O GILMAR NÃO É POUCA COISA
Eu não gosto do Gilmar Mendes. Não gosto do Garibaldi Alves. Mas o primeiro é presidente do Supremo Tribunal Federal e o segundo, presidente do Senado Brasileiro. O primeiro é a principal instância do judiciário nacional e a segunda, a principal do Congresso. Se os dois vão até o presidente da República e protestam veementemente contra o que acreditam ser uma escuta, é obrigação do presidente, como responsável pelo equilíbrio entre as instituições, tomar uma atitude enérgica. Não é questão de "ter medo", de ser um "presidente que tem medo". Não estamos no ginasial. Lula não é o tipo clássico do "machão", cujos exemplos abundam demais no panteão dos políticos latino-americanos, até agora. Mas também não é o tipo vazelina. Lula é um personsagem de Gianfracesco Guarnieri, no filme Eles não usam black-tie. É um sindicalista de coração quente mas cabeça fria.
As pessoas que defendem que Lula enfrente Gilmar Mendes estão fazendo uma sugestão insensata. As que acusam Lula por ter uma tendência à conciliação estão transformando uma virtude num vício.
E o fato da Veja ter conseguido mais essa proeza, mais essa desestabilizaçã o, também não é supresa para ninguém, nem desmerece a tese de que a mídia perdeu força. A mídia perdeu força onde mais dói: no voto. Por isso, ela se volta cada vez mais para o Judiciário, onde não há voto. Isso nem é novo. Se você estudar a história da república brasileira verá movimentos similares. Na época do segundo governo de Vargas, por exemplo, a oposição e a mídia (já unidas à época), enfraquecidas no Congressso, voltam-se para o Supremo como tábua de salvação. Qualquer iniciativa de Vargas era levada para o Supremo. O Salário Mìnimo foi levado para o Supremo. A criação da Petrobrás (que se concretizou apenas no governo seguinte, de JK, justamente por conta dessa oposição histérica) foi levada para o Supremo. A criação da Eletrobrás (que acabaria com o monopólio estrangeiro sobre o sistema elétrico nacional, ainda parado no tempo) foi levada para o Supremo.
O Supremo Tribunal Federal tem se revelado, ao longo da história democrática do país, como o último bastião dos conservadores, dos retrógrados, dos reacionários. Hoje não é diferente.
Mas o STF é o STF, e há que respeitá-lo. Quando Mendes soltou Dantas pela segunda vez, eu fui às ruas junto com os brancaleones e xinguei-o de tudo que é nome. Mas eu sou apenas um cidadão que não represento ninguém senão a mim mesmo. Se eu escrever algo ofensivo e for processado, isso não abalará os alicerces da nação. Mas Lula é presidente da República e nenhum presidente, nem Chávez, nem Morales, nem Putin, nem Bush, são loucos de enfrentar, por iniciativa própria, a figura máxima do judiciário de seus países.
O afastamento de Paulo Lacerda da diretoria da Abin foi temporário e revelou o respeito do presidente para com o Judiciário (na pessoa de Mendes e outros ministros) e o Legislativo (na pessoa do Garibaldi Alves e outros senadores, que também foram ao presidente protestar contra o suposto grampo).
É bem provável que a escuta tenha sido plantada por Daniel Dantas, para poluir e desmoralizar a operação que o investiga. É provável que a Veja saiba disso e faça parte desse conluio. Tenho receio de acreditar, mas existe inclusive até a suspeita que o próprio Gilmar Mendes faça parte do esquema. Fazer o quê? O objetivo central do presidente da República não é prender Dantas, é manter o equilíbrio das instituições.
Uma vez garantido o equilíbrio, o gato volta a caçar o rato. Com mais raiva. Com mais fome.
Miguel do Rosário – Óleo do Diabo
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