21 dezembro 2008

E agora Jobim? E agora, Gilmar? E agora, oposição?

E agora Jobim? E agora, Gilmar? E agora, oposição?



Apareceu mais uma complicação naquela denúncia de um grampo sem aúdio nem transcrição oficial — que mostra um diálogo entre Gilmar Mendes, presidente do STF, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Após quatro meses de investigação e duas prorrogações, onde foram colhidos 84 depoimentos, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência decidiu arquivar uma sindicância sobre a participação da Agência Brasileira de Inteligência nessa escuta que até agora ninguém ouviu. A investigação não chegou a um único suspeito nem a um único indício contra a Abin, acusada, desde o início, de ser responsável pela operação.
É um vexame que atinge várias personalidades coroadas de Brasília.
O ministro da Defesa Nelson Jobim não só acusou a Abin de ter participado da operação como, para reforçar o que dizia, lembrou que a agência possuía equipamento de escuta telefonica. (O ministro não atentou para o detalhe que o próprio Exército possui equipamento idêntico, mais apropriado para rastrear grampos do que para executá-los). Por pressão direta de Jobim, o delegado Paulo Lacerda, diretor da Abin, foi afastado do cargo. O ministro Gilmar Mendes chamou o presidente Lula às falas logo após a denúncia. Numa jornada inesquecivel, atravessou a Praça dos Três Poderes para tomar satisfação e exigir providências. Reunidos no STF, os ministros deixaram claro que prestavam solidariedade a Gilmar. O DEM, o PSDB e o PPS chegaram a divulgar uma nota dizendo que o Brasil vivia “uma situação de grave crise institucional”, expressão que costuma ser empregada para definir um quadro político gravíssimo. Comprando como verdadeira uma história que estava longe de ser esclarecida, os três partidos sustentaram que a Abin “cometeu um atentado contra a democracia com a quebra do sigilo telefônico dos presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, além de diversos senadores.” Esta grandiosa exibição de açodamento e leviandade, envolvendo autoridades que tem o dever profissional da providência, da cautela, da seriedade, deve servir a meditação de todos.
Quem falou o que não podia provar poderia cometer a gentileza de explicar-se, não é mesmo? Também seria útil que, após quatro meses, alguém fosse capaz de prestar esclarecimentos definitivos sobre a denúncia deste grampo. O blogue está muito feliz pelo que escreveu na época. Afirmei que por trás da conversa de “crise institucional” levantada pela oposição não havia mais do que uma clássica disputa pelo poder. Também recordei que, com uma oposição capaz de fazer afirmações tão levianas, o governo nem precisava de aliados.

Por Paulo Moreira Leite

Fonte: Época

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