27 outubro 2006

O que faz o empregado da Caixa?


Longa mas verdadeira
Tenho sido questionado por vários amigos ultimamente sobre minhas posições quanto à política e quanto ao meu voto para presidente. Resolvi escrever essa mensagem, que promete ser longa, não tem nenhuma pretensão de mudar a opinião de ninguém. Queria só que vocês, que são amigos de coração, entendessem minha posição. Vi, dentro da Caixa um processo de auto-destruição da empresa, nos oito anos do governo do PSDB, com o único intento de entregar à iniciativa privada duas coisas: o FGTS e as loterias.

Trabalhamos oito anos sob ameaça constante de demissão, vinculada ao atendimento de metas, digamos, absurdamente otimistas; nós, que ficamos na empresa, as cumprimos. O processo desastrado de terceirização tirou toda a inteligência da empresa, para que a contratássemos por preços três vezes maiores. Com o novo governo, algumas coisas mudaram, o clima na empresa melhorou, o ambiente de trabalho ficou muito mais agradável, passamos novamente a encarar a empresa como o resultado do nosso trabalho, e não mais como uma inimiga.

E vi a Caixa passar de um cenário de prejuízos históricos para um de lucros recorde. Nesse cenário, resolvi aceitar um convite que vinha recusando sistematicamente desde 1993, e vim para Brasília. Aqui, passei a ver a empresa de outro prisma, minhas decisões passaram a ter reflexos e conseqüências de uma amplitude que eu jamais poderia imaginar. Fiquei por um ano no comando da equipe responsável pelos sistemas de depósitos, aplicações e fundos da Caixa. Ali tomava diariamente decisões que, se erradas, afetariam negativamente pelo menos os 44 milhões de correntistas da Caixa.

Muitas dessas decisões eu tomava às 3h da manhã. Muito trabalho, sem dúvida, muitas jornadas de 16h diárias, finais de semana imperceptíveis, mas sempre com um propósito claro, com uma visão clara dos resultados do meu trabalho. Um dia, me aparece uma demanda maluca, referente ao pagamento de programas assistenciais, a ser executada num prazo impossível! Diante do desespero da equipe, meu inclusive, fizemos uma avaliação e decidimos aceitar o prazo imposto, muito mais para nos afirmarmos do que para ver realizado o delírio de alguém que passava o dia sentado em uma sala acarpetada de 40 metros quadrados, com vista para a esplanada dos ministérios e o lago Paranoá.

Sofremos, perdemos tempo precioso com nossas famílias, e atendemos o pedido. Naquela semana em que colocamos a coisa pra funcionar, passei de carro em frente a um outdoor que anunciava o tal programa, e o Yuri me perguntou " ...aí véi, era nisso aí que cê tava trabalhando? " . Respondi que sim, e me senti meio orgulhoso. Se não fosse pela minha turma, aquele anúncio não estaria ali. Passado um tempo, estava numa agência da Caixa pra fazer um depósito pra um cidadão que me vendera meu iBook, com duas senhoras do meu lado.

As duas estava ali esperando pra receber o Bolsa-Não-Sei-Qual e comentavam sobre o benefício. Uma delas disse que agora, tinha leite em casa todo dia. Eu sempre fui contra esses programas de benefícios, sempre achei que eram um paliativo imbecil, e que o verdadeiro problema ficava de fora. Porém, naquele momento entendi uma coisa: era um passo com resultado imediato em quem mais precisava. Era uma coisa que estava fazendo diferença. E então lembrei das jornadas de 16h, de ter trabalhado no natal e até as 22h30min de 31.12, de ter cancelado minhas férias, com um prejuízo financeiro e familiar considerável, para fazer aquilo acontecer.

Eu era, em parte, responsável pelo leite todo dia na casa daquela moça. Quem me conhece vai entender porque o caixa me perguntou se era gripe ou conjuntivite... A partir daí, comecei a prestar atenção nessas coisas, nessas notícias que mostravam que, de alguma forma, a parcela mais pobre da população estava sendo afetada pelos programas que eu tanto critiquei no passado. E vesti a camisa. Ainda me emociono quando vejo a filha da copeira que está na faculdade graças ao PROUNI, quando leio sobre os resultados dos alunos beneficiados pelos programas de cotas, quando leio que o nível de miseráveis no Brasil diminui em 19%, que as classes C e D passaram a merecer a atenção dos fabricantes de bens duráveis.

Esses resultados levaram o LULA a receber um prêmio da Appeal of Conscience, e nada indica que o PT tenha comprado a fundação. Não sou petista, tenho amigos que são, assim como tenho amigos que são PSDB ou PMDB. Procuro manter minhas amizades acima de posições ideológicas. Ainda assim me senti na obrigação de prestar contas a vocês. Pela primeira vez na vida vi ações de governo beneficiarem o extremo mais pobre da população. Os número estão aí, e são de fácil comprovação. O nível de desemprego é o mais baixo em muito tempo. O nível de reclamações da população com relação à renda é o mais baixo de todos os tempos. Tivemos um crescimento econômico ridículo, se comparados a outros países > " em desenvolvimento> " , mas nosso crescimento social é bem positivo.

São resultados que falam por si mesmos. Se compararmos com os resultados do governo anterior, nem falo... Estou convicto que reeleger Lula é o melhor para o Brasil. Não nego a corrupção que tem aparecido por aí, mas também não sou ingênuo a ponto de pensar que foi esse governo que a inventou, nem sou amnésico a ponto de esquecer tudo que foi denunciado e abafado pelo governo anterior. A corrupção está aí, e precisamos cobrar o combate a ela. Não consigo acreditar que voltar ao plano de privatizações, subjugação às grandes potências, ampliação da concentração de renda possa melhorar o Brasil. Vivi os oito anos do governo do PSDB e não gostaria de revivê-los. Como disse acima, vocês que receberam esta mensagem são os amigos que mais considero, e me sinto na obrigação de prestar contas disso tudo, para que entendam como estou vendo a situação. Mais uma vez, não tenho qualquer intenção de mudar a opinião de nenhum de vocês. Escrevo apenas porque é muito importante que, ainda que não concordem comigo, me entendam. Abração


PS.: fiquei bastante ofendido com uma declaração do Alkmin, comentando que os planos de financiamento habitacional tinham demorado tanto para sair porque os funcionários da Caixa estavam muito ocupados violando o sigilo bancário de pobres caseiros. Não. Estávamos muito ocupados desenvolvendo um novo sistema de loterias, por determinação do Ministério Público da União, para corrigir uma situação de gastos inaceitáveis, resultante de contratos firmados pelo governo anterior.
A notícia da internalização das loterias, hoje totalmente sob o controle da Caixa - situação inédita em todo mundo - não pode ser divulgada em função das eleições, pois podia ser considerada como arma de campanha. A propósito, foi o maior projeto em tecnologia Java-Websphere do mundo, e a equipe está de viagem marcada para apresentá-lo mundo afora. Mas aqui, ninguém pode saber...

Autor: Desconhecido (recebido por email)

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