25 agosto 2006

FALA, PRESIDENTE LULA!
(De 1980, diretamente a 2006)

É verdade que será usar canhão, pra matar camundongo. Mesmo assim vale a pena, nem que seja pra testar a potência do canhão (e só se perde um camundongo [risos]).

Aí vai uma entrevista que o Presidente Lula (então, ainda “Lula, o metalúrgico”), deu à revista O Cruzeiro, dia 30/4/1980. No dia seguinte, Lula foi preso pela ditadura (nos anos 80! Sim... a ditadura ainda prendia-matava-arrebentava muuuuuuuuuuuuuuito, sim, nos anos 80!).

O que interessa ver agora é que, nessa entrevista, o presidente Lula respondeu – com 26 anos de antecedência! – ao editorial da Folha de S.Paulo, do dia 24/8/2006 – mas publicado como ‘matéria opinativa’ –, de um Friazinho-filho[1]...

Pura verdade, Presidente Lula: “ninguém muda!” Mas, sim, há jornais que, sim, em quase 30 anos, no Brasil, mudaram pra MUITO pior!

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FALA, PRESIDENTE LULA! (De 1980, diretamente para 2006)[2]

“Numa determinada época, os empresários tentaram me usar, quando a gente ainda estava na fase da censura, na fase do que se chamava “restabelecimento da democracia” [risos].

Eu não conheço ninguém dos grandes conglomerados que se dê bem comigo. Acho que, em determinado momento, eles acharam que eu poderia ser a solução para eles e não a solução para minha classe.

A partir do momento em que ficou bem claro que eu seria mais importante para a minha classe do que para eles, eles passaram a achar que eu era inimigo deles.

Então... As cartas estão na mesa e quem for mais esperto ganhará o jogo democrático.

ENTREVISTADOR de O Cruzeiro [1980] – Se entendi bem sua resposta, está certo quem diz que sua liderança cresceu muito porque chegou até a ser incentivado pelos empresários, que, a determinado momento, do qual hoje devem se arrepender muito, acharam que poderiam manipulá-lo. É isso?

Lula [1980] – Em determinado momento, determinados setores da imprensa acreditaram que eu poderia ser aquilo, uma espécie de parâmetro, para que eles pudessem realizar os seus planos empresariais.

A partir do momento em que eu comecei a defender com muito mais intransigência a classe trabalhadora, a independência da classe trabalhadora, a gente começou a compreender que esses empresários, tentaram usar a gente. E, como não conseguiram, passaram a tentar me queimar.

Podemos discutir qualquer assunto, porque aquilo que a gente dizia há cinco anos [em 1975], a gente continua afirmando hoje. Acreditamos que as soluções para os problemas da classe trabalhadora não estão na mão do empresário, não estão na mão do Governo, estão na mão da própria classe trabalhadora. E por isso, estamos brigando.

É necessário que as pessoas entendam uma coisa: as mesmas reivindicações que eu estou fazendo agora quem me acompanha sabe que eu fazia em 1976, em 1977, em 1978, em 1979.

É a petulância da classe empresarial. (...) Nada mudou. (...) Só mudou, neste País, é que, a partir de um certo momento, começou a cair a máscara dos empresários, desses pseudodemocratas, desses que se diziam democratas. Eles mostram que só queriam dividir os prejuízos e nunca os lucros, como eu sempre denunciei. São eles que dizem que eu estou pedindo demais.

As pessoas que dizem que eu estou pedindo demais devem analisar o que o Sindicato reivindicava em 1953, o que o Sindicato reivindicava em 1963, o que o Sindicato reivindicava em 1973, e comecem a analisar não para 1980, mas para o futuro, o que o movimento sindical vai reivindicar.

E vão verificar que o Lula não reivindicava nada mais nada menos do que os trabalhadores do passado, do presente e do futuro.

Eu não tenho obrigação de dar explicações de por que as pessoas conversam comigo, por que são minhas amigas, por que me cercam.

Você [para o repórter], que faz tanta pergunta, deveria parar e pensar. Você acha que você é muito diferente do pessoal que me cerca?

ENTREVISTADOR de O Cruzeiro – Não teria sido preferível você continuar como líder sindical autêntico, desvinculado da política partidária? Você não acha que sem essa vinculação você conseguiria arrebanhar apoio de segmentos importantes da sociedade, inclusive de outros partidos que não veriam então em você uma ameaça eleitoral?

Lula [1980] – Essas perguntas são sempre hipócritas. No tempo em que eu era considerado um ‘autêntico líder sindical’, em 1977, quando eu andei implorando aos empresários que me ouvissem, que evitassem a greve, que a categoria precisava de um aumento de salário... nenhum empresário atentou para a responsabilidade dos empresários em todas as greves.

Essas pessoas têm que entender é que o Lula não mudou porque está cuidando do PT, não mudou porque está cuidando do Sindicato. Mudou mesmo, na acepção da palavra, foi a mentalidade dos que se metem a me julgar. O Lula continua sendo o mesmo Lula que era em 1976, em 1977, em 1978, em 1979, em 1980. E continuará sendo o Lula de 1981. Ninguém muda, meu amigo.”

ENTREVISTADOR de O Cruzeiro – Para você, o PT é um bem ou um mal para a classe trabalhadora?

Lula [1980] – É um bem, porque eu acho que os trabalhadores têm de se organizar politicamente. As pessoas que criticam o PT querem, na verdade, que os trabalhadores deixem de se organizar politicamente e passem a votar no PTB, no PMDB, no PDS, no PC etc.

Eu acho que o que sempre faltou foi a possibilidade de os trabalhadores se organizarem politicamente. E eu não tenho pretensões político-eleitorais de me candidatar a nada. Mas, sim, é claro que tenho a tarefa, e vou tentar cumprir, de organizar o Brasil mais politicamente.

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No dia seguinte ao dia em que deu essa entrevista a O Cruzeiro, Lula foi preso pela ditadura (em plenos anos 80!).
A ‘comunidade’ Orkut, em 2006, dos adolescentes do “Lula traiu” e “Anule o seu voto”

Em 2006, essa entrevista aparece reproduzida numa dessas ‘comunidades’ de adolescentes emburrecidos, precisamente, pela MESMA ditadura que, naqueles anos 60, 70, 80, prendeu Lula – a mais importante figura do mundo político que estava nascendo naquele momento, na América Latina.

De 1980 a 2006 – período durante o qual o Brasil continuou a redemocratizar-se, Lula cresceu, adensou-se e chegou à presidência da República -, nasceram e estudaram todos os adolescentes que, hoje, no Orkut, põem-se a reproduzir o que, de fato, já nem percebem que estão reproduzindo e que só cortam-colam-repetem, como papagaios pirados... mas convencidos de que são muito ‘éticos’.

Não são nem éticos nem não-éticos: eles foram, isso sim, é totalmente ‘despolitizados’, quer dizer, foram totalmente esterilizados para a vida política democrática.

É sorte (histórica) do Brasil, afinal, que o MESMO Lula tenha sobrevivdo, daqueles anos 80 até hoje, 26 anos depois.

É sorte (histórica) do Brasil, que o MESMO Lula que se ouviu acima, tenha, em 2002, recebido impressionantes mais de 60 milhões de votos brasileiros democráticos – e que tenha sido eleito PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no Brasil, em eleições legais, legítimas e democráticas, perfeitíssimas.

É sorte (histórica) do Brasil, também, que, em agosto de 2006, já haja NOVAMENTE brasileiros POLITIZADOS em quantidade suficiente para reeleger o presidente Lula.

Não porque os eleitores do presidente Lula sejamos ‘não-éticos’, ou imbecis. É claro que somos éticos e democráticos. É claro, também, que estamos votando conscientemente, maduramente. Votando, fomos aprendendo a votar.

De diferente – pra melhor! –, se se comparam os adolescentes pirados que anulam o próprio voto, é que nós, os milhões que elegemos o presidente Lula COM O NOSSO VOTO DEMOCRÁTICO e queremos reelegê-lo, não nos deixamos nem capar, nem matar, nem emburrecer, nem enganar, nem anular (e aprendemos a NUNCA confiar em Folha de S.Paulo, Estadão, revistas NÃO-Veja).

A entrevista acima está numa daquelas ‘comunidades’ Orkut – de adolescentes imbecilizados, como ‘prova’ de que ‘Lula traiu’.

De fato, a entrevista acima só PROVA, mesmo, que só o presidente Lula, hoje, no Brasil, é capaz de ver com clareza o que REALMENTE ainda está acontecendo em 2006 – muito parecido, de fato, igualzinho, no que aqui se discute, ao que acontecia no Brasil, em 1980...

ISSO – o que sempre se repetiu na história do Brasil: a mídia partidarizada, os pobres sem NENHUM jornal –, precisamente, é o que JÁ COMEÇAMOS A DERROTAR, afinal, em 2002.

E vamos derrotar, outra vez, em 2006.

O editorial do Friazinho, hoje, na Folha de S.Paulo, já nasceu derrotado, portanto, desde, no mínimo, 1953 (e há provas). A Folha de S.Paulo e toda a turma do “anula voto” já perderam o jogo.

Tá provado: “Não anule o seu voto! O anulado pode ser você!”

Caia Fittipaldi

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