21 agosto 2006

Ferramentas Modernas de Comunicação

Jornal Nacional, as vinhetas de passagens que antecedem e finalizam os comerciais , me chamaram a atenção: rápidos flashes, mostram pneus de carros passando sobre deficiências do asfalto em uma estrada. William Bonner anuncia a matéria: “Caravana do JN, dentro de instantes”. Quase no final do jornal, antes da entrada do programa eleitoral, finalmente a “esperada” entrevista da Caravana do JN. Tentei adivinhar o que poderia vir. Pedro Bial, colérico, aponta e critica trechos de estrada mal conservados, acompanhado de moradores da periferia que engrossam as críticas. Em seguida, a edição do vídeo tape mostra uma placa indicando que a estrada é Federal. Pedro Bial “revoltado” reclama que os buracos da estrada ocasionaram problemas mecânicos no ônibus da “caravana”. Terminou o Jornal Nacional, com a matéria negativa para o governo Lula. Logo após, Alckmin dispensa minutos de seu tempo para bater em Lula e nas estradas federais em seu programa eleitoral gratuito. Coincidência ou manipulação? Merval Pereira de O Globo é quem mostra o caminho das pedras:



“Ainda sem resposta, uma pergunta assombra os assessores e aliados do candidato tucano Geraldo Alckmin: o que fazer para descontar os 11 pontos percentuais que separam Lula de seus opositores, na corrida presidencial, e lhe garantem vitória no primeiro turno, de acordo com a mais recente pesquisa do Ibope? O mundo globalizado do marketing político está cheio de exemplos de campanhas dadas como perdidas e que foram vencidas com o uso de ferramentas modernas de comunicação, assim como tem exemplos de uso errado de estratégia que levou à derrotas, momentâneas e definitivas. Uma das estratégias colaterais da campanha tucana é inflar a candidatura de Heloísa Helena, do PSOL, com o objetivo de que seu crescimento leve Alckmin ao segundo turno. Existem até mesmo comitês ligados ao tucano que ajudam campanhas locais do PSOL, na certeza de que, num eventual segundo turno, a maior parte dos votos de Heloísa Helena migrarão para Alckmin, e não para Lula. A campanha de Alckmin calculou o “potencial de captura” de cada candidato e descobriu que, proporcionalmente aos votos já consolidados, Heloísa Helena tem maior potencial do que todos os outros candidatos, sendo que, sobre os votos de Alckmin, esse potencial é duas vezes maior. Isso quer dizer que a candidata do PSOL vem crescendo em cima dos eleitores de Alckmin, que pode retornar a ele no segundo turno.” E continua Merval: “Temos aqui mesmo no Brasil um exemplo de como essa tática tucana pode dar errado. Na campanha para governador do Rio em 1982, o governo militar resolveu ajudar a candidatura de Brizola, até mesmo com financiamento por baixo do pano, para neutralizar Miro Teixeira, então líder das pesquisas do PMDB, e abrir espaço para Moreira Franco, candidato do antigo PDS. Deu Brizola na cabeça”. No restante do artigo, Merval Pereira professoralmente, ensina táticas maquiavélicas de como se ganhar eleições usando métodos pouco recomendáveis e longe dos padrões de comportamento ético normal.

O que parece um simples artigo, transforma-se em denúncia, uma vez que claramente o jornalista autor, diz com todas as letras que: “existem até mesmo comitês ligados ao tucano que ajudam campanhas locais do PSOL, na certeza de que, num eventual segundo turno, a maior parte dos votos de Heloísa Helena migrará para Alckmin.” Resta saber que comitês são esses e de onde vêm os recursos para provê-los. Serão financiamentos por baixo dos panos? Ou um antigo modelo de caixa dois liberado? O texto de Merval tem sentido, uma vez que a Revista Época, da Editora Globo, publicou nesta semana, extensa matéria rasgando sedas para a candidata do PSOL, com o apoio promocional da Globo.com: “Heloísa Helena: conheça melhor a mente da mulher que desafiou o PT.” / “A filha do sonho e da dor . “Por dentro do mundo e da mente da Heloísa Helena”./ “Galeria de fotos da Heloísa Helena” / Assista à primeira parte da entrevista do Jornal Nacional “/ “Assista a segunda parte da entrevista do Jornal Nacional” / “Galeria de fotos de Heloísa Helena” Se isso não é propaganda partidária com recursos não declarados e “por baixo dos panos” eu troco de nome. Depreende-se disso tudo, que as forças oligárquicas que sempre governaram este país e que o quebraram por diversas vezes, tudo farão para ter de volta o poder e a recomposição das elites, num verdadeiro pacto que já de delineiam no acordo das minorias dominantes, que mudam constantemente a forma de dominação para se perpetuarem no poder. Torna-se necessário interromper as trajetórias deste pacto das elites, que tem marcado a vida dos brasileiros e sua história e livrado os responsáveis pelo colonialismo, pela escravidão, pela monarquia, pela política do café, pela ditadura, e pela inflação de pagar pelos males que impuseram ao país e ao povo. Eles querem de volta o poder, mesmo que para isso usem de todas as “ferramentas modernas de comunicação”. Significa que, usarão de todos os métodos e de todos os meios, mesmo os mais ignóbeis, como, utilizar-se de concessões públicas, como é o caso de emissoras de rádio e televisão, para promover o candidato dos abastados e dos poderosos. A “Caravana do Jornal Nacional” com término às vésperas das eleições, ardilosamente, não tem a função de colocar no ar um jornalismo informativo e isento, e sim, o de deixar-se usar, como estratégia de Marketing, para mostrar os pontos vulneráveis do governo Lula, mesmo sabendo que esta vulnerabilidade vem de governos passados como é o caso da má conservação de estradas, herança de oito anos de descaso do governo PSDB do qual faz parte o principal opositor de Lula nestas eleições, Geraldo Alckmin.

Email: José Lopes

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