17 junho 2008

Coisas da Política - O Brasil, segundo o chefe de Estado


Mauro Santayana

O presidente Lula não dissimula o sentimento de homem vitorioso, mas não parece fazer dele manifestação de soberba. Sua sala, no palácio projetado por Niemeyer, foi concebida para ser o cimo do poder nacional, com suas amplas janelas abertas para o Norte. Há 50 anos, no vazio do Cerrado, Juscelino deve ter imaginado o que seria o Brasil meio século depois, e é provável que tivesse invejado, no entusiasmo e na auto-estima que o conduzira ao poder, o distante sucessor, que administraria uma nação muito mais rica e mais poderosa. Discípulo de Vargas, o mineiro pensava, como o gaúcho, no Brasil como potência. E é no Brasil como potência que Lula diz pensar, na conversa com o Jornal do Brasil, na última sexta-feira.

Os fatos deixavam-no particularmente satisfeito naquela manhã. A Petrobras fizera novas descobertas no fundo do mar brasileiro e, embora ele se tenha distanciado do assunto, e a decisão ainda dependa do Senado, a Câmara aprovara a CSS, com novos recursos para a saúde. Descendo das coisas maiores às bem menores, expressou leve e passageira ironia, ao falar sobre o depoimento da senhora Denise Abreu ao Senado. A oposição levara a Câmara Alta a perder o seu tempo diante de uma denúncia chocha.

O Brasil de Lula é outro, e ele tem consciência disso. Tão outro que o ocupante do Palácio do Planalto é o torneiro mecânico pragmático, preocupado em construir mais escolas técnicas do que universidades, e visivelmente irritado com os preconceitos. Sabe que amadureceu nos últimos 30 anos, mas que a sociedade brasileira também amadureceu. Aprendeu muito na luta sindical, na ação partidária, na construção da aliança que o levou ao poder. Ao mesmo tempo em que lembra o prazer no exercício do mando, repetindo conhecida frase de Ulysses Guimarães, pondera que é preciso ter muita humildade diante das dificuldades cotidianas, em ouvir e em resistir às inevitáveis pressões. Ao falar sobre humildade, olha, fixada na parede oposta, bela imagem de Cristo na cruz, que foi de propriedade do bispo Mauro Morelli. Um empresário comprou-a e ofereceu-a ao presidente. Restauradores de Minas, ao trabalhar sobre a estatueta, concluíram que se trata de uma peça do século 16 ou início do século 17. Depois da entrevista, exibe-a aos visitantes e toca o crucifixo com suavidade.

Um dos entrevistadores observa que a vida de cada homem é uma viagem, com um destino que não pode prever, e lhe pergunta o que ele sente, ao chegar a esta estação do percurso. Não se tratou de uma viagem qualquer a do menino que saiu do sertão de Pernambuco, na carroceria de um caminhão, conseguiu a primeira vitória ao formar-se torneiro mecânico, fez-se dirigente sindical, fundador de partido político, líder de parcelas da oposição em que se filiavam intelectuais, e chefe de Estado.

O presidente diz que está feliz pelo trecho percorrido, mas continua aprendendo até hoje. Relembra alguns episódios de suas relações com os jornalistas nos últimos 30 anos. Diz que muitos profissionais de imprensa parecem constrangidos em falar bem do governo, como se isso fosse um estigma. Dizendo dar uma opinião de leitor, o presidente explica que tanto o elogio sem limites, quanto o ataque costumeiro, retiram do jornalista a credibilidade de seus leitores.

O presidente cita números, demonstrando excelente memória. Conversa sobre política internacional, defende a solidariedade sul-americana, conclui que a era das rebeliões armadas já se encerrou, e que o entendimento se tornou imperativo. Constata que o Brasil perdeu as inibições do passado e passou a ser sujeito ativo na política internacional, a partir do grupo dos 20. Ao defender a agricultura familiar, diz que o problema fundiário do Brasil não é mais o da simples ocupação de terras, e, sim, o da produtividade.

Enfim, nas palavras do presidente, o Brasil vai bem, melhor do que nunca esteve, e cabe aos brasileiros fazer com que este momento perdure.

Fonte: Jornal do Brasil

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