"Solteiro sem filhos", ou: O brejo nos aguarda em São Paulo
Pra que ninguém se faça fantasias, aí vai um trecho do que lerá no Estadão quem leia o Estadão.
É da lavra de Gaudêncio Torquato (argh!). Está (inteiro) na pág. 2 do Estadão de domingo aqui.
Desnecessário dizer (eu, de fato, já cansei de repetir e não voltarei a isso) que 'argumentos' do tipo "eles perseguem o PT" (por mais que, sim, os adversários do PT 'persigam' o PT e surpresa seria se não o fizessem), NÃO RESPONDEM a esse tipo de discurso.
"Solteiro sem filhos" (mais uma semana, será "solteiro responsável, que não esquece a camisinha") e "forma exacerbada de marketing" (mais uma semana será "o marketing sem 'ética' do marketeiro de Lula) serão os motes, daqui em diante.
Por que eles acham as palavras-rótulos e nem os petistas nem os comunistas conseguem achar sequer palavras-respostas?
O brejo nos aguarda em SP.
Enviado por Caia Fittipaldi
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"O paradoxo que chama a atenção é o que cerca Marta Suplicy, de perfil progressista e inovador. Sua história, vale reconhecer, endossada pela condição de sexóloga e psicóloga, prima por se identificar com a causa das minorias étnicas e de movimentos libertários, particularmente as associações de defesa dos homossexuais. Como se explica a propaganda na contramão de sua trajetória? Como coexistem a defensora dos direitos humanos e a questionadora de um solteiro sem filhos que se candidata ao cargo de prefeito de São Paulo? Causa estranheza o fato de que o braço direito de Lula, o assessor Gilberto Carvalho, atuando na linha de frente da campanha petista, também defende a estapafúrdia pergunta. Teria ele se dado conta de que os estilhaços desse tresloucado tiroteio batem na digna ex-prefeita Luiza Erundina, eleitora da candidata?
Está em xeque a forma exacerbada de marketing que João Santana, o marqueteiro do presidente, ainda pratica. Como se sabe, as campanhas eleitorais do Brasil têm sido contaminadas por um viés que privilegia a forma em detrimento do conteúdo, apela para a emoção das massas, fabrica factóides, jogando nas nuvens as promessas mirabolantes. Santana continua a aplicar as lições aprendidas com seu mestre, Duda Mendonça. Que importa se a pergunta se veste ou não com o manto ético? O que importa é ver um eleitor preso na teia psicológica e disposto a aceitar a ordem imposta pelo marketing. E a ética? Ah, é um bicho abstrato que só interessa a intelectuais.
Acontece que esse bicho faz coceiras e deixa marcas indeléveis sobre a pele de certos candidatos, marcando-os por toda a vida. As marcas aprofundam o chamado fenômeno da rejeição. Há perfis, como de Paulo Maluf, que exibem sinais fortes da coceira. Já a candidata Marta, cuja rejeição se tem mantido na alta faixa dos 35%, apenas reforça convicções já formadas em torno de seu conceito quando mantém postura rancorosa, a denotar prepotência. Rejeição é um composto que agrega história pessoal, forma de apresentação e expressão, além do palco onde circula o ator político. Não é da noite para o dia que a coceira vai embora. Pomadas cosméticas de propaganda podem aliviar, mas não curar a doença. Uma frase mal pronunciada, um trejeito, uma pergunta discriminatória recompõem as feridas que enfeiam o corpo.
O eleitor sabe distinguir a identidade, coisa real, da imagem, sombra artificial.
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