09 novembro 2006

Prof. Delfim, cá entre nós, de rhabdovirus pra rabdovirus...[1]



“Ó gentis-homens, a vida é curta. Se vivemos, vivamos
para marchar sobre a cabeça dos reis.”

Shakespeare, Henrique IV.



Seguinte: eu sou ninguém. Em matéria de velhice, eu sou mais velha que a D. Danuza. OK. Eu não presto. O Samuel Weiner, se estivesse vivo e pudesse defender a própria memória, também me mandaria já-já prô tanque. Eu-não-pres-to.

Mas, cá entre nós, Prof. Delfim: Foi HORRÍVEL, um escândalo, uma pôca vergonha, o senhor, hoje, chamar o Prof. Emir Sader de “rabdovírus”. E nem é “rabdovirus” (corrija aí, nos seus arquivos); é rhabdovirus, com “h”, conhecido também como “The Pitbull's Curse”.

“Rhabdovirus” é o vírus que provoca a doença que os donos de pitbull dizem que não existe pq nenhuma doença existe, dizem eles, e “tudo depende da educação”. Bullshit! Nada depende “da educação”.

Tudo depende é dos professores

Tudo depende dos professores, os quais dependem de outros professores, os quais dependem de outros professores, os quais dependem de outros professores, o que nos levaria, por regressão infinita (se eu deixasse), à arapuca da petição de princípio, ou me obrigaria, como diz o Mino Carta, a “ascender aos sumérios”, o que eu não faço, mesmo, é porque eu não quero nem preciso fazer.

Tá aí, certo e provado, que nada, nada, nada depende “da educação” e tudo depende dos professores. É onde, afinal, fico, sim, furiosésima, horrorizada, indignada com o senhor, porque o senhor é professor.

E, data venia, professor que critique homem, mulher, animal, teoria ou partido ou professor ou mesmo um Marcola, que fosse; ou, pior, professor que critique o próprio José Serra em pessoa, valendo-se, para a sua crítica, de conceitos como “rhabdovirus”... não é professor que preste e nem, de fato, é pittbull que preste.

Porque professor que ensinasse como pittbull não seria nem professor pq, dentre outros motivos, NINGUÉM aprende nada ensinado por professor pittbull, operado por lógica de pittbull ou para demonstrar argumentos de pittbull ; e pittbull que se meta a falar de Sartre ou Marx sempre será, no máximo, um pittbull metido.

Eu acho que o Prof. Emir Sader fez bobagem, quando se pôs a chingar o senador Bornhausen. O Prof. Emir Sader foi ingênuo, ao pôr-se a xchingar aquele senador pittbull, porque é ingenuidade ou tolice provocar senador pittbull.

Acho que, em vez de pôr-se a xchingar senador pittbull, o Prof. Emir Sader (ou eu, o algum partido político, alguém, qualquer um de nós, da parte civilizada do Brasil) deveria/deveríamos, imediatamente, ter processado o senador Bornhausen, por crime de discriminação racial (o que o Prof. Emir Sader bem ensinou que fizéssemos, mas nem ele fez nem nós fizemos).

Processar o senador Bornhausen, sim, seria ótimo (e eficaz e eficiente) pra acabááááááá coa raça do senador Bornhausen para sempre. Não fizemos isso. E erramos brabamente por não o fazer. Aprendemos.

Se o Prof. Emir Sader (ou algum brasileiro civilizado, ou algum partido político maduro e civilizado) tivesse processado o senador Bornhausen, passaria a caber ao senador Bornhausen demonstrar, em juízo, que, ao falar de “acabááááááááaáá coaquela raça”, o senador Bornhausen referia-se ex-clu-si-va-men-te a uma raça de rhabdovirus (por exemplo), ou de alguma raça de praga do café.

Assim, processado, o senador Bornhausen estaria na posição ridícula (mas rigorosamente conforme os cânones do bom realismo socialista e histórico, nesse caso) de um rhabdovirus que tivesse de explicar ao doente que ele, rhabdovirus, também tem “direitos civis”. Seria lindo, o efeito cenográfico democratizatório seria engraçadíssimo... e salvar-se-iam todos os justos. E os errados se ferrariam lindo, lindo.

O Prof. Emir Sader contudo deixou-se falar antes de pensar; e falou com uma indignação talvez excessiva, mas digna, decente, democratizatória e de democratização. Uma boa e bela indignação progressista – meio pirada, mas igualzinha à minha indignação. Com um pouco de excesso esquerdista, sim, mas...

NEM TENTE, o senhor, Prof. Delfim, por favor, convencer-me de que o senhor sentiu-se agredido pelo viés esquerdista que há na indignação palavrosa do Prof. Emir Sader (e minha), ‘porque’ o senhor preferiria melhor compromisso revolucionário, digamos... leninista ou maoísta.

Aí, por favor, desista, porque não cola mesmo, nem que o senhor arregimente um exército inteiro de rhabdovirus anti-história contra mim, contra a sua história e contra os fatos. Não cola.

Mas... e o senhor?! O que fez o senhor, Prof. Delfim, hoje, em jornal QUE EU ASSINO e pelo qual eu paguei?!

O senhor, data venia, também escreveu como pittbull. O senhor, hoje, também deu um chilique! MUITO PIOR, o senhor, de fato, do que o Prof. Emir Sader, pq o Prof. Emir Sader, pelo menos, tentou defender a MINHA RAÇA!

Mas... E o senhor?! O senhor meteu-se a falar de Sartre, como se Sartre fosse uma espécie de Brigite Bardot vesga?! Coisa mais rhabdovirótica, sô!

Em que lugar, nesse ranking de filosofias digno dos saberes filosófico-literários de uma D. Danuza estaria, digamos... sei lá... Madame de Staël (1766-1817), por exemplo?! (Verifique, por favor, e me informe, por favor, prôs MEUS arquivos, por favor!).

Pois eu aposto o meu laptop que, se Mme. de Staël estiver lá no tal de seu ranking, ela estará ‘mal posicionada’. E, se lá estiver, estará pelos romances chatíssimos que escreveu, e não estará por seus muitos feitos econômicos e:

a) históricos: ela foi amante de Byron e de Benjamin Constant ao mesmo tempo, no mesmo Versailles! Perfeito management! Isso é que é administração científica!;

b) políticos: Mme. de Staël era filha do Delfim Netto do rei de então [um tal de Necker, banqueiro suíço, riquíssimo]... Ela era filha do Ministro das Finanças do rei, ministrante no dia da queda da Bastilha... E um homem que, de tão rico e tão banqueiro e tão competente que era, o tal ministro, só morreu mais de 40 anos DEPOIS de ele ser demitido (o ministro) e decapitado (o rei); e

c) sexuais: Napoleão Bonaparte era doido por ela... e caçou-a pela Europa inteirinha... até a Rússia (no inverno)! Napoleão dizia que a odiava, mas ela dizia que Napoleão a amava, pq, “não fosse por amor, que homem caçaria uma pobre mulher indefesa, pelas estepes russas e pelos salons franceses, como perfeito doido, fizesse frio fizesse calor, por vinte anos?”.

Quer dizer então, Prof. Delfim, que, nos seus ‘indicadores econômicos’... só por Mme. de Staël não estar bem posicionada em algum ranking... isso quererá dizer que Mme. de Staël não conta?! Pergunte a Napoleão!

Quero dizer: que porcaria de ranking o senhor usa, que lhe teria ‘ensinado’ que Sartre ‘não conta’?!

Aviso, pq sou rhabdovirus, mas não sou burra: se o seu ranking lhe ensina que Sartre ‘não conta’... TROQUE IMEDIATAMENTE DE RANKING. Teje avisado: Sartre conta.

E Marx, então, não contaria?! Não pode haver dúvidas de que Marx conta, dos Grundisse à última linha da nota da funerária que cobrou pra enterrá-lo. Conta e sempre contou, sem parar um dia, até hoje.

Se o senhor tivesse superado Marx, o senhor não se estaria servindo justamente de Marx... pra ver, hoje, se o senhor acáááááááááááába coa minha raça. Tá provado.

Qualquer tentativa de dizer diferente disso, é raciocinar como rhabdovirus... O que só se explica, em professores aspirantes a algum rankeamento, por algum desejo, ambição ou necessidade de impressionar leitores tolos ou editores tolos de jornal tolo, ou, então... explica-se exclusivamente, pelo desejo de impressionar, provavelmente, o senador Bornhausen (não rankeado).

Professores como o senhor, Prof. Delfim, intelectuais que deveriam saber dar-se ao respeito, mas militam ainda em jornais atrasistas, consistiram para Marx, no que ele chamou de minorum gentium[2] (em inglês, “Gods of a lesser stock”, ou, em bom português, “celebridades de pequena estatura”).

A verdade é Marx sabe MUITO de/sobre professores como o senhor, desde muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito antes de o senhor ter sequer ouvido falar em Marx, de Brigite Bardot, de Sartre, de Schwarzzeneger, de Bornhausens, de rhabdvirus e de pittbulls em geral, inclusive Bush.

Tome tento, Prof. Delfim! Acorde!

O que significa, operando numa amostra como essa aí, acima, o senhor – e professor de economia! – selecionar, pra espinafrar... justamente Marx e Sartre?!

Meu gato já respondeu, antes de o senhor responder: significa que, desse plantel, Marx e Sartre são, ainda, em novembro de 2006, ou os dois únicos nomes que o senhor não conhece ou, então, são os dois únicos nomes que o senhor ainda teme.

O Brasil é mais do que o senhor conhece, sabe ou pensa que sabe, Prof. Delfim. Acalme-se. Não tema a democracia. Todos os senadores Borhnausens têm de aprender a ouvir respostas. E nós, os pobres, temos de aprender a processar todos os senadores Bornhausens e todos os jornalões que desrespeitem a democracia e o nosso voto democrático.

Assim, com o tempo, todos nos civilizaremos, como nação, sem chiliques de professor e sem golpismos de jornalões. É assim, sem pittbullismos de tipo algum, que o Brasil avançará. Já estamos avançando. Acalme-se. Deixe o hômi trabalhá.

Viva o Brasil! LULA É MUITOS!

NOTAS

[1] Sobre DELFIM NETTO, “Infecção de rabdovirus”, Folha de S.Paulo, 8/11/2006, na edição impressa e na internet aqui

[2] MARX, K. “Situação nos EUA”, publicado em jornal, em Londres dia 4/11/1862, e em italiano dia 10/11/1862). “È significativo notare che nell'anno in corso l'Europa ha fornito agli Stati Uniti un contingente di emigranti di circa centomila anime, e che metà di questi emigranti proviene dall'Irlanda e dalla Gran Bretagna. Al recente congresso della "Association for the Advancement of Science" tenuto a Cambridge, l'economista inglese Merivale si è sentito in dovere di ricordare ai suoi concittadini un fatto che il Times, il Saturday Review, il Morning Post e il Morning Herald, per non parlare degli dei minorum gentium, hanno completamente ignorato, e che forse l'Inghilterra stessa vorrebbe dimenticare: e cioè che la maggior parte della popolazione in eccesso in Inghilterra trova una nuova patria negli Stati Uniti.” (Na Internet, em Marxists.org, aqui)


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