22 dezembro 2008

[Vila Vudu - Barracão Gabriel Tarde]: Carta aberta à Folha de S.Paulo(sobre 'Círculo de leitores' e 'críticas' ao jornal)

[Vila Vudu - Barracão Gabriel Tarde]: Carta aberta à Folha de S.Paulo(sobre 'Círculo de leitores' e 'críticas' ao jornal)

Senhores,

Somos um grupo de cidadãos que se reúne, há anos, para ler e criticar a FSP.
Entendemos que, assim, fazemos valer o nosso rico dinheirinho, porque a FSP é produto industrial VENDIDO a consumidores. É como sabão em pó: assim como OMO auto-anuncia-se, ele mesmo, como "o que lava mais branco", assim também a FSP auto-anuncia-se, ela mesma, como "a que informa melhor". O Estadão, por exemplo, auto-anuncia-se aos leitores como "o jornal que pensa ÃO" [risos, risos!]. A FSP, falando pela boca de um rato, garante que "não tem rabo preso". Demonstrasse, por exemplo, com jornalismo de melhor qualidade, que não tem rabo, e já estaria de bom tamanho!
São, todas essas frases, slogans que implicam propaganda enganosa, tanto no caso de OMO, quanto no caso do Estadão, quanto no caso da FSP.
Se o jornal é vendido, tem de valer o que custa -- e custa caro; então, tem de valer muito, ou o rico dinheirinho do consumidor é desperdiçado.
Sobretudo: se o jornal é vendido em troca de "serviços jornalísticos", ou bem o jornal presta os tais "serviços jornalísticos" ou, é claro, serve rigorosamente para naaaaaaaaaaaada e implica assalto à boa fé do consumidor e entrega de serviço-zero ou de serviço de má qualidade.
Nosso grupo, aos poucos, foi aprendendo muito, nem tanto sobre o dito 'mundo' -- pq, sobre o dito 'mundo', só se aprende, mesmo, no mundo e, além do mais, a internet oferece informação muito mais diversificada e, cada dia mais, gratuita -- mas, sim, sobre o próprio jornal, o jornalismo brasileiro e os jornalistas brasileiros ativos por aqui, nesse início de século.
Nessa dupla condição de (1) consumidores pagantes e (2) cidadãos eleitores que gastam o próprio dinheiro para obter informação (e jamais obtemos coisa melhor que opiniões de Danuzas e de ex-qquer-coisas dos ex-governos do ex-FHC-ex-sociólogo e atual NADA), vimos aqui declarar nossa opinião sobre a Folha de S.Paulo.
Para começar, não entendemos bem que diabo de critério teria sido usado para 'selecionar' os assinantes a serem ouvidos.
Que se saiba, o único critério socialmente validado para que alguém possa ler e criticar a FSP é o pagamento, seja à empresa publicadora seja ao jornaleiro. Dando-se barato que se tenha usado alguma técnica amostral para selecionar os assinantes a serem ouvidos, vale então anotar que o que abaixo se lê [vide adiante, em (1)] NÃO MANIFESTA, com certeza absoluta, a opinião do nosso grupo de consumidores pagantes, de leitura e crítica da FSP.
Dado que a empresa não seleciona seus compradores senão pelo pagamento adimplido, não se entende por que, depois, a mesma empresa meter-se-ia a selecionar por amostragem estatística os seus criticadores. É burrice. É má fé. Ou é golpe contra a boa-fé dos leitores-consumidores.
Criticar é atividade complexa.
Há quem critique para preservar e deixar-como-está; há quem critique para transformar; há quem critique para detonar & estamos conversados; há quem critique para conhecer; e há muitas outras espécies de críticas e de criticadores. Uma autopsia, por exemplo, é uma espécie de análise crítica. Pôr um filho no mundo é outra espécie de crítica, menos analítica e mais esperançosa. A crítica do patrão ao empregado JAMAIS será idêntica à crítica do empregado, ao patrão. A crítica da mãe ao filho JAMAIS será idêntica à crítica do filho à mãe. A crítica da amante abandonada JAMAIS será idêntica à crítica do amante abandonador, e assim por diante, e a multiplicidade tende ao infinito.
Sob esse argumento pedestre, simples, fácil, do bom, não conseguimos ver o que haveria de "crítica" em alguém declarar que algum jornal ideal "deve fiscalizar atos dos poderes públicos". Por quê "deve"?! Quem, diabos, afinal, 'deve' criticar poderes eleitos, em Estado Democrático de Direito e sob governo democrático?! Quem, diabos, além do ELEITOR?!
Quisesse mesmo criticar com legitimidade social indiscutível, a FSP que criticasse bancos, empresas imobiliárias, quaisquer outras empresas, a Fiesp e a Febraban, por exemplo! Aí, sim, tudo bem.
De onde, diabos, viria a legitimidade para que se outorgue a alguma empresa privada -- seja jornal, seja banco, seja o tráfico de drogas -- algum direito de "fiscalizar atos" de algum poder público, em sociedade democrática?
Quem, algum dia, votou em algum jornal, jornalista ou colunista-de-jornal, de modo que os legitimasse, pelo voto democrático, a fiscalizar alguma coisa ou alguém ou (e sobretudo!) algum poder PÚBLICO, em sociedade democrática e sob Estado Democrático de Direito?!
Quem fiscaliza o jornal metido a fiscalizador, aí?!
E se for o jornal do Bispo?! E se for o jornal do Ali Kamel?! E se for o jornal da Opus Dei?! E se for o jornal do governador Serra-erra-erra?! Ou do Aecinho?!
Quem, diabos, algum dia, votou em alguma D. Eliane Cantanhêde?! Em algum Clóvis Rossi?! Em alguma D. Danuza (argh!)?!
De onde, diabos, viria a legitimidade desses jornalistas (e D. Danuza, por exemplo, que é semianalfabeta, nem jornalista é?!) para que se ponham, diariamente, a entupir a cabeça dos eleitores brasileiros com suas opiniões SEMPRE personalíssimas e fascistizantemente repetidas, incansavelmente, tooooooooooooooooooooooooooooooooooodos os dias?! E opiniões pelas quais o cidadão-eleitor-consumidor tem de PAGAR para ler?! Como assim?!
Onde já se viu pretender aferir DESEJOS... por amostragem estatística?!
Além disso, antes de fingir que lhe dá atenção (e, mesmo assim, só lhe dá atenção marquetológica e NUNCA lhe dá atenção política e democrática!), a FSP deveria fazer examinar a cabeça de leitor que diga que deseja (deixamos sem comentar, aqui, esse 'desejo'. Por que nos interessaria algum 'desejo' aferido por amostra [?!], se o NOSSO DESEJO jamais é considerado FSP, apesar dos HECTARES de msgs que nós enviamos, há anos, para a Folha de S.Paulo, msgs que JAMAIS foram publicadas) "um jornal sintético e analítico".
Quem, diabos, que mereça carregar sobre os ombros o cérebro que Deus & Darwin lhe deram, 'deseja' um jornal que só faça fingir que analisa e publica 'sínteses' (?!) de análises e, sempre, sob o 'formato' do mais reles opinionismo-de-Danuza?!
No limite, considerado esse 'desejo' broxa, aí, é como 'desejar' ser obrigado a pagar (?!) para ler um livro de "respostas feitas"!
No limite, esse panacão/panacona aí, ouvido/a como 'leitor' amostralmente exemplar, está dizendo que sonha com encontrar à porta, todos os dias, capítulos do "Dicionário de Besteiras", de Flaubert, diariamente requentadas, para uso nas 24 horas seguintes! "Ereção. Jamais dizer, se não de estátuas!"
Muito mais haveria a escrever para criticar, de boa crítica democrática, por leitores PAGANTES, esse HORRENDO jornal a que está reduzido hoje a FSP. Mas é empreitada que já sabemos inútil -- e por longa experiência de JAMAIS sermos ouvidos. Essa carta está sendo escrita para ser distribuída na rede, como manifestação democrática da nossa opinião. Está sendo enviada à FSP, apenas, porque determinamos, para nós mesmos, que sempre enviaremos nossas msgs a quem seja citado nelas. Então aí está.
Ficamos pois por aqui, registrando que, no que diga respeito ao NOSSO desejo democratizatório, NÃO QUEREMOS jornal que se auto-autorize, por auto-autorização autoritária, a fiscalizar governos e poderes democraticamente eleitos -- e sobretudo: governos e poderes democráticos que NÓS elegemos com nosso voto democrático e por nosso desejo democrático. E poderes que NÓS MESMOS fiscalizamos, é claro, mediante o NOSSO VOTO DEMOCRÁTICO e a nossa livre manifestação no mundo.
Registre-se também que NÃO NOS INTERESSA jornal que 'hierarquize' notícias (por isso mesmo, aliás, NENHUM jornal nos interessa muito, embora vários nos interessem, sim, e embora a FSP nos interesse menos que muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuitos outros jornais do mundo acessíveis [e de grátis!] pela internet).
Des-hierarquizar as opiniões, isso sim!
Esse negócio de 'hierarquizar' notícias é outra invenção tola de marqueteiros tolos.
Difícil, mesmo -- pensem bem! -- seria jornal que não hierarquizasse notícias, né-não?! [risos muuuuuuuuuuitos]
Como seria, aliás, um jornal que não hierarquizasse notícias?! Seria como, o tal jornal? Toooooooooooooooooooooooodas as manchetes impressas umas sobre as outras, tooooooooooooooooooooodas numa única primeira página, que seria, sabe-se lá, bem grossa? Um cubo negro, formado de toooooooooooooooooooooooooooooooodas as manchetes e notícias impressas numa mesma única primeira página, sem verso e sem frente e sem cantos superior e inferior? Sem canto esquerdo e direito?! Sobre um mesmo único ponto negro?! Tudo mostrado num único pixel?!
Valha-nos Xangô! Quanta asneira se pergunta e quanta asneira se responde e, depois se publica, nesse 'jornalismo' de araque, movido a 'pesquisas' de araque, para 'demonstrar' platitudes!
Jornalismo auxiliador?! E quem precisa de 'auxílio' para pensar livremente?!
Quanto a jornal que "auxilie na execução de tarefas diárias do leitorado", nós todos, cá da Vila Vudu, estaríamos TOTALMENTE bem servidos na atenção à execução de nossas tarefas diárias, se a FSP vendesse, semanalmente, nas bancas, apenas o Guia de Cinema & Teatro (exposições e botecos nós sabemos onde estão, sempre, por informação direta que recebemos dos museus e galerias e dos botecos e dos amigos).
De onde, diabos, tiraram a idéia de que alguém precise de jornal impresso para "auxiliar na execução de tarefas diárias do leitorado"?!
A verdade, aí, mais uma vez, como sempre, é a que NÃO é noticiada: jornalismo enviesado, como o da D. Danuza, por exemplo, e há zilhões iguais ao dela, só aspira, mesmo, a UNIFORMIZAR as opiniões.
Para facilitar a uniformização, sim, aí, sim, a hierarquização das notícias é precioso instrumento!
Mas ninguém precisa de auxílio para pensar livremente.
Mais uma vez, nessa 'conclusão' de 'pesquisa', ouve-se -- espantosamente estridente e, de fato, cômica! -- só, só, só, a resposta idiota induzida por pergunta idiota proposta por 'pesquisador' idiota e/ou, também, por 'marqueteiro' idiota e, todos, idiotizantes. Jornalismo-zero, é o que é!
Isso aí é coisa que, de grátis, já daria prejuízo ao leitor-eleitor-consumidor de jornais, no Brasil.
Isso aí, vendido a consumidores, é flagrante violação do direito do consumidor (no mínimo, e só pra começar!)
[assina] Vila Vudu -- "Barracão Gabriel Tarde", São Paulo.
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1) Abaixo, a matéria publicada hoje na FSP, acima lida e criticada em roda, na Vila Vudu.
2) Depois, para informação dos que ainda não tenham lido, aí vai INTERESSANTÍSSIMA entrevista com Celso Tres, Procurador do Ministério Público Federal de Santa Catarina, que entrou com uma Ação Civil Pública (processo nº. 2008.72.00.014043-5) contra o oligopólio da empresa Rede Brasil Sul (RBS) no Sul do Brasil.
É sinal de que, sim, a sociedade brasileira está começando a acordar para defender, ela mesma, seu DIREITO DEMOCRÁTICO de construir e obter, nós para nós mesmos, jornalismo de melhor qualidade jornalística e, sobretudo, de melhor desejo democratizatório. O CADE é réu, no tal processo. Pronto. Taí! Um poder público democrático fiscalizando, democraticamente, outro poder público. Quem precisa da 'fiscalização' autoritária das Donas Danuzas?!
LULA É MUITOS!

Por: Caia Fittipaldi
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1) Círculo de leitores apresenta críticas e sugestões à Folha
(Folha de S.Paulo, 21/12/2008, em aqui)

Seis grupos de assinantes, selecionados pelo Datafolha, se reuniram este ano em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília

Jornal ideal deve fiscalizar atos dos poderes públicos, hierarquizar notícias e auxiliar na execução de tarefas diárias do leitorado

DA REPORTAGEM LOCAL

O leitor da Folha quer um jornal que seja ao mesmo tempo sintético e analítico, prático e interpretativo, com mais precisão e mais opinião.
Por oito meses, de março a novembro deste ano, a Folha ouviu as avaliações e impressões sobre o jornal de 60 assinantes, que participaram do projeto "Círculo de Leitores".
Eles foram convidados a opinar em seis encontros com editores -quatro em São Paulo, um no Rio e um em Brasília. Informais, as reuniões buscaram avaliar edições, recolher críticas e levantar idéias.
Os participantes esperam que o jornal exerça uma espécie de vigilância sobre os poderes públicos -publique denúncias de corrupção, cobre promessas de candidatos, fiscalize a situação das grandes cidades-, mas que também os ajude a desempenhar melhor suas tarefas diárias -traga roteiros culturais completos, dicas de compras, boas reportagens em saúde, entre outros tópicos.
Um bom jornal, dizem, precisa agir nessas duas frentes, evitando o que eles chamam de exageros.
O noticiário de política, por exemplo, deve selecionar os casos realmente importantes e acompanhá-los. "A gente se perde em tantos escândalos", afirmou uma leitora. "E depois as denúncias desaparecem, você nem fica sabendo no que deu", criticou um participante.
No aspecto mais prático, a Folha deve ajudar seus leitores a fazer as melhores escolhas -do restaurante ideal para ir com a namorada às aplicações mais seguras em meio à crise financeira.
"O jornal fala muitas vezes das ruas esburacadas, mas se esquece de colocar um telefone da prefeitura no qual o cidadão possa reclamar", observou um dos leitores.
Em comparação com TV e internet, os leitores apontam o jornal como um meio mais criterioso, de apuração rigorosa e capaz de fazer análises aprofundadas.
"A Folha aglutina esse mar de informações numa sequência lógica", definiu um assinante. Mas não basta registrar: o jornal precisa explicar, contextualizar. "Não adiantam manchetes de "dólar sobe", "dólar desce", porque isso a gente já sabe de ver na TV; o jornal precisa ajudar a entender a economia", disse um professor.
A Folha, na comparação com seus concorrentes, é elogiada por ser apartidária, crítica aos governos, de leitura fácil e por ter diagramação agradável.
E o que irrita os leitores? As reclamações mais recorrentes foram sobre "propagandas em excesso", falta de espaço para mais cartas de leitores e erros de português. A experiência do "Círculo de Leitores" será repetida em 2009. Os convidados são selecionados pelo Datafolha, segundo dados representativos do perfil do assinante.

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2) Publicado originalmente no jornal-laboratório Zero, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), edição de novembro 2008. Publicado também no Observatório de Imprensa (em deolhonacapital).

No dia 10 de dezembro, o Ministério Público Federal de Santa Catarina entrou com uma Ação Civil Pública (processo nº. 2008.72.00.014043-5) contra o oligopólio da empresa Rede Brasil Sul (RBS) no Sul do Brasil. O MPF requer, entre outras providências, a diminuição do número de emissoras da empresa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, de acordo com a lei; e a anulação da compra do jornal A Notícia, de Joinville, consumada em 2006 – que resultou no virtual monopólio da empresa em jornais de relevância no estado de Santa Catarina. O quadro geral da situação pode ser conferido a seguir, na entrevista realizada em novembro com Celso Tres, um dos procuradores que elaborou a medida judicial.

O Cade também é réu

Desde 2006, o MP fala em processar a RBS pela compra do jornal A Notícia. Isso vai acontecer?
Celso Tres – Sim, a ação está sendo instruída há dois anos, por meio de um Inquérito Civil Público (ICP), porque é bem complexa. Também participam vários procuradores no estado. A RBS tem uma posição totalmente dominante. No RS e em SC, são 18 emissoras de televisão, dezenas de estações de rádio, uma dezena de jornais. E a culminância disso foi quando a RBS comprou o jornal A Notícia, o que a tornou dona de todos os jornais de expressão dos dois estados.

Então, o que nós vamos discutir é essa questão do oligopólio à luz inclusive da lei que regula a ordem econômica, não é nem a lei da mídia propriamente dita. É tão grotesco isso, que nem essa lei que regula a atividade de economia em geral permite o oligopólio – obviamente, é muito menos lesivo numa sociedade você ter um oligopólio de chocolate, pasta de dente, do que ter oligopólio da mídia. Falo oligopólio, porque monopólio seria a exclusividade absoluta; mas a RBS tem posição quase totalitária.

A tendência da economia é a concentração e, por isso, certas compras de empresas têm que ser analisadas. Esse caso da RBS é um escândalo, ela governa o estado. Como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra do AN? O Cade é réu na ação porque aprovou isso.

Violação a direito difuso

O que vai ser requerido, especificamente, na ação?
CT – Em linhas gerais, o que o MP demanda é: primeiro, que a compra do AN seja desfeita – eles vão ter que devolver o jornal para o antigo dono ou vender para terceiros; segundo, que seja cumprida a lei que diz que eles só podem ter no máximo duas emissoras no estado, ou seja, que acabe essa farsa que é de ser tudo da mesma família; e terceiro, o que eu acho mais importante, a implementação da programação local. A Constituição Federal determinou que é obrigatória a programação local. Só que em 20 anos nunca se adequou a lei. Então, o MP está querendo que a Justiça arbitre um percentual – 30% de programação local no âmbito do estado e 15% em cada região, no mínimo.

São inúmeros réus: todas as pessoas físicas da RBS, cada "emissora", o Cade; a União, por causa do Ministério das Comunicações (MC). E o MP pede para que a Justiça estabeleça uma multa por violação a um direito difuso, em razão da omissão do poder público. A gente vai entrar com a ação nos próximos meses e a sentença em primeiro grau deve sair em um ano.

O que foi feito no Inquérito?
CT – O ICP não é um processo judicial, não tem contraditório, ou seja, quem é investigado não tem direito de resposta. Mesmo assim, o MP abriu pra RBS se manifestar e, inclusive, eles vieram com o mesmo discurso do Ministério da Comunicação. Eles [a RBS e o MC] se comunicaram, é uma piada. A mesma pessoa que redigiu a resposta do Ministério redigiu a da RBS, é uma coisa vergonhosa. O mesmo discurso: "Não, porque a lei diz que é a mesma pessoa física só que no caso não é." É chamar o legislador de imbecil.

Quando a lei diz que tu não podes ser titular de mais de dois veículos, qual é o objetivo dela? É evitar concentração. Se é da mesma família, se tem a mesma programação, está concentrado, é evidente. É uma fraude clara ao objetivo da lei. Não teria sentido proibir que alguém seja proprietário de mais de dois meios de comunicação e permitir que esse meio de comunicação transmita a mesma programação, tenha a mesma linha editorial etc. É a mesma coisa que nada.

Então o problema do oligopólio é a fiscalização?
CT – A nossa legislação é desacatada porque o uso da radiodifusão sempre foi um benefício político. Essa relação do poder público está tão viciada que o MC não faz absolutamente nada para reprimir esses ilícitos e o caso da RBS é muito claro.

Na última eleição [para governador], isso ficou bastante evidente. A tríplice aliança de Luiz Henrique foi com a RBS; foi uma vergonha porque no primeiro turno a RBS anunciava que não ia ter segundo turno. Daí, deu segundo turno e eles anunciaram até um dia antes da eleição dizendo que a diferença era astronômica e, no final, deu 5% de diferença entre o Amin e o Luiz Henrique. Então não há dúvida de que a RBS elegeu o Luiz Henrique. Independentemente da pressão política, isso é irrelevante para o MP. Mas qualquer inocente sabe que a massificação de alguém que está na frente arrasa, induz o povo a votar.

Em cada estado, um titular só pode ter no máximo duas emissoras – emissoras, não retransmissoras. Este é outro vício: as emissoras têm outorgas de emissão, ou seja, elas deveriam produzir programação, mas não produzem ou fazem uma programação local ínfima, como é o caso da RBS. Existem várias "emissoras", em Florianópolis, Criciúma, Lages, Xanxerê, Blumenau, Joinville. Mas, na verdade, elas só produzem um noticiário local.

Hoje, na verdade, em SC, ou você trabalha na RBS ou você está fora. Você vai estar trabalhando ou em órgãos bem pequenos, espaço de trabalho inclusive bastante reduzido, caso do que eles fizeram com o AN. As matérias são as mesmas, teve um momento assim que chegaram ao ridículo de colocar a mesma manchete, a mesma matéria.

A radiodifusão – emissora de rádio e TV – deve estar em nome de pessoa física, não de pessoa jurídica, e cada pessoa só pode ter duas por estado. Daí, o que eles fazem é colocar em nome de pessoas da família. E isso tudo está demonstrado claramente na ação. Inclusive a questão da retransmissão.

Dizimar a concorrência

E isso não é contrato simulado, colocar tudo no nome da família inteira?
CT – Essa questão da titularidade é uma questão criminal, porque é uma falsidade ideológica. Isso a gente vai verificar mais tarde. O objetivo, agora, é mudar a realidade. O MC diz que não controla isso porque a RBS está em nome de terceiros. É óbvio que é irrelevante que a concessão esteja no nome de A ou B, até porque – como é o caso de Blumenau, que não está no nome da família Sirotsky – retransmitem a mesma programação, essa é a grande questão, o conteúdo.

A lei diz que ter 20% do mercado é ter posição dominante e obviamente a RBS tem isso. E essa questão tem vários aspectos: direito à informação e direito à expressão, e também a questão da publicidade. Por exemplo, o Diarinho de Itajaí, o que a RBS faz com os caras? Na Rede Angeloni, faz contratos publicitários, impedindo que o supermercado coloque lá o Diarinho para os caras venderem. Então não existe concorrência, acabou. A concorrência é dizimada. Na Grande Florianópolis, eles lançaram o jornal A Hora a R$ 0,25, o que é claramente um preço inferior ao de custo, pra dizimar com a concorrência. Essas são as práticas deles.

Existe solução?
CT – A questão é permitir a multiplicidade. A rede pública de televisão, com a criação da TV Brasil, poderia ter sido uma saída, mas o governo fez tudo errado. O correto seria que o Estado disponibilizasse canais, não adianta tentar produzir programação.

Seria fácil: criar 30 canais de TV para serem disponibilizados à população. Depois seria só colocar retransmissoras públicas nos centros urbanos, para os canais transmitirem programação independente. Uma medida simples, percebe? Bastava criar os canais e construir as retransmissoras. É uma questão tecnológica e de vontade política.

Custaria muito mais barato do que o governo tentar produzir programação e todos teriam oportunidade de fazer sua produção. O governo faria as retransmissoras, pura e simplesmente. Seria uma revolução na comunicação. A mídia, em pouco tempo, mudaria porque, com uma multiplicidade de canais, o canal com maior audiência chegaria a 15%, 10%, como é nos EUA, que é o correto.

Certamente se o governo viesse "Ah, vamos fazer aplicar a lei das duas emissoras", eles iam dizer, "Não! É uma lei da ditadura! O Lula é o Chávez." É uma besteira. O que diz a lei? Cada cidadão tem que ter um número x de canais, essa é a meta. Podia botar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) isso aí. É uma questão econômica, direitos individuais, gera muito emprego, oportunidades, veiculação comercial; atingiria em cheio a própria economia.

O principal modo de democratizar não seria combater o monopólio e o oligopólio?
CT – O primeiro passo seria esse, mas, como eu falei, os órgãos do executivo são muito subalternos e também a RBS pode virar o governo. Qual a finalidade de um deputado federal que vai lá propor uma legislação mais rígida para isso? Se é um deputado de SC, a RBS vai fazer algumas reportagens contra o cara e ele está acabado. O cara não se reelege mais.

Você já foi ameaçado?
CT – Não, por isso não.

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