CPMF & Carga Tributária
Em tempos em que se discute a volta da CPMF, que se chamará CSS, com taxa de 0,1% (contra 0,38% da contribuição anterior) e para ser totalmente empregada na saúde, gostaria de fazer algumas considerações:
Um assunto freqüente na imprensa é a alta carga tributária brasileira. Empresários paulistas chegaram a montar um relógio exibindo para a população, a cada minuto o que estaria sendo recolhido de imposto, sem distinguir o que de fato é federal, estadual ou municipal. Tudo somado, induzindo serem apenas tributos federais.
Com isso, o assalariado inadvertidamente concorda, porque a sua contribuição de imposto de renda é de fato muito alta. Porém o que ele não percebe é que aqueles que reclamam da alta carga tributária, são exatamente aqueles que têm mil e um truques para não pagar o imposto de renda correspondente aos seus altos ganhos, deixando à classe assalariada a incumbência de carregar o país nas costas. Vale lembrar que quem faz as leis é o Congresso Nacional, cujas campanhas são financiadas por eles, para que sejam sempre beneficiados.
Ouvi certa vez o Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, afirmar que a carga tributária não é alta ou baixa. Ela depende das necessidades do país, no que concordo plenamente.
As necessidades do Brasil são enormes. Historicamente, os serviços prestados, sejam saúde, educação, infra-estrutura (energia, estradas, portos, etc), até o atendimento nos serviços públicos, sempre foram precaríssimos.
O que a imprensa não diz, é que a carga tributária brasileira não é alta, mas injusta, ou seja, mal distribuída. Quando ela fez campanha pelo fim da CPMF, afirmou que os preços baixariam, porém, não foi o que aconteceu. Uma pesquisa realizada pelo professor Marcos Cintra, da FGV - Fundação Getúlio Vargas, mostrou que o fim da CPMF não fez os preços caírem, e que alguns até subiram, virando aumento da margem de lucro dos bancos e das grandes empresas, embolsando mais de R$ 32 bilhões, parcela da contribuição que lhes cabia.
A imprensa vive de seus anunciantes, que são majoritariamente os bancos e as grandes empresas, os maiores beneficiários do fim da CPMF, como dito acima. Se a imprensa estivesse do lado da classe assalariada, ela incentivaria uma pressão popular para tornar a distribuição dos tributos mais justa, mas não é o que se vê. Ela consegue fazer com que as pessoas fiquem contra os seus próprios interesses.
Em 2007, o cruzamento de dados da declaração do imposto de renda com a CPMF, levou a Receita Federal a autuar 208.471 contribuintes apenas no 1º semestre, com valor sonegado de R$ 1,33 bilhões.
Melhor seria para a classe-média, continuar pagando a CPMF, ou agora CSS e reivindicar uma distribuição mais justa de imposto de renda, e essa proposta não é impossível, porque já houve uma tentativa, no 1º mandato do Presidente Lula, quando o Ministro Palocci foi ao Congresso para explicar e pedir a aprovação da proposta da reforma tributária do governo.
Eu assisti na TV Senado, e não vi nenhuma menção na imprensa escrita ou falada. Nela, era prevista a taxação sobre grandes heranças, um imposto para barcos e aviões particulares (carros pagam IPVA, porém aviões e iates não) e um aumento nos tributos bancários. Em contra-partida, seriam diminuídas nas mesmas proporções, as contribuições da classe assalariada e a imediata correção da tabela de imposto de renda, congelada nos 8 anos do governo FHC.
O então ministro Palocci foi aparteado pelo senador Bornhausen, que disse ser absurda a taxação sobre heranças. Dizia ele que era injusto que um filho que herdasse um apartamento, tivesse que vendê-lo para pagar o imposto. O ministro Palocci então disse ao senador que não era o caso de pequenas, mas de grandes heranças. Palocci disse ainda que estava na hora da elite, que historicamente teve sempre grandes vantagens no país, ter uma atitude mais “desprendida”.
A imprensa disse que o governo Lula queria aumentar os impostos, fazendo a cabeça da população contra a medida. Resumo da história: o PSDB e (Arena/PDS/PFL/DEM) retiraram esses quesitos para negociar a aprovação, e tudo continuou como dantes, no quartel de Abrantes.
O presidente da FIESP, o Paulo Scaffi, defensor dos grandes empresários paulistas, teve a cara de pau de dizer que era cara de pau do deputado que sugeriu a volta da CPMF (CSS), porque ela não seria boa para o Brasil. Eu perguntaria para que Brasil ela não seria boa, porque certamente para aqueles que padecem nas filas de hospitais públicos, seria muito boa sim, e também para aqueles que não precisam dos serviços médicos públicos mas que têm senso de justiça.
Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha de São Paulo, conta o encontro entre o cardiologista e ex-Ministro da Saúde, Adib Jatene com Paulo Skaf, presidente da FIESP, falando sobre a CPMF: “No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, concordarei com o fim da CPMF. Enquanto vocês milionários não toparem, não concordo. Os ricos não pagam impostos e por isso o Brasil é tão desigual. Vocês são contra porque a CPMF não dá para sonegar”.
A dúvida que ainda poderia persistir é se é ou não uma necessidade do governo esse recurso adicional. Mais uma vez ela, a imprensa, propalou o valor de tributos recebidos em abril, para induzir as pessoas a acreditarem ser o CSS desnecessário, mas esqueceu de dizer que foi o mês de entrega do imposto de renda, quando o recolhimento tem uma majoração substancial.
Sem ter maiores conhecimentos sobre o orçamento da União, adotei um raciocínio que me parece bastante razoável, para me colocar a favor da CSS.
O governo FHC, além da receita comum a ambos os governos, contou com a CPMF nas duas gestões, vendeu 76% do patrimônio público e obteve 3 empréstimos do FMI. Com tudo isso, ainda aumentou a dívida interna em mais de 1.400% (2001 - Itamar: R$ 61 bilhões / 2005 - FHC: R$ 881 bilhões).
Não diria que não houve investimento algum no governo FHC, mas apesar disso, as estradas do país foram sucateadas, os aeroportos e portos abandonados, a energia resultou no apagão. O salário dos militares e funcionários públicos foram congelados, o país não cresceu. E para mim, a pergunta que não quer calar é: O que fez FHC com o nosso dinheiro?
Já com Lula, não houve endividamento externo, pelo contrário, pagamos o que devíamos ao FMI e ao Clube de Paris, para recuperar a soberania, porque quem dá o pão, dá a instrução. Não houve também alienação do patrimônio.
Mas vimos os programas sociais tomarem vulto, a ponto do legado do Betinho, o “Natal sem fome”, nos últimos anos, em vez de distribuir cestas básicas, passar a distribuir brinquedos e livros. E quando há inclusão de cidadãos na economia do país, esta resulta em desenvolvimento, porque os ricos contribuem mesmo é para a economia dos países desenvolvidos.
Com Lula o país voltou a crescer, e o PAC está investindo em todos os estados da União, para acelerar o desenvolvimento. O Brasil tem sido constantemente elogiado no exterior: dizem que o gigante adormecido está finalmente acordando. Recebeu “grau de investimento” de três agências e pela 1ª vez, as más notícias não nos dizem respeito, mas à grande nação norte-americana.
A oposição não está preocupada com o país, até porque, se o Brasil chegou ao fundo do poço como sabemos, eles foram os grandes responsáveis, já que o governaram o por tantos anos. Não são capazes de fazer críticas pertinentes, como seria desejável para o fortalecimento da democracia, mas apenas atrapalhar, inventando dossiês cuja lógica não se sustenta, única e exclusivamente para impedir que o Lula continue trabalhando pelo bem do país e que possa eleger o seu sucessor.
Finalmente, o último argumento que poderia haver, seria o problema da corrupção. Infelizmente, é verdade. O Brasil tem uma cultura de corrupção que começou desde os tempos em que foi descoberto. A sensação que passa é que, onde se procurar corrupção, se há de encontrar. Porém, o governo PSDB + (Arena/PDS/PFL/DEM), a roubalheira correu solta. O Procurador Geral da República era conhecido como “engavetador”, porque arquivava todas as denúncias. A CGU - Controladoria Geral da União era dirigida pela Sra. Anadia, e foi o “jeitinho” que o FHC encontrou para evitar que fosse criada uma CPI para investigar uma quantidade incomensurável de denúncias contra o seu governo. A atual CGU é responsável pela destituição de inúmeros prefeitos, pegos em ladroagem. A Polícia Federal nunca trabalhou tanto, e pela 1ª vez estamos vendo ricos ladrões indo para a cadeia.
Não poderia afirmar que corrupção tenha acabado no Brasil. As pessoas são humanas, com defeitos, e as tentações muito grandes, mas o que é encontrado está tendo conseqüências, que só não são maiores, quando a justiça manda soltar os presos. Aliás, essa era uma outra bandeira a ser abraçada: acabar com a impunidade que o judiciário confere aos chamados “crimes de colarinho branco”.
Por: Sonia Montenegro
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