22 novembro 2006

‘O poder do povo pobre’


Marilene Felinto

A frase acima foi colocada pelo meu sobrinho de 20 anos em sua página na Internet, ele que votou na candidatura Lula nos dois turnos das eleições. Posso dizer que estou politicamente realizada por ter, de algum modo, influenciado a formação de uma pessoa desta nova geração.O poder para o povo pobre. Mas este texto também se chama "Adoro Operário de Esquerda no Poder - O Retorno", em continuação a outro que escrevi aqui mesmo, em abril deste ano ("Adoro Ter Operário de Esquerda no Poder").

Adoro a reeleição do operário de esquerda - porque é como se tivessem reeleito Irene, minha tia predileta na infância, ela que também perdeu parte de um dedo da mão, ainda muito moça, operária do maquinário têxtil da Companhia de Tecidos Paulista, fábrica dos Lündgren, no município de Paulista, Pernambuco, nos idos dos anos 40-50.

Adoro: porque esta reeleição reabilita socialmente Irene, faz justiça ao sofrimento dela, que morreu alcoólatra e empregada doméstica de uma família da oligarquia pernambucana, num pequeno quarto de área de serviço, num desses condomínios de luxo da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Viva Irene! Viva Lula. E viva Evo - o Morales, o índio que subiu enfim ao poder na Bolívia.

A-do-ro, porque um operário de esquerda no poder (da genialidade política de Lula) esfrega na cara da classe dominante brasileira que a era da concentração de renda e terra, da desigualdade social vergonhosa e do monopólio da imprensa sobre a opinião pública está começando a acabar. Adoro - porque vai se extinguindo nos confins da Bahia a dinastia carlista (da raposa ACM e sua família) e a dinastia sarneysista no Maranhão, e a dinastia Jereissati no Ceará. Adoro! Porque o Nordeste, a região mais pobre do país e de onde eu vim, está mudando de cara política e social. A reeleição de Lula significa, especialmente no Nordeste, que é chegada a hora da reparação para aqueles que consumiram a existência em submissão, espoliados, roendo a humilhação, como dizia Graciliano Ramos.

Adoro a reeleição do operário de esquerda porque, principalmente aqui em São Paulo, um novo mandato de Lula significa livrar-se a cena pública, por uns tempos, de um certo lixo da classe política de direita: o PSDB de Alckrnin - o descerrador de fitas de inauguração de megalojas de luxo como a absurda Daslu, o ato mais espetacular de seu governo medíocre - e seu séqüito de seguidores fascistas e igualmente medíocres: um secretário de Segurança Pública com a truculência do tal Saulo de Castro ou um secretário de Educação como o escritor de livros de auto-ajuda Gabriel Chalita.

A-do-ro! Porque os leitores me mandam cartas dizendo que também adoram. Como este professor universitário baiano, comentando o fim do carlismo em seu Estado: "Cara Marilene. Este último artigo na Caros Amigos, 'Golpe Vem a Galope, na Margem de Erro da Mídia Podre', é doloroso e alentador ao mesmo tempo. A três dias das eleições (primeiro turno) aqui na Bahia, Ibopes, Voxes Populii e DatasFolhas anunciavam com o maior cinismo e com a pomposidade criminosa de sempre que o candidato de ACM, o semiditador Paulo Souto, ganharia no primeiro turno com 52 por cento dos votos, do candidato do PT, Jacques Wagner. A Folha anunciou isso no site UOL na quinta-feira que antecedeu as eleições, e a Rede Globo fez o mesmo no Jornal Nacional à noite, com a mais deslavada cara-de­-pau, que é costume antigo dos grupos comandados pelos Frias e pelos Marinhos. Na segunda-feira imediatamente pós-eleições, manchete aram como se nada tivesse acontecido, sem um mínimo de pudor democrático: 'Surpresa na Bahia: Jacques Wagner do PT Ganha no Primeiro Turno'. Como foi possível que a frieza dos números e a 'tecnologia de ponta', como gostam de vangloriar possuir, não detectaram essa mínirrevolução que aconteceu por aqui por essas terras? (...) Que (havia) semanas que o grupo carlista estava perdendo fôlego e já ferido de morte. É evidente que eles jamais iriam anunciar isso, pois ACM e Paulo Souto são sócios informais desses conglomerados de mídia. (...) Como se vê, a ditadura do pensamento único, que essas pesquisas ajudam a mascarar, não conseguiu deter o levante popular, essa mínirrrevolução que aconteceu por aqui (...)". Braulino Pereira de Santana, professor de lingüística de uma universidade estadual aqui na Bahia, a UESB.


DERROTA HISTÓRICA DA MÍDIA GRANDE

Pois é. O que dizer dessa fragorosa derrota da "grande" imprensa irresponsável, corrupta e mentirosa? A reeleição de Lula significou derrota histórica para a Rede Globo, a Rede Band, a rede isso e aquilo; para as revisto nas fascistas Veja, Época e similares; e para os jornalões manipuladores Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo e similares Brasil afora. Todo o massacre com fins à desestabilização da candidatura Lula foi em vão. O desserviço que esses meios de comunicação prestam ao país não surtiu efeito dessa vez sobre a maioria da população. Bom sinal dos tempos de alternativas de comunicação: do jornaleiro que vetou a venda da revista Veja em sua banca no Rio Grande do Sul aos blogs que divulgaram sem parar outras análises da conjuntura política nacional que não aquelas forjadas na mentira e na coação das redações dos jornalões e das revistonas, agora a informação começa a ter outros modos de chegar ao povo que não a via única dos "grandes" monopólios de mídia. A onda anti-Lula alimentada por essa corja que diz fazer jornalismo de informação e isenção foi um clássico tiro pela culatra. O povo não acredita nem lê a revista Veja. O povo não acredita na cara dos locutores do Jornal Nacional. O povo não compra os jornalões que forjam notícias.

Adoro a reeleição do operário de esquerda porque ela significa, inclusive, a possibilidade de criação de um Conselho Federal de Jornalismo, com participação ativa da sociedade, e que dê um basta ao abuso que se viu nessas eleições. Os bandidos da desinformação tentaram executar aqui o mesmo golpe midiático que os conglomerados da comunicação tentaram na Venezuela de Hugo Chávez. Mas, como dizia um manifesto que circulou pela Internet neste segundo turno, os tempos mudaram. "Nós, eleitores brasileiros, que assinamos este Manifesto por uma Mídia Democrática e Independente, queremos deixar bem claro aos meios de comunicação de massa, e aos forjadores de opiniões, que imaginam estar vivendo naquele Brasil em que os reis da imprensa eram os donos do país e o eleitorado era desdenhado como passiva massa de manobra, que os tempos mudaram. Exigimos respeito ao princípio da igualdade de condições (...). Exigimos, igualmente, que o ministério público eleitoral investigue e o TSE puna estas absolutamente claras intervenções da grande mídia no processo eleitoral e penalize devidamente, nos termos da legislação vigente, os seus responsáveis. Assim, expressamos nossa intenção de vir a fazer deste manifesto uma representação contra a 'utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em beneficio de candidato ou de partido político' pela (...) mídia brasileira (Art. 22, Lei Complementar nº 64/1990), que, na qualidade de concessões públicas e agentes na trama de uma sociedade democrática, não pode alvejar a igualdade de condições que rege um processo de eleições livres. (www.PetitionOnline.com/br1a2j304/)

É isto. "O poder para o povo pobre", e sob a vigilância constante da sociedade contra as ameaças e os desmandos dos reacionários da classe dominante. Viva Irene. Viva Lula.

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