23 novembro 2006

Brasil ainda está dez anos à frente da China, diz ex-diretor do Banco Mundial


A economia brasileira não tem apenas desvantagens em relação à Índia e à China, na avaliação do diretor de avaliação independente do Banco Mundial, o indiano Vinod Thomas.

"O Brasil parte de um patamar mais alto. Se a China continuar crescendo 10% ao ano, só dentro de dez anos vai alcançar o Brasil (em PIB per capita)", disse Thomas, que veio a Portugal para lançar o seu livro O Brasil visto por dentro. De acordo com dados do próprio Banco Mundial, em 2005 a renda per capita brasileira estava em US$ 3.460 e a chinesa, em US$ 1.740.

Falando no lançamento do livro, resultado dos quatro anos que passou como diretor do Bird no Brasil, Thomas fez uma comparação entre as economias dos três países.

"Os três países têm desafios diferentes. A Índia e a China têm uma situação fiscal mais desfavorável, estão com déficits fiscais. Com o superávit primário, o Brasil precisa (apenas) manter a disciplina fiscal enquanto os outros dois países ainda necessitam de reduzir o déficit", afirmou Thomas, que deixou o cargo no Brasil no ano passado.

Durante a apresentação, ele afirmou que a distribuição de renda é uma das condições necessárias para aumentar o ritmo do crescimento da economia. Disse que o país tem conseguido progressos nessa área nos últimos anos, apesar de ter uma situação mais desfavorável do que a Índia e a China.

Crescimento em dobro
Em entrevista à BBC Brasil, Thomas disse acreditar ser possível para o Brasil acelerar o ritmo de crescimento nos próximos anos.

"O Brasil tem condições de, dentro de três a quatro anos, estar crescendo o dobro do que cresce até agora", disse o ex-diretor do Banco Mundial, para quem é preciso dar mais enfoque ao crescimento econômico através de dois tipos de ações.

"No curto prazo, melhorar o clima de investimento, através de políticas públicas, e no médio prazo através da segunda fase das reformas estruturais, na área da previdência, área tributária, área do trabalho."

Questionado a respeito da discussão entre monetaristas e desenvolvimentistas dentro do governo brasileiro, ele disse que é preciso promover o controle das finanças públicas e investir ao mesmo tempo.

"O que está claro para mim é que os dois estão ligados", disse Thomas. "A combinação entre disciplina fiscal e melhor investimento seria a direção correta. Só disciplina fiscal e austeridade sem crescimento cria a necessidade de mais disciplina fiscal e isso seria um ciclo vicioso", explica o ex-diretor do Bird.

Por outro lado, argumenta, a melhora da qualidade dos gastos do setor público daria mais espaço para o governo fazer investimentos, o que, por sua vez, atrairia mais investimento privado, e, por extensão, ajudaria a disciplina fiscal.

No entanto, ele diz considerar que o primeiro passo é o da disciplina fiscal: "Tem que começar com a disciplina fiscal. Uma vez que se tivesse mais qualidade no investimento público, o setor privado também entraria. O setor privado no Brasil é muito dinâmico em comparação com outros países. Não falta dinamismo, mas acho que precisa melhorar o clima para os investimentos. "

Segundo Thomas, o Brasil não precisa olhar para a Índia ou para a China como exemplos para o crescimento, porque pode procurar os exemplos internamente.

"Apesar do crescimento global de 2% a 3%, há estados no Brasil que têm crescido como a China ou a Índia. Um ponto muito interessante para mim é que os estados mais pobres têm crescido muito mais do que os mais ricos. No Brasil, quem cresce a 5%, 6%, 7% ou 8% são os Estados do Nordeste. Há clima de investimento e políticas dos governadores que apóiam o investimento do setor privado."

"Na China e na Índia, os estados que têm crescido mais são os mais ricos. No Brasil, o crescimento dos estados do nordeste representa uma distribuição da riqueza."

Para Thomas, isso representa uma vantagem do Brasil em relação às duas potências asiáticas, já que a concentração do crescimento pode gerar tensões que ameacem a sustentabilidade do ritmo de desenvolvimento da economia.

Gargalo
Para o ex-diretor do Bird no Brasil e atual diretor de avaliação independente da instituição, um dos principais gargalos do desenvolvimento brasileiro está na falta de investimento público, que não cria um ambiente favorável para o investimento privado:

"Só há espaço para a conta corrente. Para mudar isto, a qualidade da despesa tem que melhorar. Aí, pode reduzir de tamanho e deixar espaço para o investimento. E o clima para o setor privado é algo que a nível nacional o governo pode controlar. Isso pode ocorrer, por exemplo, com um plano para melhorar o clima para o investimento em 90 dias, o que aumentaria o investimento na área de infra-estrutura. "

Vinod Thomas também destacou a necessidade de se realizar a reforma política.

Fonte: INVERTIA

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