22 outubro 2006

Eu pago à Folha de S.Paulo, pra receber serviços jornalísticos! Eu NÃO QUERO receber jornalismo de manipulação do leitor-assinante-anunciante!


Sobre ELIANE CANTANHEDE, "O certo e o duvidoso", Folha de S.Paulo, 22/10/2006, p. 2 e na internet, aqui.

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D. Eliane,

Achei muuuuuuuuuuuuuuuuuito arriscado -- de fato, foi temeridade até meio burra, me desculpe a franqueza --, a senhora, hoje, chamar a atenção para a oposição semântica que há entre "certo" e "duvidoso".

A senhora praticamente confessa, na coluna hoje, que a senhora opera na outra oposição semântica de propaganda que há, também, aí, igualmente visível: a oposição semântica entre "certo" e "errado". (Eu sou lingüista por formação e democrática por decisão pessoal: eu SEI VER OS DOIS LADOS DE TUDO!)

Foi temeridade MUITO BURRA a senhora chamar a atenção para uma dessas oposições semânticas, porque, assim, a senhora chamou a MINHA atenção para a OUTRA oposição semântica.
Foi burrice e temeridade (e golpe e tentativa de manipular a minha opinião de leitor-eleitor) a senhora chamar a atenção para segunda oposição semântica -- entre "certo" e "errado" --, porque essa segunda oposição é, precisamente, a oposição sobre a qual se construíram VÁRIOS spots da propaganda pró-tucanaria, exibida pela televisão, e propaganda da qual o seu marido marketeiro é um dos operadores pagos.

Se eu precisasse de mais provas, hoje a senhora deu-me prova cabal: o maridão pensa... a senhora coluneia! Que pôca vergonha! Estou furiosésima e muito indignada, como eleitora e como consumidora.

QUE NOTÍCIA haveria, além do mais, a ser comentada em coluna de jornal pelo qual EU PAGO, e que publique loucura semelhante a "Agora é Gilberto Carvalho, seu secretário particular, "adivinhando" que Lorenzetti é quem sabia do dossiê."?!

Não há notícia alguma, aí, D. Eliane! Aí aconteceu, apenas, que o cachorro mordeu a democracia e o jornalismo: notícia ZERO e jornalismo ZERO.

Quem, diabo, lhe paga para que a senhora semeie na cabeça de seus leitores, uma falsidade lógica semelhante a "se X telefonou para Y... é 'porque' X sabia de tudo"?!

O tal de Lorenzetti era exatamente o homem pra quem até a senhora telefonaria, se a senhora fosse, pelo menos, jornalista, e quisesse informar-se sobre FATOS relacionados a dossiês. Ou não?! A senhora telefonaria pra quem, em busca de fatos e de verdade fatual?! Prô seu patrão? Prô seu marido?!

Até eu, se conhecesse os personagens, e eu fosse o Gilberto Carvalho, telefonaria exatamente para esse tal de Lorenzetti. Isso NÃO IMPLICA que eu (ou o Gilberto Carvalho) 'soubesse' de coisa alguma.

O telefonema de Gilberto Carvalho para o tal de Lorenzetti DEMONSTRA, exatamente, o contrário do que a senhora escreveu! A senhora 'concluiu' para CALUNIAR! A senhora não concluiu para INFORMAR!

ACORDE, D. Eliane, que bandeira pôca é burrice! Se o Gilberto Carvalho soubesse 'de tudo', ou se houvesse alguma intenção suja no telefonema que Gilberto Carvalho fez... o Gilberto Carvalho NUNCA telefonaria de telefone rastreável para telefone rastreável.

É erro estratégico MUITO GRAVE pressupor sempre a própria esperteza e pressupor sempre a burrice dos outros. Até o PT já aprendeu isso. A senhora ainda não sacô?!

EM TODOS OS CASOS, a diferença IMPORTANTE a favor do Gilberto de Carvalho -- e justamente por ele ter telefonado -- sempre seria a intenção de colher melhor informação... antes de o Gilberto Carvalho pôr-se a espalhar futricas, como a senhora faz, hoje.

Por mim, hoje, a senhora poderia ser presa por prática de jornalismo enganoso, confesso e banderoso-autista (e provavelmente MUITO burro, também).

Quem me dera que esse, precisamente -- a notícia de que o Brasil começou a julgar, condenar e prender jornalistas mal-intencionados e pagos por candidatos e campanhas eleitorais, mas vendido aos consumidores como se fosse serviço jornalístico -- fosse 'o escândalo' que se lesse nos jornais, amanhã ou depois! Quem me dera!

A propósito de sua coluna hoje, lembrei de um parágrafo do Nelson Werneck Sodré [1911-1999] in História da Imprensa no Brasil, Rio: Mauad, 1999, “Introdução”, ainda mais verdadeiro em 2006, do que quando foi escrito:

"A grande imprensa brasileira opera, na fase atual, uma tarefa que nunca antes desempenhou: a de deformar a realidade, ou a de escondê-la. (...) Tais jornais perderam aquilo que se conhece como credibilidade, o que eles informam não merece confiança. O leitor é enganado, não é informado. Existe profundo divórcio entre o que o público pensa e acredita e necessita e aquilo que a grande imprensa veicula. A alienação dessa imprensa é total. Essa imprensa não é, sequer, moderna."

GRITAR E ESCREVER AOS QUATRO VENTOS!

A pergunta que, agora, passarei a gritar e escrever aos quatro ventos (até para o IDEC-Instituto de Defesa do Consumidor), o mais que eu puder, é a seguinte:
-- POR QUE, diabos, os leitores da Folha de S.Paulo PAGAMOS, para receber serviços de jornalismo... se só recebemos jornalismo de engambelação do consumidor-leitor e eleitor?! Até quando?!

Caia Fittipaldi
Blogosfera Lulista

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