Imprensa, eleições e credibilidade
Por Franzé Ribeiro
Discordo profundamente daqueles que acham que a imprensa está acima do bem e do mal, que não pode ser criticada ou questionada em suas ações. A cobertura exagerada, o enfoque desequilibrado e parcialmente dirigido tem grande poder destrutivo de reputações e imagens que, muitas vezes, precisam ser demoradamente reconstruídas. A objetividade na apreensão do real e a imparcialidade, embora teoricamente utópicos, devem continuar sendo a bússola do jornalismo. Avalio que a grande imprensa passou ao largo desses princípios durante o processo eleitoral, optando pela cobertura tendenciosa tanto na forma quanto no conteúdo.
Na semana que antecedeu o primeiro turno eleitoral, houve um massacre midiático em torno do dossiê tabajara. O jornal televisivo de maior audiência dedicou de 30% a 50% do seu tempo à cobertura do episódio, sem um mínimo de isenção. Houve uma clara parcialidade com o objetivo de gerar o 2º turno. Essa opção pôde ser verificada nos textos, nas omissões, nas entrevistas, nas imagens, na edição e no encadeamento de matérias que foram repetidas à exaustão. No dia 27/9, diante da ausência de fatos novos, a emissora chegou a veicular um resumo geral de tudo que já transmitira, repetindo esquemas e entrevistas da oposição difundidas nas edições anteriores. Havia nítida intenção de formar e consolidar opinião pela repetição da mensagem – uma característica inerente à propaganda.
As circunstâncias que nortearam a divulgação das fotos do dinheiro entraram para a história do mau jornalismo e devem ser bem discutidas pela categoria, estudantes e professores das universidades de comunicação. A imprensa, com raríssimas exceções, agarrou-se ao fato como se fosse a última oportunidade para reduzir as intenções de voto no candidato Lula. O Jornal Nacional do dia 29/9 esticou sua cobertura o mais que pôde, deixando de fora a divulgação relevante do desastre aéreo que matou 154 pessoas, na Serra do Cachimbo. O jornal Folha de S.Paulo levou para a primeira página do dia 30/9 (véspera da eleição) todo o peso de suas intenções editoriais. O tratamento dado permite a vinculação direta do candidato Lula ao dinheiro do dossiê, numa evidente intenção de influenciar o eleitor. Mas, pior ainda, foi a mídia compactuar com o delegado da PF nos seus interesses políticos em divulgar as fotos, utilizando-se de uma farsa. Um exercício de cumplicidade com a fonte que rendeu omissão da mídia e até mesmo a publicação de informações mentirosas – o que representou um estelionato jornalístico.
A imprensa tem a dimensão exata de suas ações. Sabe que tem o poder de colocar na agenda (teoria da Agenda Setting) os temas que podem desequilibrar o pleito, em favor de uma opção eleitoral. Ao expor o tema da corrupção, inflado e exageradamente tratado, a imprensa fez sua opção anti-Lula. Conseguiu levar a eleição para o segundo turno. Mas o eleitor refletiu, pesou, mediu e votou com sua consciência, elegendo quem queria – Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos motivos pode estar num fenômeno muito recente. Com as novas tecnologias, o público está deixando de ser refém de uma única mídia. Aprendeu ou está aprendendo a buscar outras fontes.
Por Franzé Ribeiro
Discordo profundamente daqueles que acham que a imprensa está acima do bem e do mal, que não pode ser criticada ou questionada em suas ações. A cobertura exagerada, o enfoque desequilibrado e parcialmente dirigido tem grande poder destrutivo de reputações e imagens que, muitas vezes, precisam ser demoradamente reconstruídas. A objetividade na apreensão do real e a imparcialidade, embora teoricamente utópicos, devem continuar sendo a bússola do jornalismo. Avalio que a grande imprensa passou ao largo desses princípios durante o processo eleitoral, optando pela cobertura tendenciosa tanto na forma quanto no conteúdo.
Na semana que antecedeu o primeiro turno eleitoral, houve um massacre midiático em torno do dossiê tabajara. O jornal televisivo de maior audiência dedicou de 30% a 50% do seu tempo à cobertura do episódio, sem um mínimo de isenção. Houve uma clara parcialidade com o objetivo de gerar o 2º turno. Essa opção pôde ser verificada nos textos, nas omissões, nas entrevistas, nas imagens, na edição e no encadeamento de matérias que foram repetidas à exaustão. No dia 27/9, diante da ausência de fatos novos, a emissora chegou a veicular um resumo geral de tudo que já transmitira, repetindo esquemas e entrevistas da oposição difundidas nas edições anteriores. Havia nítida intenção de formar e consolidar opinião pela repetição da mensagem – uma característica inerente à propaganda.
As circunstâncias que nortearam a divulgação das fotos do dinheiro entraram para a história do mau jornalismo e devem ser bem discutidas pela categoria, estudantes e professores das universidades de comunicação. A imprensa, com raríssimas exceções, agarrou-se ao fato como se fosse a última oportunidade para reduzir as intenções de voto no candidato Lula. O Jornal Nacional do dia 29/9 esticou sua cobertura o mais que pôde, deixando de fora a divulgação relevante do desastre aéreo que matou 154 pessoas, na Serra do Cachimbo. O jornal Folha de S.Paulo levou para a primeira página do dia 30/9 (véspera da eleição) todo o peso de suas intenções editoriais. O tratamento dado permite a vinculação direta do candidato Lula ao dinheiro do dossiê, numa evidente intenção de influenciar o eleitor. Mas, pior ainda, foi a mídia compactuar com o delegado da PF nos seus interesses políticos em divulgar as fotos, utilizando-se de uma farsa. Um exercício de cumplicidade com a fonte que rendeu omissão da mídia e até mesmo a publicação de informações mentirosas – o que representou um estelionato jornalístico.
A imprensa tem a dimensão exata de suas ações. Sabe que tem o poder de colocar na agenda (teoria da Agenda Setting) os temas que podem desequilibrar o pleito, em favor de uma opção eleitoral. Ao expor o tema da corrupção, inflado e exageradamente tratado, a imprensa fez sua opção anti-Lula. Conseguiu levar a eleição para o segundo turno. Mas o eleitor refletiu, pesou, mediu e votou com sua consciência, elegendo quem queria – Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos motivos pode estar num fenômeno muito recente. Com as novas tecnologias, o público está deixando de ser refém de uma única mídia. Aprendeu ou está aprendendo a buscar outras fontes.
As pesquisas, em breve, deverão registrar que a imprensa continua influenciando muito, mas perdeu credibilidade na campanha eleitoral.
Franzé Ribeiro é jornalista e especialista em Gerência de Marketing
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