MANTOS, TOGAS E BATINAS
amansando pelo bolso furado
amansando pelo bolso furado
Morubixabas de todas as Américas há muito tempo já profetizavam: - É difícil amansar o homem branco. Mas a gente amansa.
Excesso de otimismo? Talvez. Mas enfim o juízo final se avizinha e por obra e graça de Seu Branco mesmo. Não de divindade alguma.
Quero ver quando tudo arder no infernal calor do efeito estufa, e os raios solares transpassando o buraco da camada de ozônio fritar a pele alvinha da brancaiada. Como é que vai ser?
Há quem profetize o fim da espécie inteira. Toda! Eu, já sou mais otimista e acredito que no dilúvio geral, enquanto o branco se afoga lá na varanda de sua casa de praia, o caiçara, mestiço, experimentado herdeiro dos saberes tupis, escapará sestroso, remando sua piroga escavada no pau.
Quem sabe, como Peri, levando uma Cecizinha branquinha para melhorar a raça. A dela, não a do guarani de José de Alencar, filho da terra e da natureza com a qual sabe muito bem conviver em harmonia.
Podem me chamar de racista, mas pra mim se trata de seleção natural. E tudo conspira contra o lado branquelo de meus antepassados, enquanto minha nobre linhagem africana, por tudo o que hoje sofre e é espoliada, se recompensa com Agostinhos Neto, Lumumbas e Mandelas. Outros virão, nas providências de Zâmbi e Olodum!
De branco que preste, há muito tempo não vejo se sobressair: um! Nenhum líder descente, verdadeiro, que deite história. Nenhum valoroso morubixaba de sua gente.
Cientistas e artistas, hay. Pero líder, verdadero, reconocido en el mundo... Solo Guevara!
E tudo conspira contra os azedos! Vejam lá: Venezuela - o mameluco do Chávez. Bolívia - grande Evo Morales, meu cacique aimará! Filho dileto de Pachamama! E aqui no Brasil, nóis, a caboclada encarnada num só Lula da Silva.
" - Ói nóis lá gente!" - berra um pedreiro amigo meu, a cada vez que Lula aparece visitando algum país estrangeiro, pra vender a produção do talento e do engenho brasílico.
Um desses remanescente atucanados, outro dia contestou lá no bar do Vadinho. Não foi besta de escarnecer do Lula, mas lembrou que o Vietnam é país comunista.
Pior! Tomou tanto discurso e aula de história sobre a guerra covarde dos norte-americanos e gloriosa dos vietnamitas, que saiu com as orelhas cheias de reboco.
Eu, e o amigo pedreiro, não demos bola pro assunto e ficamos ouvindo o Lula falar da Ásia pela TV do boteco. E como ele fala sem prolegomenos, sem batata quente em boca mole, a gente não temos mesmo dúvida: é nóis lá!
Tá na cara que os moço lá da TV, não vão nem um pouquinho com a cara da gente, mas até aí, é como dizia meu tio Rafael: - Que se estrepe!
E bota estrepe nisso!
Agora mesmo, fico só imaginando o fiasco do tal Supremo. Penso: "Mas como é que um Supremo tão cheio das supremacias desse, corre rapidinho pra pedir acoito lá do Lula?"
Fiquei lembrando aquele rei todo metidão que mandou o Chavez calar a boca. Claro que a Espanha compra petróleo é das arábias, muito mais perto. Se precisasse comprar do Chávez, duvide-o-dó que o coroa-de-lata ia se dar a tamanha farronca e desrespeito.
É... Os morubixabas tinham mesmo razão! Não é fácil amansar o homem branco.
Mas, um por um, descem das tamancas no conselho oferecido pelo finado Pepeco quando o vigário geral de todas essas paróquias do distrito de Sto. Antonio de Lisboa, -- mas que só se designava a visitar o Sambaqui uma vez ao ano, em função dirigida à carolagem da Festa da Cruz -- adentrou, humilde, ali mesmo no bar do Vadinho, em meio ao violão do Fahed.
Fez-se que ninguém viu nem ouviu, mas quem estava mais perto do balcão, depois, contou que Vadinho respondeu à homilia do padre: " - O senhor sabe que todas as manhãs caminho daqui até além da Ponta do Sambaqui. Sabe como são essas dores de velho. Dói seu padre! Mas é tão bonita essa igreja do caminho, com um mar infinito de um lado e uma eternidade de céu e sol acima, além de meus amigos, como anjos, a acenarem os bons-dias em cada casa, que igreja de milagre melhor não preciso. Obrigado!"
Murmuram lá um "pra semana, talvez" e o padreco desceu os três degraus à calçada num quebrar de espinha, antes tão empertigada, que ninguém entendeu.
Turco Fahed -- árabe, claro! Mas qual árabe não vira turco depois de uma velha história de emigração dos médios-orientais que não tenho tempo para contar agora, senão perco o enredo da questão --. Como antes dissia: Turco Fahed, um baita de um violão, mas que, conforme ele mesmo anuncia, só conhece música de antes dos Festivais (e tome Lupicínio, Dolores Duran, Antonio Maria, Rosinha Valença, e coisas de esquartejar corações); foi quem explicou a tramóia, contando que o festeiro, portento econômico local que sustentava as esbórnias e foguetórios da Festa da Cruz, flagrou a mulher numa inusitada confissão de seus mais íntimos segredos, ao padre.
Daí a providência - última! Porém... - necessária, do vigário sair Sambaqui afora apregoando a patranha da Festa da Cruz para a construção de nova capela. Como se a da Barra (outra localidade do distrito), há muito não estivesse largada ao deus-dará ou ao diabo-que-a-carregue.
Recolhida a empáfia, trazia sua batina em muitos outros além de, inclusive, aquele "reduto da falta de conspicuidade", citado nos domingueiros sermões eclesiais.
Claro que as carolas e beatas enxergaram provação evangélica no quebrar da crista arrogante do vigário! E ainda mais se incharam em provocações aos "dissolutos de Vadinho!".
E as evangélicas - sabe-se lá por quais razões de seus deuses? - deram a nos chamar de medrosos como se o borrado ou "tisnado" (no dizer daqui e "esmerdeado", alhures), não fosse também um ministro ou presidente, representante que seja, do tal Supremo.
Foi aí que Pepeco, hoje nos braços de Iemanjá, posto que negro e pescador, explicou em sua sabedoria de ex-carreiro de bois: - Quando o touro não tem mais que reproduzir, e só dá trabalho, não se capa o bicho? É a mesma coisa. Furou o bolso, a batina perde a sina.
Eu podia aqui lembrar de quando o Lula falou da caixa preta na justiça brasileira, mas aí perco o enredo, ou gasto todo. Deixa um pouco pros moços da TV que não vão com a nossa cara.
Um dia a gente amansa essa gente. Mas de nós, nem se tem porque ficar brabo.
E viva Zé Dirceu! Viva Dalmo Dallari! Viva Mandela e Atahualpa!
Vivam os líderes que ensinam que ao final do Mundo, só se escapam os líderes de si mesmos, porque os de bolsos furados sempre morrem afogados.
No mínimo, perdem o escalpo.
Grande Gerônimo!
Por Raul Longo
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