14 outubro 2008

Em São Paulo, é esquerda contra direita

Em São Paulo, é esquerda contra direita


Emir Sader

Não há como equivocar-nos sobre o segundo turno da eleição para prefeito na cidade de São Paulo. Um candidato (Kassab) do PFL, atual DEM, que trabalhou estreitamente com Maluf e Pitta, apoiado e promovido pela elite tucana paulista, contra quem realizou o melhor programa social que a cidade já conheceu (Marta Suplicy). Marta contra Kassab. A esquerda contra a direita.
São Paulo é a cidade mais rica e mais pobre do Brasil. Tornou-se, nas mãos dos tucanos, o núcleo mais conservador do pais, o estado mais odiado pelos outros estados do Brasil, porque assume uma imagem de “vanguarda econômica”, de discriminação em relação aos outros estados, pretendendo, desde que FHC foi presidente, reassumir o espírito reacionário de 1932.

Não por acaso se constituiu em São Paulo o pior da imprensa nacional – FSP, Estadão, Veja –, instrumentos de propaganda da oligarquia paulista, para construir uma ideologia anti-popular, que se espelha no seu ódio a Lula. O bloco social e político da direita paulista representa o egoísmo de quem resiste às políticas de distribuição de renda, de incorporação dos excluídos a direitos elementares.

O ódio ao PT, a Lula, a Marta é o ódio a essas políticas, que tem em Lula seu principal agente e sua expressão simbólica. Pelo que Lula representa: nordestino chegado a São Paulo pela expulsão das secas do nordeste, operário que se forjou politicamente na oposição a essas oligarquias, discriminado por elas, odiado hoje porque promove políticas de redistribuição de renda que acusam essas oligarquias pelo que não fez quando foi governo e pelas suas responsabilidades em fazer do Brasil o pais mais desigual do mundo. O oposto a FHC, ídolo dessa classe média conservadora e da elite branca paulista.

Agora tentam fazer uma barreira similar à das oligarquias brancas de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, que tentam bloquear a chegada a reforma agrária e das políticas sociais redistributivas a seus estados conservadores. A aliança tucano-pefelista – de filhotes da ditadura com o ranço oligárquico paulista – tenta impedir que o processo de democratização social que o Brasil vive, chegue em cheio a São Paulo e afete suas bases de poder.

O PFL-DEM é o partido fundado por mentores da ditadura militar, como ACM, Jorge Bornhausen, Marco Maciel, entre tantos outros com responsabilidades diretas pela instauração do pior regime que o Brasil já conheceu em toda a sua história. No retorno da democracia, se refugiaram na aliança com o PMDB para sobreviverem e tentarem apagar seu passado e suas responsabilidades. Encontraram nos tucanos o aliado disposto a reciclar a direita brasileira para o que seria a modernização neoliberal, que quebrou a economia brasileira três vezes e provocou a maior recessão as últimas décadas, com os piores índices de desemprego que já tínhamos conhecido.

A aliança tucano-pefelista representa o que de mais conservador e reacionário tem São Paulo. Não por acaso têm o apoio unânime da imprensa diária paulista, não por acaso tiveram suas maiores votações nos bairros mais ricos da cidade e as piores nos bairros mais pobres. É a direita paulistana, com seus privilégios e falta de sensibilidade social, a que tem feito de São Paulo a cidade mais cruel do Brasil – entre miséria, trânsito anti-social, contaminação desenfreada.

Kassab tem, antes de tudo, que explicar seu papel nos governos de Maluf e de Pitta, que se apropriaram de patrimônio público e estão condenados por isso pela Justiça. O que fazia Kassab nesses governos? O mínimo que se pode dizer é que foi conivente, por ação o por omissão, com a corrupção daqueles governos.

Quem vota contra Marta vota contra a democratização social, o fenômeno mais novo na história brasileira recente. O governo de Marta realizou o melhor conjunto de políticas sociais que o Brasil conheceu. São Paulo precisa, merece, pede que esses programas sejam retomados, para que possa tornar-se um cidade humana, solidária, de que todos nos orgulhamos.

Se faltasse algum argumento para caracterizar a polarização entre direita e esquerda, o mapa eleitoral do primeiro turno mostra como o povão votou maciçamente por Marta e as elites por Kassab. Com que estará cada paulistano? Com os excluídos, os discriminados, os explorados, os oprimidos, os humilhados, que realmente constroem, com seu trabalho anônimo, cotidiano, a riqueza apropriada por suas elites. Ou com estas elites, responsáveis pela desigualdade, pela transformação de São Paulo numa cidade quase impossível de viver.

Esquerda contra direita, justiça contra desigualdades, inclusão contra exclusão, democracia social contra ditadura das elites, Marta contra Kassab – isso se joga no dia 26 em São Paulo.

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