacional, contando com a presença de uma série de parlamentares que foram manifestar o apoio às reivindicações das centrais. Um deles a discursar, o deputado Vicentinho (PT-SP), foi portador da notícia de que duas das bandeiras da Marcha haviam tido um andamento significativo neste mesmo dia. O parlamentar informou que a Convenção 151 da OIT (que regulamenta a negociação coletiva no serviço público), tinha sido aprovada na Comissão de Trabalho da Casa e seria remetida ao Plenário. A segunda viria a se concretizar logo a tarde, quando o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, anunciou que pediria regime de urgência para a tramitação do projeto que prevê a redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução de salário.

Encerrada a manifestação, considerada a maior das cinco já realizadas, os dirigentes das centrais foram recebidos, inicialmente, pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, e na sequência pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. De acordo com o presidente da CUT, Artur Henrique, as centrais foram dar seguimento à agenda apresentada para o ministro Dulci e para o próprio presidente Lula na semana passada.

Artur afirmou que as centrais cobraram do governo urgência na criação de mecanismos que proporcionem, por um lado, que o dinheiro liberado pelo governo através do compulsório e dos empréstimos públicos chegue às empresas e, por outro, que os financiamentos assegurem contrapartidas sociais. O presidente cutista disse que é um absurdo uma empresa como a Vale do Rio Doce, que recebe financiamentos do BNDES, que tem participação acionária de fundos de pensão das estatais, anunciar a demissão de 1.400 trabalhadores.

“Nós queremos que o governo reduza os juros, para que o dinheiro chegue na produção. Queremos que o governo baixe o superávit primário, para que sobre dinheiro para investir na infra-estrutura. Nós precisamos que o governo acabe com o fator previdenciário. Queremos que o governo corrija a tabela do imposto de Renda e propomos que o governo faça uma nova tabela par quem ganha mais, pague mais, e quem ganha menos, não pague imposto. Nós queremos também aumentar as parcelas do seguro desemprego. Queremos ainda que todas as empresas que recebem dinheiro público garantam os empregos dos trabalhadores”, destacou o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva (Paulinho), ao discursar no final da Marcha.

No documento entregue pelos sindicalistas, assinado pelos presidentes da centrais citadas acima e pelos presidentes da UGT, Ricardo Patah, e da NCST, José Calixto Ramos, os trabalhadores enfatizam que a desregulamentação da economia pelo modelo neoliberal provocou a crise e que é necessário uma maior intervenção e controle estatal na atividade econômica. “Assim, é fundamental uma intervenção rápida, correta e decisiva do Estado brasileiro, para impedir que estes efeitos se espraiem sobre todos os setores, interrompendo bruscamente um processo de crescimento econômico em curso desde 2004”, diz o texto.

Segundo o presidente da CTB, Wagner Gomes, a marcha teve o objetivo de “dizer que o governo precisa baixar os juros, para dizer que o superávit deve ser usado em investimentos”.

A CUT ainda agendou para depois da V Marcha um ato público em frente ao Ministério do Trabalho, cobrando o envio e a aprovação do projeto de lei que institui a contribuição negocial, além da revogação da instrução normativa que institui o desconto da contribuição sindical para os servidores públicos.

Por Alessandro Rodrigues

Fonte: Hora do Povo

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