07 novembro 2006

Carlos Dorneles* critica mídia nacional


Francine de Souza e Svendla Chaves, de Porto Alegre


O jornalista Carlos Dorneles participou na noite de domingo (05/11/06) da quarta etapa do Ciclo de Debates Jornalismo e Literatura, promovido pela RBS e pela Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUC-RS, em parceria com a Feira do Livro de Porto Alegre. Com mediação do diretor de redação do jornal Zero Hora, Marcelo Rech, o debate contou com a participação do também jornalista Caco Barcellos.

O tema programado para a noite era livro-reportagem, porém Dorneles desviou a discussão e fez duras críticas à mídia nacional. A posição do repórter quanto à imprensa (não apenas a escrita, e sim a todos os meios de comunicação) já podia ser reconhecida em seu livro Deus é inocente, a imprensa não. A principal diferença é que na obra são abordados os meios de comunicação internacionais; durante a conversa em Porto Alegre, as críticas ficaram centradas na imprensa brasileira.

“Hoje o jornalismo brasileiro não passa de um jornalismo burocrático que serve unicamente ao objetivo de grandes empresas”, afirmou Carlos Dorneles no início de sua fala, logo após brincar dizendo que é conhecido por gostar de falar mal da imprensa. Também criticou as elites nacionais, que segundo ele nunca são envolvidas em escândalos. "Quando as investigações de alguma reportagem chegam à elite, param imediatamente", disse.

O repórter acrescentou, diante de um público constituído basicamente por estudantes de jornalismo e profissionais, que “qualquer movimento de organizações que busquem a democratização da comunicação é expurgada pelos donos de veículos, que levantam a bandeira da liberdade de imprensa, mas na verdade querem preservar a liberdade dos seus negócios”. O recado deixado aos jornalistas e estudantes por Dorneles foi que “informação é produto, mercadoria e rende dinheiro”.

Política

A cobertura das últimas eleições e a visível partidarização da mídia foi o estopim para a avaliação dos meios de comunicação brasileiros. “Imaginem se daqui a algumas décadas pegarem os jornais destas eleições para desvendar a sociedade em que vivemos”, ironizou Dorneles.

Em um breve comentário a respeito da matéria produzida pela revista Carta Capital intitulada "Dossiê da Mídia" (nº 416, de 25/10), o jornalista disse acreditar que “na verdade a matéria tenha mostrado apenas uma ‘poeirinha’ do que realmente aconteceu”. E finalizou o assunto lembrando que os veículos adoram promover a abertura de sigilos telefônicos e bancários de políticos: "Seria bom se os ‘barões da imprensa’ também tivessem suas vidas invadidas e investigadas".


* Carlos Dorneles - Jornalista, é repórter da TV Globo desde 1983, após trabalhar na Folha da Manhã, no Zero Hora e na RBS-TV, em Porto Alegre. Foi correspondente internacional em Londres (1988-1990) e Nova Iorque (1991-1992). Autor do livro, Deus é inocente - a imprensa não, lançado pela Editora Globo.

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