A popularidade e santificação do presidente
Por Aparecida Torneros em 23/9/2008
As pesquisas de opinião mostraram nas últimas semanas um momento excepcional de aprovação do presidente Inácio Lula da Silva por parte da população brasileira. Na mídia, a repercussão o colocou num pedestal de considerações e apostas. Alguns articulistas ousaram dizer que nem há oposição no Brasil atualmente e especulações em torno da sua imagem o apontaram como grande cabo eleitoral para a chamada onda vermelha que se forma, avançando para a vitória de expressivo número de prefeitos que assumirão seus municípios sob a égide do Partido dos Trabalhadores ou dos seus coligados e afins.
Sob o ponto de vista da comunicação, há na imagem do presidente brasileiro um efeito redoma, que o afasta permanentemente dos atiradores de vidraça, ou das tempestades que nem o respingam, como se sua figura, protegida por material blindado, ostentasse o lugar de inatingível, em termos de efeito em popularidade e santificação no altar dos mandatários. Cada frase sua, com reverberação multiplicadora, vira manchete no jornalismo diário, ou se projeta como adágio para motes a serem exaustivamente oferecidos ao público, sob forma de reflexão, que pode beirar o trocadilho futebolístico, um dos seus preferidos, ou a célebre expressão "nunca antes neste país", que serve de introdução para que discorra sobre os feitos do seu governo.
Na verdade, nunca antes neste país um presidente, em seu segundo mandato, esteve em lugar tão absolutamente imune ao desprestígio por tanto tempo e sob a ótica de efeitos que apresentam escândalos, ou ações da Polícia Federal, ou brigas de desafetos políticos, sem contudo afetar a imagem figurativa que o presidente Lula cunhou, com habilidade freudiana no inconsciente coletivo formado pela maioria da população brasileira, pelo menos, num espaço de tempo que o habilita a desviar-se dos ataques e manter-se em curva ascendente no gráfico das estatísticas de aceitação popular.
As expectativas do cidadão comum
A par desse quadro favorável a nível interno, tão bem esmiuçado pelos jornais, revistas, televisões e emissoras de rádio, há o fator internacional que o coloca como líder dos países do cone Sul, tal a sua postura de irmão amigo, companheiro de agruras, ou de negociador atento aos ditames de uma América em crise, que ele, inteligentemente, transfere para fora do Brasil, quando declara que a crise é para ser questionada ao Bush, e não a ele.
Há, no Lula, uma performance do velho personagem vivido por Paulo Gracindo na televisão brasileira, em seriado memorável, de autoria do grande dramaturgo Dias Gomes. O famoso Odorico Paraguassu, de interpretação magistral e grande apelo popular, era mesmo o bem-amado, o político capaz de sustentar-se no gosto positivo de correligionários e na admiração apalermada dos opositores.
Lula, o presidente brasileiro, tem características midiáticas que o mantêm aferido de forma maciça e contundente, como aprovado pelo povo, segundo as pesquisas, e ao mesmo tempo o tornam comparável, em popularidade, a figuras históricas que comandaram este país, em épocas diversas, como Getúlio Vargas nos anos 1930 e 40, e Juscelino Kubistheck nas décadas de 1950 e 60.
O presidencialismo, em nossa cultura nacional, ainda é objeto de mais-valia ao concentrar no chefe do Executivo um peso excessivamente responsável na condução da nação. Por mais que se alardeie que há poderes similares em grau de responsabilidade ou para legislar – o Legislativo – ou para fazer cumprir as Leis – o Judiciário, é no Poder Executivo que se colocam as expectativas do cidadão comum, com grau tamanho de expectativa intrinsecamente ligada à condução do seu dia-a-dia.
A rede dos "finalmente"
Lula é o querido de uma parcela importante da população que sobe de patamar e alcança melhores níveis de vida mais digna, emergindo dos índices de pobreza e miserabilidade para ter acesso a gratificantes condições de vida em qualidade e cidadania. Isso é demonstrado nas pesquisas e aferido nos gráficos dos institutos especializados, repercutindo na imprensa, além de destacar o papel do presidente como um pai amoroso, protetor e atento aos filhos necessitados de cuidado. Essa ilação é freudiana, por certo, mas corresponde a uma coletânea permanente de noticiários ultimamente publicados sobre o presidente brasileiro de intenso carisma popular, já dissociando-o inclusive do estigma partidário, quando alguns dizem que há Lula e há o PT, separando o que antes parecia indissociável.
Há que estudar o fenômeno da imagem positiva do bem-amado Lula nas lides universitárias, em teses que virão, mais adiante, sobre os anos em que um ex-operário, líder sindicalista, nordestino, tenaz, articulador, de voz rouca e marcante, assumiu a presidência da nação brasileira.
Reeleito, atingiu grau elevado de popularidade, manteve-se no topo do noticiário, e ainda se encontra na crista da onda, em termos de provocar um tsunami eleitoral, previsto para consolidar, caso os analistas não se enganem, um banho lulista, ganhando lugares em câmaras municipais ou em cargos executivos de prefeituras, formatando a rede dos "finalmente", como dizia o velho personagem Odorico, o outro bem-amado, em seus inconfundíveis e criativos discursos.
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