02 novembro 2006

A IMPRENSA NÃO SABE SER CRITICADA


Por Mair Pena neto

Curioso o comportamento da mídia brasileira. Ela tudo pode, mas que ninguém a toque. Agora, arma-se um circo por conta de militantes que hostilizaram alguns jornalistas e pelas críticas feitas a sua conduta durante as eleições pelo presidente do PT, Marco Aurélio Garcia. Em relação ao depoimento de repórteres da Veja à Polícia Federal, é precoce tecer comentários, já que, até agora, é a palavra de um contra o outro, sem a certeza de quem está com a verdade.

Longe de mim defender atitudes truculentas de militantes, embora compreensíveis. Não é a primeira vez que a população reage contra a imprensa. Após o suicídio de Vargas, alguns jornais foram empastelados pela identificação que tinham com a campanha que levou o presidente ao ato extremo de tirar a própria vida. Mais recentemente, ficou famoso o slogan "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo", gritado por manifestantes inconformados com o que consideravam manipulação da vida política brasileira pela emissora.

O que pretendo discutir é a dificuldade da imprensa brasileira em lidar com a crítica e, questão maior, o temor que tem da menção à democratização dos meios de comunicação. Em um período de maior controle social dos poderes, a mídia brasileira parece pouco preparada a qualquer fiscalização.

A crítica de Marco Aurélio Garcia, e ele não foi o único, ao comportamento da imprensa durante as eleições não tem nada de incitador e violento. O que Garcia pediu foi uma reflexão da mídia sobre seu papel e comportamento. Uma atitude civilizada e democrática. A imprensa saiu chamuscada destas eleições no mínimo por ter servido a interesses eleitorais e ter endossado as mentiras do delegado da Polícia Federal que entregou a jornalistas as fotos do dinheiro apreendido com petistas.

Mais uma vez esclareço não ser contra a divulgação das fotos, material jornalístico, desde que não corroborada a versão criada pelo delegado e de conhecimento dos repórteres e seus editores. No episódio, a imprensa foi pautada pelo interesse do delegado e leitores e espectadores enganados pelo que supunham furo jornalístico.

As primeiras reações da mídia, no entanto, levam a crer que o debate instado pela sociedade e que se mostra urgente até pelas atitudes extremas de que jornalistas têm sido vítimas não é muito bem-vindo. Jornais e revistas já reagiram com pedras na mão utilizando a tática de colocar no mesmo saco atitudes isoladas de militantes com críticas substanciais.

Entre elas, destaca-se a do deputado eleito Ciro Gomes, que chamou a atenção para a necessidade da democratização dos meios de comunicação. Esta é uma discussão antiga que se reforça quando os que concentram a mídia brasileira são questionados pela sociedade, como nessa eleição.

Ciro defendeu o incentivo aos meios de comunicação alternativos, o fortalecimento das cooperativas de jornalistas, as produções regionais, critérios de concessão de canais e financiamento para isso. Matéria de interesse de todo jornalista, mas do qual os donos dos meios de comunicação querem distância.

O Globo, em sua edição de quarta-feira, primeiro de novembro, disse que Ciro defendeu o incentivo financeiro para veículos que apóiem o governo, o que não apareceu em nenhum momento da entrevista do deputado ao site Conversa Afiada nem no trecho transcrito pelo jornal para justificar sua assertiva.

Como bem disse Ciro na entrevista, "quando a gente discute democratização dos meios de comunicação, os que têm o monopólio disso vão sempre inventar que isso é autoritário, vão sempre desqualificar que isso é controle". E o pior, muitas vezes com apoio dos jornalistas.




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