03 julho 2008

Ibase faz pesquisa sobre o bolsa Família

Ibase faz pesquisa sobre o Bolsa Família


87% dos usuários do Bolsa Família afirmam gastar dinheiro do programa principalmente com comida, revela pesquisa do Ibase

Sete em cada dez beneficiários não querem receber Bolsa Família "para sempre". Com 5 mil entrevistas em todo o país, levantamento colhe opinião de população atendida.

Pesquisa inédita do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) mostra que 87% dos beneficiários do Programa Bolsa Família afirmam gastar o dinheiro recebido do Programa principalmente com alimentação, prioridade de compra seguida por material escolar (45,6%) e vestuário (37,1%). A maioria dos usuários (73,7%) relata que aumentou a quantidade de alimentos que já consumia a partir do recebimento do benefício, bem como a variedade dos alimentos adquiridos (69,8%). A pesquisa ouviu 5 mil titulares do cartão Bolsa Família em 229 municípios, em setembro e outubro de 2007, e foi precedida de uma fase qualitativa. O trabalho, entitulado "Repercussões do Programa Bolsa Família na Segurança Alimentar e Nutricional das Famílias Beneficiadas", foi financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Dos grupos de alimentos, os que tiveram aumento de consumo mais expressivo, na percepção dos usuários, foram açúcares (78% declararam que passaram a consumir mais deste grupo após o recebimento do benefício), arroz e cereais (76%) e leite (68%). Se o aumento do consumo da maior parte destes itens já segue tendência nacional (detectada por outras pesquisas do IBGE com a população em geral), chamou a atenção dos pesquisadores a elevação de consumo entre os usuários do Bolsa Família de arroz e feijão (59%), cujo consumo no Brasil decai há anos (ATT: a pesquisa foi realizada antes da elevação nos preços destes produtos). "No geral, a dieta das famílias mostra que alimentos de maior densidade calórica e menos valor nutritivo prevalecem na decisão de consumo, o que é preocupante e levanta a necessidade de programas direcionados para a educação alimentar e para a oferta de alimentos saudáveis a preços acessíveis", avalia Francisco Menezes, diretor do Ibase e coordenador do trabal ho.

Apesar do aumento declarado de consumo, parcela significativa dos beneficiários (21%, representando 2,3 milhões de famílias, perfazendo um total de cerca de 11,5 milhões de pessoas) encontra-se em situação de insegurança alimentar grave (fome entre adultos e/ou crianças da família); outros 34% (ou 3,8 milhões de famílias, perfazendo um total de cerca de 18,9 milhões de pessoas) estão em situação de insegurança alimentar moderada (restrição na quantidade de alimentos na família, de acordo com a EBIA - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar). O estudo sugere que o Bolsa Família (que atende no total 11,1 milhões de famílias) é importante para melhorar as condições gerais de vida, embora, por si só, não garanta índices satisfatórios de segurança alimentar, questão associada a um quadro de pobreza mais amplo. "É necessário manter e aperfeiçoar o programa, associando-o a outras políticas públicas capazes de atacar problemas como a falta de saneamento básico e de acesso ao me rcado formal de trabalho, fatores que interferem na insegurança alimentar", avalia Menezes.

A maioria dos entrevistados (93,6%) foi de mulheres (o cartão do Bolsa Família é concedido preferencialmente às mulheres), e o universo pesquisado buscou refletir as informações dos cadastros do Programa. A maior parte das titulares (64,4%), são pretas ou pardas e vive em área urbana (78,3%). Apenas 43,7% declararam ter tido trabalho remunerado no mês anterior à pesquisa, sendo que uma minoria (16%) com carteira assinada. A quase totalidade (99,5%) afirmou que, de modo geral, não deixou de trabalhar por conta do Bolsa Família e 73% encaram o benefício como temporário.

Fonte: COSEA

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