22 novembro 2006

Governo do PR responde ao jornal “O Estado de S.Paulo”


Que o jornal “O Estado de S.Paulo” distingue-se pela sabujice aos interesses multinacionais e pelo horror a qualquer coisa que soe nacional, brasileira, sabe-se. Desconhecia- se, no entanto, que o servilismo dobrasse sua espinha ao ponto do uso de uma linguagem vulgar, reles, imprópria à empavesada tradição do jornalão.

Foi o que aconteceu com o editorial de sábado, dia 18, atacando mais uma vez o Governador Roberto Requião.

Como sempre, ao jornal não interessa buscar a verdade nos fatos. Azar da verdade. O que se impõe é a obsessão em considerar toda medida contra uma multinacional como ação criminosa, reprovável. Se a multinacional transgride as leis locais, desrespeita os limites impostos à sua atividade, azar das leis, azar das restrições. Em qualquer circunstância, defende o jornalão, elas têm razão. E se um governador decide que não é bem assim, azar do governador, vai merecer uma descompostura dos vigilantes sabujos.

Como de há tempo sabia-se, a Syngenta realizava pesquisas em área de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, com riscos mais do que certos à preservação da reserva. Além da Syngenta, 14 propriedades vizinhas ao Parque foram multadas por desobedecer às regras que impõem cuidados especiais às atividades agrícolas na região.

Os proprietários de 13 fazendas recorreram e a Justiça Federal confirmou as multas. A Syngenta simplesmente ignorou a multa, não a pagou e nem recorreu à Justiça. Olimpicamente, um comportamento com toda a certeza aplaudido pelo jornalão, seguiu em frente reincidindo na ilegalidade.

O que fez o Governador? O que se espera de um governante preocupado com a preservação de uma das poucas reservas florestais ainda intocadas em nosso Estado e que circunda as incríveis cataratas do Iguaçu: desapropriou a área.

Os critérios foram absolutamente técnicos. O fato da Syngenta ser a maior empresa de sementes e de defensivos agrícolas instalada no Brasil, onde fatura 800 milhões de dólares por ano, como berra indignado o jornalão, não a livra, não a desobriga de respeitar o meio ambiente brasileiro, de tomar cuidados para não contaminar o Parque Nacional do Iguaçu.

De todo o mundo, da Austrália à Holanda, dos Estados Unidos ao Afeganistão, da Suécia ao México, da Inglaterra à Índia, da França ao Canadá, da Espanha ao Chile vieram manifestações cumprimentando o Governador pela decisão, na verdade, já reivindicada e esperada.

Tais manifestações certamente não interessam ao “Estadão”. Para o jornal, contam as manifestações dos senhores, do mercado, dessa gente que acha que o Protocolo de Kyoto é um atraso de vida, um atraso em sua insaciável, pantagruélica fome de comer recursos naturais, de botar tudo abaixo, de realizar fantásticos, efêmeros mas funestos lucros.

Pior ainda, os movimentos sociais, aos quais o “Estadão” tem um horror tão conhecido, também apoiaram a desapropriação. Para o jornal isso é imperdoável. Onde já se viu a patuléia opinando, pressionando, manifestando- se.

Na democracia dos senhores, essas pessoas não devem ter voz. Voto, talvez sim, desde que sufragassem a vontade dos senhores. Basta ver quantos lamentos depois do resultado de novembro.

Em resumo, há dois lados muito claros no episódio, demarcados por visões de mundo diversas. De um lado, o “Estadão”, ardente e mal educado defensor dos interesses transnacionais, mesmo quando tais interesses agridem e desrespeitam.

De outro, aqueles que ainda acham que é possível sim sonhar com um Brasil desenvolvido, altivo, independente, fraterno, mais igual, melhor de se viver e convivendo de forma harmoniosa com a magnífica natureza que nos cerca, protege e acalenta. Sentimentos enfim abominados pela barbárie dos senhores que o “Estadão” defende.

Por fim, uma última observação: a má educação do “Estadão”, o uso de uma linguagem tão grosseira, tão baixa, antítese daquele vernáculo empantufado, daquela soberba engomada e arrebitada de outrora, parece revelar uma impaciência cada vez maior dos senhores com o que acontece em nosso país hoje. Os “estadões” estão impacientes, nervosos, com comichões. A democracia, definitivamente, não parece fazer bem ao jornalão e confrades. Sendo assim, talvez fosse demais pedir a eles o mínimo de elegância e de compostura.

Em tempo.

Não é a primeira vez, e temos certeza de que não será a última, que o “Estadão” transborda a sua ira contra o Governador Requião. Citem-se algumas:

1) O caso da suspensão dos pagamentos do contrato da Copel com a espanhola Cien-Endesa. O jornal ficou possesso e disse que Requião atrapalhava a atração de investimentos estrangeiros para o nosso país. O pagamento foi suspenso para que o contrato fosse renegociado, já que era extremamente prejudicial aos paranaenses. A pendência chegou a bom termo. O “Estadão”, é claro, não reconheceu que dissera besteira.
2) O caso da renegociação do contrato da Copel com a americana NRG Energy (hidrelétrica de Itiquira). Também aqui Requião fez uma repactuação vantajosa para o Paraná. Mas nenhuma referência do “Estadão” sobre o assunto.
3) O caso da renegociação da parceria da Copel com a americana El-Paso, na Usina Elétrica a Gás de Araucária –UEGA. Também chegou-se a um bom termo. E nada do “Estadão” reconhecer toda a estultícia que disse sobre o assunto.
4) O caso da renegociação do Pacto de Acionistas que dava o controle da Sanepar ao sócio privado, minoritário. Por iniciativa do Assembléia Legislativa do Paraná, o pacto foi revisto. Mas ao Governador sobraram os furibundos editoriais do jornalão.
5) O caso do pedágio. Requião discute na Justiça a repactuação das concessões, já que a tarifa do pedágio no Paraná é sabidamente abusiva (menos para a ignorância daqueles que acham que ao capital privado tudo se permite). Neste ano, as concessionárias vão arrecadar 735 milhões de reais, e não terão aplicado 30% na manutenção das rodovias. Diga-se ainda que as obrigações mais significativas das concessionárias, como a duplicação das rodovias, apenas deverão ser cumpridas, segundo os contratos, no último ano da concessão, daqui 25, 30 anos. E o “Estadão” defende as concessionárias com toda a veemência de seu servilismo.
6) O caso dos transgênicos. Outro assunto de predileção do jornalão. Só faltou propor que se queimasse Requião em praça pública por sua resistência à imposição das sementes geneticamente modificadas da Monsanto. Eis aí a soja convencional paranaense obtendo preços significativamente vantajosos em relação à soja transgênica. E com os nossos agricultores livres de pagar royalties à multinacional, como gostaria o “Estadão”.
7) O caso do Porto de Paranaguá. Obtuso, por sua obsessão privatista, o “Estadão” dedicou outros tantos editoriais contra o Porto. Reorganizado, modernizado, com uma logística eficiente, o Porto saiu do vermelho, aumentou a capacidade de embarque, dobrou a receita cambial e zerou as tantas reclamações de importadores que desmoralizavam o Terminal.Os caminhões deixaram de ser silos ambulantes, estacionados nas estradas à espera do desembarque. Hoje, nenhum caminhão desce à Paranaguá sem que o desembarque de sua carga esteja agendado e o navio no cais pronto para carregar. Mas para o “Estadão” isto não basta, ele quer porque quer, a privatização do Porto.
8) O caso do contrato com o Itaú. Nos últimos dias do governo que antecedeu Requião, foi renovado, de forma irregular, a concessão das contas públicas do Paraná ao banco. Requião foi à Justiça para reparar a evidente anomalia. As contas foram transferidas para bancos públicos, como é da lei e discute-se a pendência no Judiciário. Apenas uma informação para o jornal que quer privatizar até o ar que respiramos: O Banestado foi arrematado pelo Itaú por 1 bilhão e 600 milhões de reais. No entanto, só de créditos tributários, amealhados no caixa do Banestado, havia 1,8 bilhão de reais. Mais ainda, para deixar ao Itaú apenas a parte saudável do Banestado, o Paraná foi obrigado a assumir o compromisso de compra e venda de títulos podres de Alagoas, Santa Catarina, Osasco e Guarulhos, que hoje somam perto de 1 bilhão de reais. E foi obrigado também a adquirir a Carteira com operações de difícil recebimento, com um “mico” de 1,7 bilhão de reais. Quer dizer, além do preço da privatização ter sido vil, o Banestado saiu de graça para o Itaú. São privatizações assim que caem no gosto do “Estadão” e de toda a “nomenklatura” que se locupletou da bandalheira patrocinada por Fernando I e Fernando II.

Como o “Estadão” faz jornalismo de uma mão só, suas páginas acolheram sempre tão-somente seu ponto de vista. Quando muito, como é de praxe de seus confrades, concedem meia frase ao “outro lado”, essa piedosa, hipócrita e cínica tolerância da mídia dos senhores. É o último acepipe, o último pirulito, antes da execução. A verdade dos fatos, primeira, incessante e incontornável busca do jornalismo, isso pouco importa a ele. Afinal, o mundo tem que ser moldado à sua visão. Despótica, excludente, impiedosa, desumana.


Benedito Pires Trindade
Secretário Especial de Imprensa
Governo do Paraná

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