Brasil é foco de atenção mundial
Tupi, Carioca, Santos.
Diante da perspectiva do fim da era da energia barata, esses nomes se tornaram focos de atenção para americanos, europeus e asiáticos.
Na semana que passou, os maiores líderes do setor se reuniram em Madri no Congresso Mundial do Petróleo, para debater o futuro da energia.
Com a previsão de que descobertas serão cada vez mais raras, as novas reservas brasileiras oscilam entre admiração e esperança e a incerteza sobre qual será o rumo que o País tomará diante de suas novas riquezas.
Nos corredores e salas de imprensa, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, foi obrigado a responder uma dezena de vezes que não sabe ainda qual o volume de petróleo dessas reservas.
"Sabemos que temos muito".
Representantes do governo da Holanda insinuaram que as grandes empresas já teriam feito seus cálculos e, de fato, o potencial seria enorme.
O próprio presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Chakib Khalil, deixou claro que se trata de algo expressivo, que pode mudar a geografia da exploração no mundo.
As descobertas no Brasil ainda ocorrem em um momento em que as projeções apontam que demanda vai continuar crescendo acima da oferta.
"Não há problema de falta de petróleo.
Temos isso por pelo menos 50 anos sem nenhum problema", afirmou Khalil.
"Mas o problema é a produção.
" Por ano, a Chevron alerta que o mundo terá de investir cerca de US$ 120 bilhões em produção se quiser chegar em 2030 com um abastecimento adequado.
O que ocorre é que muitas das reservas se encontram em países que estão sofrendo graves instabilidades políticas ou enfrentando pressões internacionais, entre eles Irã, Nigéria, Cazaquistão e Sudão.
Portanto, os campos no Brasil, apesar da dificuldade tecnológica, são considerados uma das grandes descobertas dos últimos anos em um país democrático, estável e aberto ao mundo.
"Por isso a corrida agora para evitar que o governo modifique leis e deixe as grandes empresas de fora dos lucros bilionários", afirmou um consultor de uma grande empresa internacional, que pediu para não ser identificado.
MULTIS.
As multinacionais já anunciaram que vão pressionar o governo contra a idéia de uma revisão da lei e a eventual criação de uma empresa 100% nacional para explorar as futuras reservas no Brasil.
"Temos muito interesse no País, mas, numa revisão das questões fiscais dos contratos para as próximas reservas, o governo precisa entender que a extração exigirá um volume enorme de investimentos.
Será uma das operações mais caras já realizadas", alertou o presidente mundial da Exxon, Rex Tillerson.
"Sei que os brasileiros e seu governo querem extrair petróleo (dessas novas reservas), mas não podem colocar leis que vão dificultar isso".
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), sem um quadro legal definido e sem modelos de contrato para a exploração, os investimentos podem atrasar e as descobertas podem levar mais tempo que o previsto para dar resultados.
A AIE não esconde que Tupi é uma das esperanças para que o mundo saia da crise do petróleo.
A agência alerta, porém, que a expansão da produção no Brasil pode sofrer atrasos.
A agência ainda deixa claro que não há como contar com uma produção já plena das novas reservas diante da falta de um marco legal e das discussões no governo para a modificação das leis.
"A Petrobras estima que haverá aumento de 1 milhão de barris por dia de Tupi, com reservas de 5 a 8 bilhões de barris.
Com questões sobre os modelos de contratos e necessidade de investimentos, além de um atraso crônico na construção de poços no Brasil, optamos por ser cautelosos em relação às nossas perspectivas", disse a AIE.
A agência ainda questiona capacidade de a Petrobras retirar um volume grande de petróleo nos primeiros anos.
Outro alerta das multinacionais está relacionado a decisões dos governos de restringir a entrada de estrangeiros para explorar a área ou cobrar preços altos.
"Quando os preços do petróleo estão altos, há uma tendência de se cortar alianças.
Precisamos resistir a isso", apelou Tillerson.
"A indústria em todo o mundo está no limite da capacidade.
Precisamos ficar atentos às tentações nacionalistas e protecionistas", disse o vice- presidente da Chevron, John Wattson.
Questionado se temia que o governo brasileiro seguisse esse rumo, Gabrielli se recusou a comentar.
"Não falo sobre isso".
O setor está acostumado à mudança de humor dos governos.
" Se Gabrielli insiste que ele não é a única voz nas decisões do País sobre o futuro das reservas, no cenário internacional poucos fazem a distinção entre governo e Petrobras.
"Quem ficou próximo à Petrobras vai ganhar com essas novas descobertas.
Lamentamos não termos ficado mais próximos", afirmou o presidente da Total, Christophe de Margerie.
CHINESES.
Outro que parece considerar a Petrobrás e as novas descobertas na mesma equação são os chineses.
O presidente da estatal China National Offshore Oil Corp (CNOOC), Fu Chengyu, deixou claro, na semana passada, que quer a Petrobrás no Mar da China, mas quer também uma participação nos novos bloco do Brasil.
Para tentar desfazer essa impressão, Gabrielli deu uma entrevista ao jornal que circulava na cúpula do petróleo garantindo: a Petrobras não pedirá ao governo para ter privilégios nas novas reservas.
Durante o evento, não faltaram questões ainda sobre o impacto das reservas na economia do País e nas garantias de transparência e combate à corrupção.
Gabrielli admite que está "preocupado" com a possibilidade de o Brasil sofrer a "doença holandesa" .
Ele acredita, porém, que a diversificação da economia brasileira impedirá que os impactos negativos desse fenômeno se proliferem.
O conceito se refere ao impacto que grandes descobertas podem ter na economia.
A teoria aponta para a desindustrialização dos países onde se encontra petróleo e a valorização exagerada da moeda local.
Como conseqüência, o setor manufatureiro sofreria para exportar e poderia entrar em crise.
O termo foi criado nos anos 70 para explicar a queda no setor industrial holandês depois da descoberta de gás natural no país.
Para analistas da ONU, as descobertas no Brasil são espelho do dilema que enfrentam as multinacionais hoje.
Há apenas 30 anos, 70% das reservas conhecidas no mundo estavam nas mãos das grandes petroleiras privadas.
Hoje, 80% estão nas mãos de estatais.
A questão, para muitos, será saber que caminho o Brasil tomará.
"O Brasil será a chave para entender a América Latina nos próximos anos", conclui a AIE.
Por: Jamil Chade
Fonte: Jornal do Commercio/RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário