25 outubro 2006

ANÁLISE - PESQUISA DATAFOLHA

Por que Lula dispara?

Se nenhum cataclismo ocorrer até domingo, Lula baterá Alckmin por mais de 22 pontos de diferença. Por que um candidato dado como quase derrotado pela imprensa há 3 semanas subiu tão rapidamente? A resposta pode estar à esquerda...



Na noite de terça-feira (24), o Datafolha divulgou dois números definitivos: Lula 61%, Alckmin 39%. Com 22 pontos percentuais de diferença entre os candidatos, tendendo a aumentar, a peleja está decidida, caso céus e terras não se movam (no Brasil, tudo pode acontecer, inclusive nada, como lembrava o Barão de Itararé).

Colunistas da grande imprensa, que não esconderam suas preferências para com o candidato tucano, jogaram a toalha nos últimos dias. Até mesmo Arnaldo Jabor, o “rebelde a favor”, na definição do cartunista Jaguar, sentenciou: “Dia 29, Lula deverá ser reeleito. Favas contadas”.

Qual o mistério de um candidato que, mesmo tendo alcançado 48,7% no primeiro turno, era apresentado em 2 de outubro como virtual derrotado? Qual o segredo destas eleições, cuja grande surpresa foi não haver surpresas? Cuja grande virada, como muitos esperavam, foi não ter havido virada alguma?

O terreno da política
Longos debates se seguirão ao 29 de outubro para se avaliar o ocorrido. Mas a mudança tática feita pelo candidato petista nas últimas semanas é digna de nota. A disputa realizada até 1º. de outubro, pautada pela marquetagem e por querelas para se saber se teríamos “choque de gestão” ou “choque de ética” mudou de patamar. Adentramos agora o sacrossanto terreno da política, o que é uma bênção para o país.

Lula conseguiu mudar a lógica do moralismo duvidoso de Geraldo Alckmin – o mesmo que bloqueou 69 CPIs na Assembléia Legislativa de São Paulo – através do questionamento das privatizações da era tucana. Ao invés do campeonato para ver quem é mais ladrão, algo de responsabilidade do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça -, tivemos o início de um enfrentamento sobre concepções de Estado e da esfera pública. Não é pouco, não é pouco!

Tudo indica que Lula cresceu por mover-se para a esquerda, por colocar mais claramente que não tentará esmagar aspirações justas dos países vizinhos, como a Bolívia, por declarar não baixar a cabeça para os Estados Unidos e por se colocar ao lado dos que lutam por mais Justiça. Pode ser que o segundo mandato não materialize estas premissas, caso não haja muita pressão a partir de baixo. Mas elas estão plasmadas na consciência popular.

Lula cresce entre os eleitores de Heloísa Helena, entre os que desejam um governo melhor que o atual. E Alckmin cai por aparecer como um produto das elites endinheiradas.

O corte de classe indicado pelas pesquisas é algo inédito na cena brasileira. É bom Lula olhar com carinho para isso. Resta saber se ele estará à altura desse desafio num possível segundo mandato.

Repetindo: se nenhum cataclismo acontecer até domingo...

Fonte: Carta Maior

Nenhum comentário: