16 julho 2006

O silêncio cínico e as infâmias dos sacripantas
14/7/06
por Lula Miranda - Caros Amigos

Com o intuito de dissipar qualquer névoa que oblitere o entendimento, prezados leitores, esclareço que a mais perfeita tradução para essa estranha e dissonante palavra, “sacripanta”, é, seguindo os dicionários, aquele que é “velhaco, patife, capaz de todas as violências e indignidades; pessoa desprezível”. Bem que gostaria de, “ad libitum”, dar nome a todos aqui, um a um. Embora sejam vários, muitos, uma cambada. Mas, por calculada previdência e prudência, não o farei. Pois esses “doutos senhores” (sim, eles costumam se empavonar de títulos) têm amigos importantes, estão a serviço dos donos do poder, e, certamente por isso, têm, quase sempre, um escritório de advogados para calar/emudecer/censurar jornalistas, escritores e artistas que não rezam nas suas obscenas cartilhas. Ou, nas suas palavras, para os proteger de injúrias e calúnias, como essas que são e serão aqui “assacadas” por esse cronista. Injúrias e calúnias... Façam-me rir.

Os sacripantas, aqui aludidos, são silentes, são infames. São indiscutivelmente, e indesculpavelmente, membros da tal afamada “elite branca”. Alguns deles, por vezes até, cínicos que são, chegam a inculpar e condenar, com calculado alarde na grande imprensa, essa tal “elite branca”. Esse “novo” culpado, em sua máxima culpa, de personificação tão convincente e conveniente, pois impalpável. Sem um nome, sem uma face, e que não se pode identificar com precisão.

Esses sacripantas ainda se sentem, por mais incrível que isso possa nos parecer, confortáveis na condição de homens públicos: são parlamentares, prefeitos, governadores, ex-presidentes e outras autoridades. Abrigam-se estrategicamente sob a sombra de partidos políticos, onde agem como caciques – o que, de fato e caricaturalmente, são. Em partidos como PFL, PSDB, PTB, PP et caetera, mas, esses últimos, podemos ficar mais ou menos tranqüilos, a cláusula de barreira dará cabo neles. E, já que não posso dar nome aos bois (ou aos ratos, seria mais apropriado dizer), indico-lhes ao menos as “cavernas” (ou agremiações) onde eles se escondem. Para que vocês, advertidos, possam evitá-las e passar ao largo desses ambientes pestilentos e nocivos.

Eles estão, sim, na política, nos partidos e em outras instituições, mas, claro, estão também, e principalmente, na grande imprensa – grande em recursos e estrutura, mas nanica em ética e credibilidade. É exatamente aí, na grande imprensa, paradoxalmente tão nanica, que colunistas e articulistas, verdadeiros sabujos das elites, agem como porta-vozes desses doutos velhacos, ou, a depender do doce sabor do que lhes é oportuno, mantém seu silêncio cínico e hipócrita. Aí, nessa privilegiada tribuna, que esses “jornalistas” exercitam despudoradamente sua indignação seletiva. Demonstram-se indignados com um suposto “mensalão”(sic), com o caixa 2 do Partido dos Trabalhadores, mas são lenientes e fazem vista grossa ao caixa 2, acrescido da bandalheira nos demais partidos – e, sabe-se desde sempre, todos se utilizam desse expediente ilícito na arrecadação de fundos eleitorais. Mas, não se entusiasme muito, o moralismo desses senhores é, também ele, seletivo. E, certamente por isso, nenhum deles defendeu, até agora, com o mesmo ardor pseudomoralista expresso em seus textos e discursos virulentos e vazios, uma reforma política de fundo que venha a colocar um pouco de norma, moral e dignidade na política e na República, por exemplo.

Mas, não nos enganemos, eles estão todos “indignados”, e desferem impropérios contra o presidente operário, “o populista”, e o seu governo, o “mais corrupto da história”, ou até mesmo contra a suposta “bolsa-esmola” – e assim destilam a sua verve e a sua bile e, junto com ela(s), o preconceito (de classe, por suposto!).

Não se vê uma voz honesta o bastante para dar nome aos bois e dizer que a culpa pela violência em São Paulo, pela medieval barbárie nos presídios do estado, pela Febem superlotada de menores e pela enorme dívida social acumulada no país é dos sacripantas de sempre. Sim, esses mesmos que governaram esse país por oito anos, que governam o estado de São Paulo há quase doze anos e o estado da Bahia há quase 16 anos – ou você seria desonesto a ponto de dizer que essa miséria toda é fruto de geração espontânea nos poucos anos de governo Lula? Ou, por acaso, você seria capaz de aceitar essa nova infâmia de que o PT está mancomunado com o PCC e promovendo atentados porque o Alckmin subiu nas pesquisas!? Aí já é golpe abaixo da cintura, abaixo do tolerável. Querem fazer guerra política em cima da desgraça alheia. Desejam, desavergonhadamente, dissimular a própria incompetência utilizando-se de ignomínias.

Não precisa nem dar nome a essa cambada (de sacripantas, não se esqueça). Todo o mundo sabe, sejamos honestos, perfeitamente quem eles são. São os criminosos “coronéis” do PSDB e do PFL! Sim, criminosos! Reitero: criminosos! Porque o que esses sacripantas fizeram (e ainda fazem) com esse país é, sem meias palavras, um crime.

Lula Miranda é poeta e cronista. É também secretário de Formação e Cidadania do SEEL – Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros de SP. Milita, há mais de 20 anos, na imprensa alternativa.

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