02 novembro 2006

O day after da imprensa


por Eduardo Guimarães

Não passou uma semana da eleição presidencial e o que já se pode concluir é que a imprensa parece não pretender alterar um só milímetro de seu comportamento. Em vista disso, faz-se necessário analisarmos o que a move, agora que fracassou em impedir a reeleição de Lula, e quais os primeiros movimentos que fez e quais os que parece previsível que fará.

Primeiro, precisamos pontificar que é inexplicável a continuidade do bombardeamento midiático contra o governo. A perda de credibilidade do jornalismo brasileiro, que decorreu da campanha que este moveu contra a reeleição de Lula, já ganhou o mundo. Para que se tenha uma idéia da extensão da desmoralização da imprensa brasileira, reproduzo notícia veiculada recentemente pelo blog Toda Mídia, do jornalista Nelson de Sá, dando conta de matéria sobre o processo eleitoral brasileiro publicada pelo Wall Street Journal:

"A guerra de classes (e regiões, e cores)

A "guerra de classes" no Brasil foi parar na primeira página do "Wall Street Journal", em longa reportagem dos correspondentes Matt Mofett e Geraldo Samor sobre a "grande divisão cultural entre Norte e Sul", entre ricos e pobres e entre os brasileiros de pele branca e "mais escura".

A guerra é exemplificada na "briga de bar" que arrancou o dedo de uma petista no Rio, nos e-mails anônimos que defendem a divisão do Brasil entre "nós" e "eles" (imagem acima, reproduzida com destaque pelo "WSJ" de um dos e-mails de anônimos) e no engajamento da mídia, com o caso da revista "Veja" e a retórica do preconceito. Jorge Bornhausen também é lembrado.

O "ambiente politicamente carregado" da campanha presidencial mostrou "atritos profundos entre classes sociais e regiões", com "a imagem que o Brasil tem de si mesmo como uma 'democracia racial' supertolerante sofrendo um rude teste de realidade", finalmente.

_ Mr. da Silva é o amplo favorito dos eleitores no Nordeste árido, onde nasceu e onde as pessoas são mais pobres e de pele mais escura que as no Sul. O Sul, com as cidades mais glomourosas do país e seus centros de mídia, tem sido bem mais frio com ele.

Escrito por Nelson de Sá às 10h30"

Como se vê, a imprensa brasileira já está chegando à imagem da venezuelana, que o mundo inteiro já reconhece como exemplo de como não se deve fazer jornalismo. Em vista desse quadro, a pergunta que surge é: Por que, agora que fracassou a estratégia midiático-oposicionista de impedir a reeleição de Lula e de reconduzir o PSDB e o PFL ao poder, seu furor não arrefeceu?

O blog do jornalista Luis Nassif, por sua vez, dá uma pista. Vale lembrar, inclusive, que esse jornalista pertence ao "sistema", ou seja, até há pouco tempo foi membro - nada mais, nada menos - do Conselho Editorial do jornal Folha de São Paulo. O que li em seu blog foi a hipótese de que a imprensa se deixaria levar pelo ressentimento e manteria Lula sob fogo cerrado. Aliás, devido à simbiose entre os meios de comunicação e a oposição tucano-pefelista, a conduta da mídia emula a postura do PFL, que apesar de ter sofrido estrondosa derrota eleitoral e de estar completamente desmoralizado, persiste na tática do ódio e do ressentimento. Imprensa e PFL, tudo a ver um com o outro, pelo visto.

Então agora é a vez de analisar os primeiros movimentos da imprensa. Seguindo a tática que vem mantendo já a bastante tempo de transformar qualquer notícia desfavorável ao governo em grande escândalo, os meios de comunicação estão fazendo uma cobertura absolutamente histérica da crise dos controladores de vôo. O Jornal Nacional desta quarta-feira, por exemplo, gastou no mínimo um terço de sua edição batendo na tecla. E, para variar, em seguida colocou Lula na telinha para reforçar ainda mais a ligação do caso com a Presidência da República.

O noticiário sobre o dossiê, por sua vez, segue na mesma toada. As menções constantes ao PT, aos "petistas aloprados" e a Lula contrastam com o silêncio jornalístico sobre, por exemplo, o sujeito que foi contratado por uma tucana para acusar petistas falsamente ou com a omissão do fato de que foi uma tucana que o contratou. O Jornal Nacional deste mesmo dia, por exemplo, optou pela omissão...

O que, então, a imprensa fará daqui para frente e por que fará? Bem, primeiro acho que ela mantém ainda esperança num processo de impeachment de Lula. Em segundo lugar, a continuidade do ataque ao presidente parece-me objetivar desgastá-lo politicamente, mesmo que não venha a existir possibilidade de impeachment. E aí tudo se resume, pura e simplesmente, a ressentimento e desejo de vingança. E também ao interesse da mídia de provar que ainda é capaz, sim, de destruir políticos. Trata-se, no fim das contas, de mero jogo de poder. A Imprensa perdeu muito poder e pensa recuperá-lo inviabilizando o governo Lula.

Como se vê, meus amigos, ainda temos muito trabalho pela frente. Se a imprensa não quer pôr fim às suas vilanias, tampouco poremos fim ao combate que vimos dando a ela. E, nesse ponto, é bom lembrarmos que há pouco lhe impusemos a maior derrota que já sofreu na história recente deste país.

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