21 dezembro 2008

[Vila Vudu - Barracão Vambora ocupá tuuuuuuuuuudo]: Sobre reescrever e OCUPAR escritos dos ôtro

[Vila Vudu - Barracão Vambora ocupá tuuuuuuuuuudo]: Sobre reescrever e OCUPAR escritos dos ôtro

D. Eliane,

O meu Gato Filósofo hoje acordou re-escritor. Eu no banho, e ele já miando ordens, em miados de barítono-sexy, à Thomas Hampson: "Venha logo. Hoje, re-escreveremos. Re-escrever é uma arte."

Ninguém faz nem arte nem re-arte coisa-que-preste, sem tomar café. Obriguei-o a esperar.

Enquanto eu tomava café, o Gato Filósofo filosofava, andando de um lado para o outro, pensando em voz alta, criando um clima: "Deleuze escreveu, sobre Kafka, que Kafka mudou o mundo pq rompeu com tudo que havia antes dele. Ao romper (com tudo que havia antes dele), Kafka mostrou o que era a literatura que havia antes dele. Romper é uma arte."

"Deleuze, Gato?!" -- resmunguei, do chuveiro. -- "Será possível que o único gato do mundo que lê Deleuze seja o MEU gato?! Tinha de acontecer comigo!" -- Sou resmunguenta, de manhã.

"Seu gato?" -- meu Gato Filósofo quase-riu. -- "Não sou seu Gato: eu possuo você, cada vez que você me possui. E só. Ninguém é de ninguém. Na vida tudo passa."

"Samba-canção, não, Gato, não!" -- gemi eu. -- "É demais, é demais! Prefiro Deleuze. OK. Re-dite, que eu re-escrevo". -- Eu, meia hora adiante, já re-rendida e re-apaixonada. "Comé esse re-negócio aí de re-escrever?"

E o Gato Filósofo: "Reescreva: Dona Eliane Cantanhede é mulher riquíssima, que manipula reais, dólares, bancos, corações, mentes e bolsos privados e públicos com enorme eficiência, mas jamais se ouviu falar num investimento dela produtivo e de interesse para o Brasil e os brasileiros. D. Eliane é um excelente exemplo do admirável mundo dos papéis."

E eu: "Páre com isso, Gato! Dona Eliane é pobre. Ela vive do salário merreca que a Folha de S.Paulo lhe paga, acrescido de mais umas merrequinha-lá que o marido dela recebe da tucanaria e do PFL, daquela empresa de marketação da tucanaria-uspeana-pefelê, eternamente udenista e golpista, no Brasil. Que riqueza vc acha que o PFL tem, hoje, pra alugar jornalistas?! Q nada! O PFL e o PSDB tá tudo pobre pácas! Eles sifu."

E o Gato: "Daniel Dantas também é pobre, se comparado a outros, por aí. A riqueza é o que menos importa. A parte que importa é que, como Daniel Dantas, D. Eliane também vive de manipular reais, dólares, bancos, corações, mentes e bolsos privados e públicos com enorme eficiência, mas jamais se ouviu falar num investimento dela que fosse produtivo e de interesse para o Brasil e os brasileiros. D. Eliane é um excelente exemplo do admirável mundo dos papéis, quero dizer, dos jornalóides brasileiros, dos derivativos podres, tudo papel e tudo podre."

D. Eliane é Daniel Dantas: farinha do mesmo saco, os dois. Os dois reinam no mundo dos papéis impressos, na Rua Barão de Limeira ou na Casa da Moeda ou no STF. Que diferença haveria?!"

Os jornalóides brasileiros permitiram, anos a fio, que o tal de "Dantas" deitasse e rolasse à sombra dos governos da tucanaria.
Depois, os DES-jornalões brasileiros envenenaram a investigação dos crimes do tal de "Dantas"...

Agora, aí, hoje, D. Eliane faz-se de superior. Não faz mal: só a luta ensina. Eles escrevem e nós reescrevemos.

Basta a gente romper, como disse Deleuze, a muralha da tal de porra de 'credibilidade' monofônica dita 'jornalística'. Achar uma brecha, entrar e ocupar os discursos deles. Dantas está devindo D. Eliane. Dona Eliane está devindo Dantas... Todo mundo, aí, sifu, direitin-direitin. Re-escrevamos. OCUPEMOS, de vez, as colunas deles: "reescrever, como máquina de guerra". Só a Internet salva. A Internet é fiel. Ponto. Despache."

Dá-le Gato, sô! Tô re-a-pa-i-xo-na-da! OBA!


ELIANE CANTANHÊDE

Fora o gasto extra...

(Folha de S.Paulo, 5/12/2008, aqui)

BRASÍLIA - Daniel Dantas é um homem riquíssimo, que manipula reais, dólares, bancos, corações, mentes e bolsos privados e públicos com enorme eficiência, mas jamais se ouviu falar num investimento dele produtivo e de interesse para o Brasil e os brasileiros. É um excelente exemplo do admirável mundo dos papéis, agora dilacerado e dilacerando a economia real -os empregos, principalmente.

Mas, por mais que juízes e delegados justiceiros e a opinião pública exijam, Dantas não pode e não está sendo condenado por ser o que é, com toda a sua carga de simbologia.

Aliás, não está sendo condenado nem mesmo pelos crimes citados no inquérito, de formação de quadrilha, evasão de divisas e desvio de dinheiro público. Nada disso.

A condenação a dez anos de prisão e multa pesada foi por algo bem mais prosaico e concreto: tentativa de suborno de policiais federais.
Seus prepostos deram azar. Escolheram os policiais errados.

Isso reequilibra o jogo. O único de fato punido era o delegado Protógenes Queiroz, que recebeu um santo justiceiro, passou do ponto e acabou perdendo a missão e até o posto de elite na PF. Agora, Dantas também está punido.

O bom da história é que, apesar de todos os erros, ou exatamente por causa deles, tudo isso tem servido como uma aula nacional de democracia, sobre limites, excessos, deveres, direitos e o respeito às leis -que não se restringem aos interesses de um indivíduo, mas à coletividade onde ele está inserido.

E o ruim da história é que a população continua exausta com a impunidade dos ricos e poderosos que driblam as leis e chutam a Justiça para o alto. Como qualquer um é capaz de apostar, Dantas foi condenado à prisão, mas nunca será de fato preso. Continuará vivendo como sempre viveu, administrando papéis e honras, só com esse gasto extra para pagar advogados. Até que a sentença real e concreta chegue. Se é que ela chegará algum dia.

Enviado por Caia Fittipaldi

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