24 julho 2006

Jornalismo sem Vergonha

Leiam abaixo uma carta enviada por um jornalista, editor de um jornal do RS, ao Ombudsman da Folha de São Paulo. Mais um exemplo claro da manipulação e distorção das notícias a favor do PSDB/PFL e contra o PT.
Ninguém mais aguenta isso. E só não vê, quem não quer...
André Lux

Retirada do blog Cidadania (http://edu.guim.blog.uol.com.br/)

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À FOLHA DE SÃO PAULO

Prezado sr. Marcelo Beraba, Ombudsman do jornal:

Sou editor de País e Mundo em um jornal de circulação regional, em Rio Grande, no interior do Rio Grande do Sul. Como fonte para estas editorias, temos um contrato há mais de 10 anos com a Agência Folha (Folhapress), que nos retransmite os textos que serão publicados na Folha de SP. Há tempos venho notando o uso do veículo Folha como forma de interferir nos pleitos eleitorais. E, através da agência, difundir a mesma ideologia deste jornal em diversos outros veículos que se utilizam de tal material.

Ontem (18), no entanto, creio que foi um dos dias mais vergonhosos desta manipulação. Após divulgação da lista dos "sanguessugas", recebemos um texto (às 17h27min.) que tinha como título "CPI-Ambulâncias: Comissão divulga nomes de 57 investigados". Mais tarde, às 18h56min., a matéria mudou para "Partidos do mensalão lideram a lista". E, às 20h19min., provavelmente após passar por mais um crivo ideológico da direção do jornal, nova mudança: "CPI-Ambulâncias 3 - (Atualizada) 82% dos sanguessugas são da base aliada" - os nomes são de investigados, mas a Folha já os condena antecipadamente no título.

Esta última - a versão "oficializada" pela casa, e que foi para a edição impressa -, opta pelo enfoque antigovernista, como de praxe. O lead da matéria é todo dedicado a destacar a participação (suposta) de "mensaleiros" e de "aliados governistas". Apesar de quatro pefelistas e três tucanos serem citados na lista, isto só é informado superficialmente, no meio do texto. O PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não tem nenhum nome compondo a lista de investigados. Mas a informação passada não esclarece isso. Ao contrário, é colocada de forma confusa e, ainda assim, negativa: "A exceção é o PT, partido envolvido no mensalão", diz o texto da Folha.

Além disso, apesar de não ter seu nome na lista, o jornal envolve a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Só então é que cita, laconicamente, que "na oposição, o PFL tem quatro filiados envolvidos; o PSDB tem três", mas sem citar os nomes dos mesmos. Ora, uma senadora que não tem seu nome em lista de investigados é citada nominalmente, enquanto os deputados "aliados ao jornal" têm seus nomes incluídos como investigados pela Justiça, mas sonegados ao leitor! Qual o critério da Folha de São Paulo, que não o político-ideológico?

Como assinante do serviço noticioso da Agência Folha (Folhapress), assisto "de camarote" à "transmutação" das matérias na redação. É quase sempre assim com relação às matérias da editoria de política. Recebemos a primeira versão, feita conforme critérios jornalísticos (o que mostra a desvinculação dos repórteres), relatando fatos de maneira imparcial, e então começam as "atualizações", quando a matéria é manipulada de acordo com os critérios ideológicos do jornal (leia-se "da direção").

Para não me estender ainda mais, fico somente nesta matéria, embora existam várias outras (inclusive na mesma edição em questão), como a da pesquisa Datafolha, que tenta ratificar a ilação tucana de que o PT é responsável pelo caos na Segurança Pública no Estado de SP.

E, para completar, informo que o tipo de jornalismo que tem sido feito pela Folha, o qual classifico como "vergonhoso", nos levará a rever a relação de mais de uma década com a Agência Folha (Folhapress). Consideramos que tal jornalismo desacredita o veículo. Portanto, para evitarmos correr o mesmo risco de descrédito, devemos avaliar se podemos continuar reproduzindo os textos, em nossa opinião parciais e manipulados, que se originam da redação da Folha de São Paulo.

Atenciosamente,

Germano S. Leite
Jornal Agora
Rio Grande - RS

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