02 junho 2008

Novamente eles.... mais uma vez não assinam


Made in USA: bombas de fragmentação (cluster bombs)


Na 6ª-feira, 31/5, 111 nações, incluídos os aliados na OTAN, assinaram um tratado que fixa o prazo máximo de oito anos para a total extinção dos arsenais de armas e munição 'de fragmentação' (ing. cluster bombs) – são armas que disparam 'bombas-mãe' que, disparadas, fragmentam-se em milhares de bombas menores e alcançam grandes superfícies, onde, detonadas ou não, são armas mortais que ameaçam centenas, muitas vezes milhares ou milhões de vidas humanas, por longo tempo. O governo Bush não apenas não assinou o tratado como, também, opôs-se insistentemente a que fosse assinado.

Depois de vários anos de vacilação, a Inglaterra finalmente se desligou dos norte-americanos e concordou com a idéia de proibir este tipo de arma. A mudança de atitude dos ingleses representa um duro – já muito necessário – golpe na posição de Washington, que jamais aceitou qualquer tipo de controle sobre o uso de armas 'sensíveis'; e atinge diretamente, também, o governo Bush, que lutou contra, também, a assinatura deste tratado.

A campanha para proibir as bombas de fragmentação, impulsionada por ativistas da luta pelos direitos humanos, jamais alcançou a divulgação ampla que teve, por exemplo, a campanha contra minas terrestres – outro tratado que Washington também se recusou a assinar. Mas os dois tipos de arma têm, em comum, a característica de causarem mais baixas entre a população civil do que entre soldados, e de continuarem a provocar mortes, mesmo depois do fim da guerra.

Munição de fragmentação, disparada de aviões ou por artilharia de solo, libera, depois de disparada, milhares de pequenas bombas, que caem sobre superfícies equivalentes a dois ou três campos de futebol. Muitas não explodem no momento do impacto, mas podem ser detonadas por quem as toque ou pise sobre elas – como as minas. O que mais assusta, neste tipo de armamento, é que as bombas pequenas são feitas para 'parecer' uma lata de comida ou um brinquedo de criança.

Nenhum exército no mundo investiu mais na produção de bombas de fragmentação que o exército dos EUA. Os ativistas do grupo Human Rights Watch dos EUA dizem que os EUA são os maiores fabricantes, os maiores vendedores e os maiores usuários das bombas de fragmentação; e que já as usaram na antiga Ioguslávia, no Afeganistão e no Iraque. Além dos EUA, as bombas também são usadas por Inglaterra, França, Sudão, o exército da OTAN, Israel e o Hizbóllah.

Os oficiais do exército dos EUA insistem que as bombas de fragmentação devem permanecer no arsenal do Pentágono, e que são armas convencionais. Foi o que declarou o governo Clinton, ao opor-se ao tratado de 1997, que proibia o uso de minas. O argumento é muito fraco: as minas foram consideradas armas convencionais para guerras convencionais e em cenários convencionais de combate. Os EUA já não enfrentam guerras convencionais; hoje, enfrentam insurgentes ativos em áreas urbanizadas, entre civis, e onde não se admite munição que mate maior número de civis desarmados, do que de soldados armados.

Além disto, a posição dos EUA acaba por encobrir a posição de outros países (China e Rússia, por exemplo), que também se opõem à proibição das armas de fragmentação. Nesta medida, o tratado é fraco: juntos, estes três exércitos têm estoques de mais de um bilhão de armas de fragmentação, quantidade várias vezes maior do que a quantidade de armas que, pelo tratado, serão destruídas. E a cláusula que permite que os EUA continuem a manter "cooperação militar" com os signatários do tratado, oferecendo-lhes munição de fragmentação, o enfraquece ainda mais.

O tratado, contudo, pelo menos, como a proibição de minas terrestres, denuncia e estigmatiza a munição de fragmentação e torna mais difícil usá-la. Depois de as minas terem sido banidas, por tratado internacional, os especialistas dizem que já foram neutralizadas mais de 40 milhões de minas, que o comércio de minas praticamente acabou e que, em 2007, só dois países — Rússia e Myanmar — usaram minas. Os EUA já gastaram 1,2 bilhão de dólares (mais do que qualquer outro país do mundo) para localizar e destruir minas em áreas de guerra.

Pode-se conceder que as nações modernas mantenham arsenais para proteger interesses legítimos. Mas as armas de fragmentação matam mais civis que soldados. O presidente Bush deve resistir à tentação de sabotar este importante tratado e deve contribuir para que ele atenda aos efeitos para os quais foi pensado.

Não se sabe ainda claramente o que pensam sobre isto os candidatos que hoje disputam a presidência dos EUA. Mas, seja quem for o próximo presidente, deve opor-se à posição do governo Bush e deve assinar o tratado que proíbe, para todos, o uso de armas de fragmentação.

Tradução: Caia Fittipaldi
Fonte: New York Times

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