12 junho 2008

O Brasil 'deu certo'



Quem vir as televisões e ler os jornais parece que o Brasil está hoje à beira de um colapso. Ora, não é assim. O Brasil está hoje «na maior», para usar uma expressão bem brasileira.


Fiz, há dias, uma visita ao Brasil, acompanhado de uma equipa da RTP, para gravar três conversas filmadas com os meus amigos: José Serra, governador de São Paulo, Aécio Neves, jovem governador de Minas Gerais, neto do malogrado Presidente Tancredo Neves; e, finalmente, com o Presidente Luís Inácio Lula da Silva, Presidente da República. Passando por três grandes cidades (São Paulo, Belo Horizonte e Brasília), tive ocasião de me encontrar e conversar com muita gente das elites culturais e políticas brasileiras, de ouvir portugueses há muito radicados no Brasil, o embaixador de Portugal, Seixas da Costa, que é um profundo conhecedor do país, os dois cônsules e ainda passar os olhos pela imprensa e ver (alguma) televisão.



É bom que o leitor saiba que os dois governadores pertencem, ambos, ao PSDB, principal partido da Oposição a Lula e são vistos como eventuais candidatos à sua sucessão, e que Lula, cujo mandato termina no fim de 2009, não se podendo recandidatar, coloca-se hoje acima das preocupações partidárias, embora tenha sido fundador e continue a ser a principal referência do PT.



A primeira impressão é que são personalidades de excepcional gabarito político e moral, com uma vasta experiência política e acentuadas preocupações sociais. Aliás, PSDB e PT reclamam-se ambos do socialismo democrático, embora se distingam, perante o eleitorado brasileiro, por diferentes historiais e pontos de partida. Lula da Silva, antigo torneiro-mecânico, vem do sindicalismo católico mas integrou, inicialmente, no PT, muitos marxistas e gente da extrema-esquerda. O PSDB, fundado a seguir à transição democrática, tem uma base universitária e académica, embora muitos dos seus militantes, gente da classe média e trabalhadores, tenham sido (alguns) resistentes à ditadura militar.



Os partidos políticos brasileiros não têm, de resto, raízes estruturadas nem no plano ideológico nem no político. São todos de criação recente (pós-ditadura), sendo frequente personalidades políticas mudarem de partido, sem escândalo público. Porquê? Porque as pessoas que estão à frente dos partidos contam mais do que as histórias destes. Ao contrário do que sucede na Europa e nomeadamente em Portugal.



Quem vir as televisões e ler os jornais, cheios de faits divers e de escândalos, parece que o Brasil está à beira de um colapso. Casos de corrupção, de violência nas cadeias e nas favelas, insegurança generalizada.



Ora, não é assim. O Brasil está hoje «na maior», para usar uma expressão bem brasileira. A inflação é baixa e está controlada. O emprego tem subido espectacularmente. A pobreza extrema diminuiu de forma sensível. O Brasil pagou as suas dívidas externas e dispensou os auxílios do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. O real tem uma cotação próxima do dólar. As exportações aumentaram 162 biliões de dólares nos últimos 12 meses (o maior valor histórico). As reservas internacionais subiram a 162,9 biliões nos últimos 12 meses. Os investimentos externos no Brasil crescem há 14 trimestres consecutivos.



Não quero maçar os leitores com os números. Direi tão-só que a qualidade de vida dos brasileiros tem vindo a melhorar significativamente. Há um aumento de renda que permite aos mais pobres comprarem frigoríficos, máquinas de lavar, televisões, etc. A agricultura cresceu. Os programas «bolsa de família» e «luz para todos» têm sido um êxito reconhecido. E os brasileiros estão francamente optimistas, quanto ao futuro, como revelou uma sondagem muito recente. Lula aparece no auge da sua popularidade. Como dizem os brasileiros, com uma expressão característica, «o Brasil está a dar certo»! Não é só um «país emergente». Tornou-se, realmente, numa grande potência.



O que representa um enorme orgulho para Portugal e um parceiro insubstituível. Longe vão os tempos em que, com Stefan Zweig, se escrevia: «Brasil, país de futuro.» Hoje é uma incontornável realidade!


Mário Soares* – Advogado. Foi presidente de Portugal por dois mandatos sucessivos, de 1986 a 1996. Em 1974 e 1975 desempenhou as funções de Ministro dos Negócios Estrangeiros. Foi primeiro-ministro de 1976 a 1978 e de 1983 à 1985. Desempenhou, posteriormente, as funções de euro deputado no Parlamento Europeu. Atualmente, tem-se dedicado à escrita, à coordenação da Fundação a que deu o seu nome e à intervenção em inúmeros congressos e debates.


Fonte: Clix.visão

Enviado por: Fernando R. Freire

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