17 outubro 2008

Doutorado na PUC - Tema: ´Preguiça Baiana

DOUTORADO NA PUC - TEMA: 'PREGUIÇA BAIANA'


'Preguiça baiana' é faceta do racismo. A famosa 'malemolência' ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de doutorado defendida na PUC. A pesquisa que resultou nessa tese durou quatro anos.
A tese, defendida no início de setembro pela professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de 'festa eterna'.
Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano (a) mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. 'Quem se diverte é o turista', diz a antropóloga.
O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas, que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatórios contra os negros (as) e mestiços (as), que são cerca de 79% da população da Bahia.
O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros (as) e mestiços (as)não é uma coincidência. A atribuição da preguiça aos baianos (as) tem um teor racista.
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A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos (as) indolentes e preguiçosos(as), devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem- humorado (a) em regime de escravidão??? ?).
Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das imigrações da década de 40. Todos (as) os que chegavam do Nordeste viraram baianos (as).. Chamá-los de preguiçosos (as) foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores(as) nordestinos (as)(muito mais paraibanos (as) do que propriamente baianos(as), taxando-os (as) como desqualificados (as), estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de 'proteção' dos seus empregos.
Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi,
Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. 'Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil', diz Elisete. Até Caetano se contradiz quando vende uma imagem e diz: 'A fama não corresponde à
realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em qualquer lugar do mundo'.
Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente 'Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades.'
O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América latina.
Para tirar as conclusões acerca da origem do termo 'preguiça baiana', a antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores (as) em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho. O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia).
Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada).
Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil).
Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados 'desocupados' (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando
levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13° lugar.
Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado. O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos,financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).

Comentário Sylvia Manzano

É um absurdo falar da preguiça do baiano e antes do negro.

Com perdão da palavra, são uns f.d.p.

Como o preconceito se manifesta e feito erva daninha se espalha em todos os cantos do mundo, não?

Eu só faria uma perguntinha: quem lavava, engomava e passava os vestidos tão alvos, cheios de babados e rendas das sinhazinhas?

E como não dá pra parar de pensar na Marta, me veio a lembrança do que se dizia quando ela queria criar os CEUS.

Diziam que os pobres não iam saber cuidar.

Na época eu perguntava num texto que rodou a internet: se eles não vão saber cuidar, como é que atravessam os rios todos os dias e vem cuidar de nossas casas, lavar nossa roupa e alimentar nossos filhos?

Muitas famílias simplesmente não vivem sem os empregados, os pobres, mas, no entanto, dos CEUS, eles não saberiam cuidar.

E o curioso, o divino, maravilhoso, é que nunca foi registrado um roubo nos CEUS, todos eles com equipamentos caríssimos, computadores, televisões enormes, aparelhos de som, instrumentos musicais, livros preciosos nas bibliotecas.

E nunca houve vandalismo.

Uma bibliotecária chefe de um dos CEUS - que ficava numa favela, bem no centro de duas gangs – me relatou que os dois chefes das gangs mandaram um recado para a diretoria do CEU: fiquem tranqüilos, podem deixar que a gente cuida de tudo.

E por incrível que pareça a violência nunca atravessou a catraca no CEU.

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