COM OU SEM MEDO DE SER FELIZ?
Fiquei pensando, onde foi que a Marta errou, onde foi que a campanha da Marta errou e cheguei na mesma conclusão que tinha chegado da outra vez que ela perdeu.
Eu ficava extasiada vendo a propaganda, as crianças dando cambalhota numa grama verde, mergulhando numa piscina azul turquesa e não compreendia como as pessoas não votavam nela.
Ficava tão na cara que ela era melhor, mais competente, mais humana, mais criativa e, sobretudo, mais feliz que o outro candidato.
Quando fui na inauguração da Galeria Olido e vi toda a população lotando o lugar, sem crachá, sem nada e olha, que era uma população da Avenida São João e tudo correndo às mil maravilhas, quando vi o Mercado Municipal com todos aqueles restaurantes no mezanino, a fonte do Ibirapuera, os túneis, tudo ficando pronto, os corredores, os pontos de ônibus, nunca antes imaginados, iluminados, com bancos pras pessoas sentarem, cobertura.
Dos CEUS nem vou falar porque sou capaz até de chorar, como chorei no primeiro que conheci.
Quando conheci o Projeto Boracéia com sua capelinha azul e seu canil para os cãezinhos dos moradores de rua, quando vi a Favela do Gato, transformada no Parque do Gato com todas aquelas cores e plantas, quando vi a mostra de cinema da gestão dela, a São Paulo Fashion Week, tudo que ela tinha pensado para o mundo fashion, quando via as praças com pista de skate, quando via minha faxineira chegando feliz em minha casa, pois já não precisava subir toda a Teodoro Sampaio a pé, depois do bilhete único, quando via as ruas pavimentadas, a última festa de aniversário, o 25 de janeiro, o réveillon na Paulista, a Parada Gay, que se transformou na maior do mundo, quando vi finalmente as sub-prefeituras realmente funcionando - anos e anos se falou nisso naquela prefeitura - a mudança para a sede nova, a Praça da Sé, o Parque D. Pedro, o Pátio do Colégio, quando ia nas sessões de psicodrama do Centro Cultural São Paulo.
Tivemos aqui em São Paulo uma reunião com sei lá quantos prefeitos da Europa e outras tantas coisas que certamente estou esquecendo, aí, eu compreendi porque ela perdeu a eleição para o outro candidato: era bom demais pra ser verdade.
A gente não ia agüentar ainda mais.
A gente não ia agüentar o CEU Saúde.
A revolução que ela prometia pra zona leste.
A Rede CÉUS.
Não é fácil a gente perder o medo de ser feliz.
O PT exige muito da gente.
Afinal, vivemos tanto tempo com tão pouco, a gente ia levando, o marido bebe, bate na gente de vez em quando, mas a gente vai relevando, no dia seguinte chuta o cachorro e tudo fica por isso mesmo.
Do outro lado do rio, a ternura há muito tempo não aparece, a burocracia invade todos os cantos das casas, por mais cantos elas tenham, a vida quase não tem sentido, mas a gente vai levando, a gente acaba se acostumando, amanhã ganha um anel de brilhante e tudo fica por isso mesmo.
Pra que mudar meu Deus?
Não tá bom do jeito que tá?
Então deixa o Kassab aí, gente.
Ele não fez o Cidade Limpa?
Então, deixa o Kassab aí, gente.
Na inauguração da Galeria Olido, existia uma instalação chamada AURORA, que embora eu tenha esquecido exatamente como, dava a impressão de uma aurora mesmo, aquele momento em que o dia nasce e eu pensei: é realmente a aurora de um novo tempo.
Há quatro anos era bom demais pra ser verdade, estaremos preparados hoje pra ser felizes?
Pra mim a questão é essa: a FELICIDADE ou deixa como está pra ver como é que fica.
Daremos o salto de qualidade ou não?
Qualquer seja o resultado das eleições de domingo, a vontade do povo é soberana, isso não dá pra negar e nem reclamar.
Mas por mais que a noite seja escura a aurora sempre vai chegar.
E se a gente quiser, se a gente realmente estiver disponível para a felicidade, ela pode chegar já.
Porque outra coisa também não dá pra negar: mas que se move (a terra), se move.
Por Sylvia Manzano
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