por Ronaldo Carmona
"Sem votos no Brasil, Alckmin faz campanha lá fora". Sem receio de ter cometido um relativo exagero, esta foi a forma encontrada pelo insuspeito (de ser pró-Lula) jornalista Josias de Sousa, da oposicionista Folha de São Paulo, para comentar em seu blog a visita de Geraldo Alckmin à Europa na segunda e terça-feira desta semana.
Recebido por três portugueses - em Lisboa, o presidente Cavaco Silva e o primeiro-ministro José Sócrates, e em Bruxelas, pelo presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso -, carregando consigo o mais novo candidato a papagaio de pirata dessas eleições, Roberto Freire, presidente do moribundo PPS, o que mais chamou a atenção na viagem, no entanto, foram as desastrosas declarações do ex-governador de São Paulo sobre como "aprofundar a inserção internacional do Brasil", segundo suas próprias palavras.
A viagem parece ter tido o único sentido de enviar uma mensagem de que num hipotético governo tucano voltaria a era fernandohenriquista da bajulação e do "complexo de inferioridade" (ou do "complexo de vira-lata", como diria Nelson Rodrigues) na política externa.
O texto do esboço do Programa de Governo do PSDB divulgado na Convenção desse Partido em junho, aliás, é claro nesse ponto: "(...) temos interesses e responsabilidades que nos aproximam do mundo desenvolvido, as quais devemos assumir plenamente, sem constrangimento ou demagogia" (p.14). Antes, repete a orientação dominante no governo Fernando Henrique: "É inútil reclamar de processos que estão fora do nosso alcance, mas que afetam nosso presente e nosso futuro" (p.11), referindo-se a globalização e revelando o mesmo deslumbramento do ex-presidente que, aliás, era especialista em dizer bobagens a respeito, como na que comparou a atual etapa histórica do capitalismo à era do renascimento.
O governo Lula, ao invés de aceitar passivamente os preceitos da globalização neoliberal, ao contrário, tem jogado enorme energia na luta (ainda que defensiva) por uma nova ordem mundial, pelo desenvolvimento das nações em desenvolvimento, contra a diminuta margem de manobra dos paises em desenvolvimento para a promoção de políticas nacionais de desenvolvimento.
Exemplo mais cristalino disto, é a luta por uma conclusão da Rodada "do desenvolvimento" de Doha num sentido favorável aos países em desenvolvimento - razão da criação do G-20 -, pelo que, inclusive, neste fim de semana, Lula estará na Rússia, na reunião do G-8, como convidado, para pautar essa questão, diante do iminente fracasso das negociações na OMC.
Nota-se que visão estratégica, projeto nacional é algo rarefeito na provinciana visão de mundo do sr. Alckmin. Nessa viagem à Europa, Alckmin saiu-se com a seguinte perola: "vejo que houve uma obsessão pela questão da cadeira no Conselho de Segurança da ONU e não houve, na prática, a concretização de nenhum acordo comercial", confundindo alhos com bugalhos, trocando o pé pelas mãos como se diz. Talvez por ignorância, mas mais provavelmente fruto de sua visão de mundo, deixa claro que quer o Brasil submisso, dócil, sem jogar o papel que corresponde a um país que objetivamente, tem peso político, econômico, territorial, populacional e em recursos naturais para influir positivamente no mundo atual com a defesa de bandeiras progressistas nas relações internacionais, dentre elas a reforma das Nações Unidas e a necessidade de relançar o multilateralismo. Ao mesmo tempo em que fala manso com os ricos, Alckmin acusa o governo Lula de ser "dúbio e submisso" com a Bolivia. Essa é a marca tucana do "complexo de vira-lata": falar manso com os poderosos e ser arrogante com nossos vizinhos e países assemelhados.
Isso fica claro também no que diz respeito à política de comercio exterior, onde estão os maiores riscos de retrocessos na hipótese de um governo do PSDB, pelo que se desprende das declarações do candidato oposicionista. "A Alca não andou, o acordo com a União Européia também não, acordos bilaterais não andaram", disse ele na Europa. Noutra declaração, tratou de dizer "eu não descarto a questão da Alca. Acho até que passou um pouco o time(tempo)", para em seguida ressalvar: "(mas) nós temos interesse".
A Alca e o acordo com a União Européia não saíram no atual governo por uma simples razão: implicavam, por seu conteúdo, em enormes restrições à possibilidade de o Brasil ter autonomia de políticas nacionais de desenvolvimento. Por isso se insistiu, corretamente, nas negociações no âmbito multilateral (OMC) e na diversificação dos mercados para as exportações - tendo como resultado a duplicação das exportações em três anos e meio e a reversão do déficit em conta corrente, o que para Alckmin, vejam só, é um problema como manifestou em entrevista recente (1).
Ao invés de autonomia e projeto nacional, o tucano defendeu o exato oposto: "novos contratos (de investimentos), atração de investimentos" (agencia Lusa, 10/07/2006). Ou seja, acordos bilaterais de investimentos, modalidade de negociação extratarifaria que é uma das características principais das atuais modelos de tratados de livre comercio negociados pelos países ricos e que implicam em fortes restrições à adoção de políticas nacionais.
Oferecer-se para a retomada da Alca, como fez Alckmin essa semana na Europa, é apequenar-se diante dos desafios de integrar a América do Sul, abrindo mão desse projeto estratégico, decretando o fim de qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo do Brasil e de seu entrono geopolítico.
Atraso e retrocesso. Essa é a marca deixada pelas desastrosas declarações do candidato tucano em sua turnê na Europa essa semana, viagem cujo sentido mais claro, a julgar por suas declarações, foi a de literalmente, vender o Brasil.
Nota
(1) "Repórter: E o cambio, qual o caminho? Alckmin: (...) O outro (problema) é o saldo da balança comercial. Nós estamos sendo vitimas do baixo crescimento. Se o Brasil estivesse crescendo forte, estaria importando mais e o saldo da balança comercial seria menor, e não empurraria o cambio para baixo (...)". O Estado de São Paulo, 19/03/2006.
A viagem parece ter tido o único sentido de enviar uma mensagem de que num hipotético governo tucano voltaria a era fernandohenriquista da bajulação e do "complexo de inferioridade" (ou do "complexo de vira-lata", como diria Nelson Rodrigues) na política externa.
O texto do esboço do Programa de Governo do PSDB divulgado na Convenção desse Partido em junho, aliás, é claro nesse ponto: "(...) temos interesses e responsabilidades que nos aproximam do mundo desenvolvido, as quais devemos assumir plenamente, sem constrangimento ou demagogia" (p.14). Antes, repete a orientação dominante no governo Fernando Henrique: "É inútil reclamar de processos que estão fora do nosso alcance, mas que afetam nosso presente e nosso futuro" (p.11), referindo-se a globalização e revelando o mesmo deslumbramento do ex-presidente que, aliás, era especialista em dizer bobagens a respeito, como na que comparou a atual etapa histórica do capitalismo à era do renascimento.
O governo Lula, ao invés de aceitar passivamente os preceitos da globalização neoliberal, ao contrário, tem jogado enorme energia na luta (ainda que defensiva) por uma nova ordem mundial, pelo desenvolvimento das nações em desenvolvimento, contra a diminuta margem de manobra dos paises em desenvolvimento para a promoção de políticas nacionais de desenvolvimento.
Exemplo mais cristalino disto, é a luta por uma conclusão da Rodada "do desenvolvimento" de Doha num sentido favorável aos países em desenvolvimento - razão da criação do G-20 -, pelo que, inclusive, neste fim de semana, Lula estará na Rússia, na reunião do G-8, como convidado, para pautar essa questão, diante do iminente fracasso das negociações na OMC.
Nota-se que visão estratégica, projeto nacional é algo rarefeito na provinciana visão de mundo do sr. Alckmin. Nessa viagem à Europa, Alckmin saiu-se com a seguinte perola: "vejo que houve uma obsessão pela questão da cadeira no Conselho de Segurança da ONU e não houve, na prática, a concretização de nenhum acordo comercial", confundindo alhos com bugalhos, trocando o pé pelas mãos como se diz. Talvez por ignorância, mas mais provavelmente fruto de sua visão de mundo, deixa claro que quer o Brasil submisso, dócil, sem jogar o papel que corresponde a um país que objetivamente, tem peso político, econômico, territorial, populacional e em recursos naturais para influir positivamente no mundo atual com a defesa de bandeiras progressistas nas relações internacionais, dentre elas a reforma das Nações Unidas e a necessidade de relançar o multilateralismo. Ao mesmo tempo em que fala manso com os ricos, Alckmin acusa o governo Lula de ser "dúbio e submisso" com a Bolivia. Essa é a marca tucana do "complexo de vira-lata": falar manso com os poderosos e ser arrogante com nossos vizinhos e países assemelhados.
Isso fica claro também no que diz respeito à política de comercio exterior, onde estão os maiores riscos de retrocessos na hipótese de um governo do PSDB, pelo que se desprende das declarações do candidato oposicionista. "A Alca não andou, o acordo com a União Européia também não, acordos bilaterais não andaram", disse ele na Europa. Noutra declaração, tratou de dizer "eu não descarto a questão da Alca. Acho até que passou um pouco o time(tempo)", para em seguida ressalvar: "(mas) nós temos interesse".
A Alca e o acordo com a União Européia não saíram no atual governo por uma simples razão: implicavam, por seu conteúdo, em enormes restrições à possibilidade de o Brasil ter autonomia de políticas nacionais de desenvolvimento. Por isso se insistiu, corretamente, nas negociações no âmbito multilateral (OMC) e na diversificação dos mercados para as exportações - tendo como resultado a duplicação das exportações em três anos e meio e a reversão do déficit em conta corrente, o que para Alckmin, vejam só, é um problema como manifestou em entrevista recente (1).
Ao invés de autonomia e projeto nacional, o tucano defendeu o exato oposto: "novos contratos (de investimentos), atração de investimentos" (agencia Lusa, 10/07/2006). Ou seja, acordos bilaterais de investimentos, modalidade de negociação extratarifaria que é uma das características principais das atuais modelos de tratados de livre comercio negociados pelos países ricos e que implicam em fortes restrições à adoção de políticas nacionais.
Oferecer-se para a retomada da Alca, como fez Alckmin essa semana na Europa, é apequenar-se diante dos desafios de integrar a América do Sul, abrindo mão desse projeto estratégico, decretando o fim de qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo do Brasil e de seu entrono geopolítico.
Atraso e retrocesso. Essa é a marca deixada pelas desastrosas declarações do candidato tucano em sua turnê na Europa essa semana, viagem cujo sentido mais claro, a julgar por suas declarações, foi a de literalmente, vender o Brasil.
Nota
(1) "Repórter: E o cambio, qual o caminho? Alckmin: (...) O outro (problema) é o saldo da balança comercial. Nós estamos sendo vitimas do baixo crescimento. Se o Brasil estivesse crescendo forte, estaria importando mais e o saldo da balança comercial seria menor, e não empurraria o cambio para baixo (...)". O Estado de São Paulo, 19/03/2006.
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