23 agosto 2008

Olimpíadas e o esporte no Brasil

Olimpíadas e o esporte no Brasil


Hoje após a linda vitória do Brasil no Vôlei, assisti ao desabafo das meninas após serem duramente criticadas nas Olimpíadas de Atenas e depois nos jogos Pan Americanos aqui no Brasil.
A imprensa colocou o rótulo de Equipe do Amarelão e o povo quieto concordou. Mas para quem algum dia conviveu ou de alguma forma tem noção do que seja esporte sabe que fortes fatores faz um atleta estar no auge e depois no chão. Álias não precisamos apenas nos basear no esporte, isto pode ocorrer na vida de um ator, de um politico, de um médico, enfim em qualquer situação HUMANA. Mas para a nossa imprensa tudo tem que ser perfeito, afinal ela IMPRENSA se acha perfeita e dona da verdade.
Hoje foi o desabafo das meninas, mas os atletas de uma forma geral, parecem que já vão para as competições, com o medo do que a imprensa falará sobre eles. Ao ponto de alguns pedirem desculpas pela má atuação. Vi isto muito nestes últimos dias, e estava aqui esperando esse momento para me manifestar. E hoje como sempre me chegou um email com um desabafo que também é o meu.

Vera


Vendo os atletas brasileiros pedindo desculpas pela não obtenção de medalhas e sobre o que se faz pelo esporte no Brasil, resolvi escrever este texto que na minha opinião reflete sobre quem deve desculpas a quem.

Ronaldo Pacheco


DESCULPAS AO ESPORTE E AOS ATLETAS BRASILEIROS


Desculpem pela falta de espaços esportivos nas escolas;

Pela falta de professores de educação física nas séries iniciais;

Pelas escolinhas mercantilizadas que buscam quantidade de clientes e não qualidade de aprendizagem;

Desculpem pela falta de incentivo na base;

Desculpem pela falta de praças esportivas;

Desculpem pelo discurso de que “o esporte serve para tirar a criança da rua” (é muito pouco se for só isso!);

Desculpem pela violência nas ruas que impede jovens de brincar livremente, tirando deles a oportunidade de vivenciar experiências motoras;

Desculpem se muito cedo lhe tiraram o “esporte-brincadeira” e lhe impuseram o “esporte-profissão”;

Desculpem pelo investimento apenas na fase adulta quando já conseguiram provar que valia a pena;

Desculpem pelas centenas de talentos desperdiçados por não terem condições mínimas de pagar um transporte para ir ao treino, de se alimentar adequadamente, ou de pagar um “exame de faixa”;

Desculpem por não permitirmos que estudem para poder se dedicar integralmente aos treinos.

Desculpem pelo sacrifício imposto aos seus pais que dedicaram seus poucos recursos para investir em algo que deveria ser oferecido gratuitamente;

Desculpem levá-los a acreditar que o esporte é uma das poucas maneiras de ascensão social para a classe menos favorecida no nosso país;

Desculpem pela incompetência dos nossos dirigentes esportivos;

Desculpem pelos dirigentes que se eternizam no poder sem apresentar novas propostas; Desculpem pelos dirigentes que desviam verbas em benefício próprio;

Desculpem pela falta de uma política nacional voltada para o esporte;

Desculpem por só nos preocuparmos com leis voltadas para o futebol (Lei Zico, Lei Pelé, etc.);

Desculpem se a única lei que conhecem ligada ao esporte é a “Lei do Gérson” (coitado do Gérson);

Desculpem pelos secretários de esporte de “ocasião”, cujas escolhas visam atender apenas, promessas de ocupação de espaços político-partidários (e com pouca verba no orçamento);

Desculpem pelos políticos que os recebem antes ou após grandes feitos (apenas os vencedores) para usá-los como instrumento de marketing político;

Desculpem por pensar em organizar “Olimpíadas” se ainda não conseguimos organizar nossos ministérios; nossas secretarias, nossas federações, nossa legislação esportiva;

Desculpem por forçá-los, contra a vontade, a se “exilarem” no exterior caso pretendem se aprimorar no esporte;

Desculpem pela cobrança indevida de parte da imprensa que pouco conhece e opina pelo senso comum.

Desculpem o povo brasileiro carente de ídolos e líderes por depositar em vocês toda a sua esperança;

Desculpem pela nossa paixão pelo esporte, que como toda paixão, nem sempre é baseada na razão;

Desculpem por levá-los do céu ao inferno em cada competição, pela expectativa criada;

Desculpem pelo rápido esquecimento quando partimos em busca de novos ídolos;

Desculpem pelas lágrimas na derrota, ou na vitória, pois é a forma que temos para extravasar o inexplicável orgulho de ser brasileiro e de, apesar de tudo, acreditar que um dia ainda estaremos entre os grandes.


Prof. MSc. Ronaldo Pacheco de Oliveira Filho
Prof. da Secretaria de Educação do DF (cedido à UnB)
Prof. da Universidade Católica de Brasília


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