21 novembro 2006

O 'caso Magnoli' é exemplar. Temos de estudá-lo bem de perto e a fundo


Muito bom o texto abaixo, de Carta Maior, distribuído pelo Lima, pq dá espaço para discutir o que esse texto AINDA não é. Vejamos se me explico melhor.

O movimento que mais me chama a atenção (e já faz algum tempo) é a 'cooptação', agora, pela mídia de jornalão & Rede Globo, do prof. Demétrio Magnoli [no trecho destacado abaixo].

O prof. Magnoli esteve, semana passada, no programa do Jô e é figura MUITO presente nos programas de entrevista da Globo News, com entrevistadores como Alexandre Garcia e William Waack.

Esses dois jornalistas são tb casos exemplares a serem estudados, pq, como entrevistadores, os dois estão sendo usados mais 'integralmente', não só como 'repórteres' ou apresentadores de jornais de TV, mas, completamente, como 'jornalistas-colunistas', quer dizer, como jornalistas-ideólogos (que ambos tb são), e são muito ativamente de direita, militantes, de fato, ambos, desde a ditadura.

O movimento de atrair o prof. Magnoli parece-me bom caso pra estudarmos.

Primeiro, pq está acontecendo sob as nossas barbas, hoje mesmo; segundo, pq é caso exemplar do modo como os intelectuais tucano-uspeanos são 'atraídos' para os jornalões paulistas.

Há toda uma 'escola' uspeano-tucano-pefelista -- professores que saem da USP diretamente para as telas e páginas dos jornalões paulistas. No geralzão, são designados aqui no bairro como "os professô-dotô".

Essa 'escola' da sociologia uspeana (dos "professô-dotô") é hoje a mais claramente engajada na campanha contra o segundo mandato do presidente Lula. Na minha opinião, esses professores uspeanos são, hoje, os ideólogos do movimento anti-lulismo.

CONTUDO, parece-me que, aí, a direitona TAMBÉM está no mato sem cachorro, no Brasil de Lula:

-- as únicas 'credenciais' que esses carinhas têm, em 2006, é ou eles serem sociólogos da 'terceira via' (que já deu côs burros n'água em todo o mundo), na linha da 'sociologia' de FHC et caterva; ou, então, sua 'credencial' é 'generacional', 'pq' eles ainda guardariam marcas 'cenográficas' da... Libelu [risos muitos, muitos, muitos] (como os cabelos despenteados do Magnoli, aí 'lembrados' por Carta Maior).

É IMPRESSIONANTE, sob todos os aspectos, que a 'sociologia' uspeana, em 2006, seja já tão pouco crítica, a ponto de ela mesma já nem ver que a própria sociedade brasileira já está começando a ver que os 'sociólogos' uspeanos estão sendo 'aproveitados' (e pautados, é claro, além de 'financiados') pela Rede Globo.

De fato, cada dia me convenço mais de que o que mais falta ao Brasil, hoje, é PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS que critiquem seus... colegas de emprego.

ATENÇÃO: que ninguém se iluda muito: nem Carta Maior faz essa crítica. NINGUÉM faz essa crítica, no Brasil-2006. Nem Gushiken fez. Nem o Núcleo de Estudos Estratégicos faz ou algum dia fez ou fará.

A USP, por sua vez, existe para IMPEDIR que essa crítica seja feita. E os professores universitários, no Brasil, já ligados todos mais 'no automático' da autodefesa corporativa (e dos respectivos empregos) do que, propriamente, na construção ou no ensino de alguma sociologia que ajude a redemocratizar o Brasil, só fazem pensar, sempre, primeiro, nessa porra de "autonomia universitária" (ou, então, eles são enlouquecidamente economicistas).

Acho MUITO importante examinarmos BEM de perto o discurso desses professô-dotô das universidades brasileiras, sobretudo os que estejam sendo 'profissionalizados' na mídia e os que ACREDITEM, ainda, que a mesma sociologia que se está deixando 'profissionalizar' tão baratinho possa ainda ajudar a democratizar o Brasil.

Na minha opinião, é nesses discursos 'acadêmicos-midiáticos' autoproclamados 'críticos', mas nada críticos, que está, hoje, no Brasil, o xis da questão da democratização radical da mídia.

A questão da propriedade dos veículos é importantíssima, é claro. Mas de pouco nos adiantará mudar a propriedade dos veículos, se não tivermos DISCURSOS POLÍTICOS que substituam o discurso político desses 'sociólogos' 'uspeano-midiáticos' que está ativado hoje, no Brasil, nos jornalões e na Rede Globo.

Dado que tampouco temos jornalistas formados para o jornalismo POLÍTICO de democratização, é possível também que, se só mexermos na questão da propriedade dos veículos, e não mexermos também na FORMAÇÃO dos jornalistas, tampouco conseguiremos algum outro tipo de jornalismo, mesmo que, por algum milagre, 'viremos' proprietários de todos os jornalões, de todas as televisões e, até, do Ministério das Comunicações inteirinho, de cabo a rabo.
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Sobre Magnoli, que se pode adotar como 'case' pra estudar a fundo, diz Carta Maior:

"Trata-se de Demétrio Magnoli, 48, geógrafo e cientista político, formado pela USP. Com os cabelos permanentemente despenteados, Magnoli ainda mantém o jeitão de dirigente da histórica Libelu, abreviação da corrente trotskysta Liberdade e Luta, atuante no movimento estudantil dos anos 1970/1980, de onde saíram, entre outros, Antonio Palocci e Luiz Gushiken.

Em 24 de agosto último, Magnoli escreveu, em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo, um derramado elogio ao livro de Ali Kamel, "Não somos racistas" (Editora Nova Fronteira). Segundo o colunista, "Escrever tal livro é um ato de coragem, ainda mais se o autor ocupa um cargo executivo no jornalismo das Organizações Globo. Uma coragem cívica, necessária". Semanas depois, Magnoli anunciava seu desligamento da Folha e transferia-se para os jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.

Unificando pontos de vista e afinando um discurso mais incisivo e menos pluralista, a Globo prepara-se para o segundo governo Lula. Resta ver qual será a reação do outro lado.

Anoto, pra chamar a atenção, que TUDO, nesse texto de Carta Maior seria MUITO DIFERENTE, e mais claro, se concluísse com a seguinte frase: "Resta ver qual será a reação do NOSSO lado".

OK. O que Carta Maior não escreveu, escrevo eu-euzinha: QUAL SERÁ A REAÇÃO DO NOSSO LADO?
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Globo prepara-se para o segundo governo Lula

Depois de apostar suas fichas no caso da compra do dossiê, rede sofre desgaste diante da opinião pública.
Governador do Paraná mostra erro em cobertura e emissora tenta se explicar. Para evitar crise maior, a direção da Globo centraliza jornalismo e busca comentaristas afinados com discurso único.

Gilberto Maringoni - Carta Maior

SÃO PAULO - Há vários indícios de que as Organizações Globo sofrem um processo de mudanças internas com vistas ao segundo governo Lula. Elas vão no sentido de uma maior unidade na cobertura geral de todos os veículos da rede - TVs, rádios, jornais e portal na internet. No centro da operação está o diretor de jornalismo, Ali Kamel, 44, um sociólogo carioca que ingressou nas empresas do grupo em 1989 e protagonista de uma fulgurante careira rumo ao topo. Para falar de Kamel, vamos comentar alguns acontecimentos das últimas semanas.

Na noite da quarta-feira, 8 de novembro, tendo como fundo apenas as bandeiras do Brasil e do Paraná e envergando um casaco de couro preto sobre uma camiseta vermelha, o governador Roberto Requião olhou fixamente para a câmera e ligou sua metralhadora verbal. Em quatro minutos e um segundo cravados fez um duríssimo ataque a Rede Globo de Televisão na TV Educativa do Paraná.

Apresentando dados e informações, Requião buscou desmontar a série de reportagens sobre supostos problemas no porto de Paranaguá, apresentadas pelo Jornal Nacional antes e depois das eleições. O porto, um dos principais terminais públicos de exportação de grãos do país, era exibido como ineficiente e defasado. O motivo: não teria passado por um esforço modernizante, somente possível através da privatização. (Veja a matéria de Carta Maior a
respeito aqui.

"Durante a campanha eleitoral", disse Requião, "Pedro Bial esteve aqui (em 5 de agosto), cobrindo os gargalos do Brasil e filmou um terminal privado, afirmando haver congestionamento de caminhões no porto público, dizendo que deveríamos privatizá-lo". Em seguida, o governador cita outro caso: "Ernesto Paglia, no Jornal Nacional do dia 7 (de novembro), disse que nós temos filas de 90 quilômetros (nas estradas para o porto), e apresenta um filme de 2002, quando nós não estávamos no governo". Sem fazer pausa, Requião dispara: "As notícias são mentirosas. (...) Eles fazem o elogio da privatização". E finaliza perguntando "Quando é que a Globo vai se emendar?" Para completar, o governo paranaense enviou à direção da emissora um calhamaço de documentos atestando a inexistência de filas no terminal, pedindo a correção da matéria.

Carta Maior procurou seguidas vezes ouvir o repórter Ernesto Paglia na tarde e na noite da sexta-feira, 17, mas não o localizou.

O mea culpa de Bonner

Dois dias depois do pronunciamento de Requião, na sexta feira, 10, William Bonner, apresentador do Jornal Nacional leu, no meio da edição, a seguinte nota: "Nesta semana, o Jornal Nacional errou ao mencionar filas quilométricas de caminhões em Paranaguá. Estas filas praticamente sumiram desde a implantação do novo sistema de controle de embarque de cargas, em 2004".

O Secretário de Imprensa do governo local, Benedito Pires avalia que a autocrítica externada por Bonner tem duas motivações principais: "As pressões e denúncias que veiculamos e ao desconforto existente nas redações, com a forma dos patrões dirigirem as empresas de comunicação". E vai além: "Se Requião tivesse perdido as eleições, como eles queriam, não haveria autocrítica alguma".

O governador paranaense, ao que tudo indica, tornou-se o novo alvo da grande mídia. A primeira entrevista coletiva de seu governo, na segunda-feira 30 de outubro, foi marcada pelas ríspidas acusações aos meios de comunicação presentes na sede do governo. O motivo era o suposto favorecimento da imprensa ao seu oponente, senador Osmar Dias (PDT), derrotado por uma diferença mínima de 0,2% dos votos válidos.

O comportamento do chefe do executivo mereceu o seguinte parágrafo do editorial principal da Folha de S. Paulo de 1° de novembro, que mencionava os atritos entre o PT e a mídia: "Envereda pelo mesmo caminho o governador Roberto Requião, conhecido pela boçalidade, que inventou um complô de veículos de comunicação para explicar sua reeleição apertadíssima no Paraná".

Abaixo assinado

Há suspeitas de que a série de matérias sobre o porto de Paranaguá foi articulada previamente com comerciantes e industriais paranaenses, a quem interessaria a derrota de Requião.

Assim, a possível trama nacional à qual a emissora teria se engajado, para forçar o segundo turno presidencial, teria contado com pelo menos uma subtrama regional. Com a dupla derrota sofrida - as eleições de Lula e Requião - e um visível desgaste público, é natural que a emissora tente agora reparar o que for possível na própria imagem. O mea culpa é um dos componentes deste movimento, mas não o único. Além da satisfação à opinião pública, há um movimento interno à empresa e aos seus círculos próximos, no qual se insere o episódio do abaixo-assinado de 172 jornalistas da emissora, articulado pelas chefias do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Cuiabá, de Belo Horizonte, de Brasília e de Recife.

Entre alguns jornalistas da emissora, no Rio, é voz corrente que Ali Kamel seria o principal incentivador texto em apoio à cobertura eleitoral da emissora. O documento faz, sem citar nomes, um ataque direto às matérias de Raimundo Rodrigues Pereira, publicadas na revista Carta Capital, denunciando as articulações midiáticas realizadas a partir do episódio do dossiê dos Vedoin.

O abaixo assinado esteve longe de ser uma unanimidade interna. Uma minoria entre os profissionais de jornalismo da empresa o apoiou, como pode ser verificado com uma simples comparação. Somente na Globo de São Paulo, contando as produções, as áreas ligadas a CGP (Central Globo de Produção) e CGCom (Central Globo de Comunicação), há aproximadamente 300 jornalistas. O número total, no Brasil, contando as emissoras filiadas, é de cerca de dois mil profissionais.

Divulgado apenas pelo site Comunique-se, lido especialmente por gente da área, o objetivo do documento é legitimar as orientações da chefia de reportagem, exercida com mão de ferro por Ali Kamel. Discreto e extremamente dedicado ao trabalho, é provável que Kamel tenha ficado insatisfeito com o desgaste gerado pela cobertura e pela exposição pública a que seu nome foi submetido. O abaixo-assinado serviria como um respaldo à sua conduta. As chefias da emissora não se pronunciam publicamente.

Entre os repórteres cariocas há um crescente incômodo com a obsessão detalhista com que Kamel supervisiona tudo o que vai ao ar. No período eleitoral, essa busca pelas minúcias se acentuou.

Saída de Franklin Martins

Ali Kamel exerce a função atual há três anos e meio. A guinada mais sensível sob a batuta do novo chefe foi percebida em abril último. Foi quando Franklin Martins, o comentarista político mais independente da emissora, não teve seu contrato renovado. A explicação de do diretor de jornalismo foi a de que sua imagem não era boa em pesquisas realizadas entre os telespectadores. Em seu lugar entrou Merval Pereira, diretor de redação do jornal O Globo.

Batendo seguidamente no PT e no governo Lula durante a campanha eleitoral, Pereira faz parte do time de comentaristas que parecem seguir uma orientação orquestrada. No time estão Miriam Leitão, Carlos Alberto Sardenberg, Alexandre Garcia, Cristiana Lobo e Jorge Bastos Moreno. Este último, colunista de O Globo e blogueiro, fez circular, entre os jornalistas da emissora, uma mensagem no tom de "temos de vestir a camisa das Organizações".

Inteligente, competente e centralizador, Kamel busca unificar as coberturas de todos os veículos das Organizações Globo, as TV aberta e a cabo, a rádio CBN e o jornal, do qual é também colunista. Ao que tudo indica, ele é também o responsável pela contratação de outro profissional com idéias aproximadas às suas.

Fonte: Carta Maior

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